terça-feira, 16 de dezembro de 2014

UM JOTA ENTRE OS JOTAS


É já sabido que o actual primeiro-ministro tem muita dificuldade em exprimir-se, em resultado talvez da sua prolongada estada na JSD e de por isso ter concluído os estudos fora do prazo normal. Sempre que fala de ciência experimenta naturais dificuldades. Não percebe praticamente nada do assunto (nem tem nenhum assessor bem informado para o socorrer) e improvisa umas frases desalinhadas. Nas duas transcrições de baixo do discurso de Passos Coelho, um ex Presidente dos Jotas, aos actuais Jotas, reunidos em congresso em Braga este fim de semana, para além da gramática infeliz ("é  infalível que o que não é devidamente auditado e avaliado,  dá asneira pela certa") há erros substanciais. Assim:

1) Não é verdade que só as instituições científicas "muito boas ou excelentes" terão financiamento estatal. As excepcionais e as boas também terão, segundo a FCT. Ou o primeiro-ministro desconhece o esquema de financiamento da FCT ou a FCT está a desobedecer às instruções do primeiro-ministro. 

2) Uma avaliação não é uma auditoria: os dois instrumentos têm finalidades e métodos completamente distintos. Quererá Passos Coelho fazer uma auditoria à ciência nacional? Muito bem, pode começar pela FCT, que tem mostrado comportamentos ilegais, incluindo a não divulgação atempada nos lugares de estilo dos seus contratos. Além disso a dita avaliação (para ele auditoria) não é universal pois não abrange, por exemplo, os Laboratórios de Estado.

3) A actuação do governo na área da ciência é precisamente o oposto de exemplar e, por isso, a avaliação que está a realizar tem sido sujeita a uma chuva incessante de críticas nacionais e internacionais. Será que Passos Coelho não leu a carta dos Reitores? Ou não lê jornais nem tem ninguém que os leia e lhe faça um resumo? Aparentemente, o seu ministro da Educação (da Ciência não há ministro) não o tem informado devidamente.

4) A ciência não tem que estar ao serviço das empresas. As empresas podem decerto retirar benefícios da ciência mas essa visão utilitarista da ciência não faz qualquer sentido nem aqui nem noutro lado. Nem aliás a referida "avaliação" levou isso em conta através de parâmetros justos e credíveis. Quanto à ciência dever estar ao serviço dos portugueses é uma afirmação correcta, mas seria ainda mais correcta se tivesse dito "ao serviço da humanidade". Os cientistas portugueses podem ajudar a resolver problemas específicos dos portugueses, mas acima de tudo o seu fito deve ser resolver problemas que a humanidade enfrenta. 

Enfim, tivemos apenas um Jota que, entusiasmado por estar entre os seus, nem reparou que estava a ser ouvido pelos portugueses.  As juventudes partidárias têm assegurado a lamentável perpetuação de uma classe política sem suficiente preparação intelectual  nem, o que é pior, sem o adequado sentido de Estado. E, sobre a regeneração dos partidos políticos, a começar pelas respectivas juventudes, o líder não disse uma única palavra.

VISÃO:

Braga, 14 dez (Lusa) - O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, avisou hoje que apenas as instituições de investigação científica classificadas como "muito boas ou excelentes" pela auditoria externa que está a ser realizada vão ter financiamento.
"Recorremos a peritos internacionais (...) para fazerem a avaliação externa das nossas instituições científicas e decidimos que aquelas que não forem muito boas ou excelentes terão apenas apoio para funcionamento e que só aquelas que forem muito boas ou excelentes terão mesmo financiamento", afirmou Pedro Passos Coelho em Braga, para encerrar o XXIII congresso da JSD.
O líder do PSD, que garantiu que nenhuma instituição está "acima" daquela auditoria, justificou a opção de financiar apenas as melhores instituições com a necessidade de ter "garantias" que o dinheiro disponível será utilizado para "produzir a melhor" investigação.

http://visao.sapo.pt/passos-coelho-avisa-que-so-investigacao-muito-boa-ou-excelente-sera-financiada=f804494#ixzz3M0pxWZmN


PÚBLICO:

Passos Coelho apontou a área da investigação científica com o exemplar (sic)  da visão do executivo para o país. “Estamos a conseguir aplicar melhor o nosso dinheiro e a avaliar melhor as instituições”, defendendo que a muito critica  (sic) avaliação internacional dos centros de investigação promovida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. “Não há sistemas infalíveis, mas é infalível que o que não é devidamente auditado e avaliado, (sic a vírgula) dá asneira pela certa”. O país precisa de “melhores garantias” de que o dinheiro do país vai ser aplicado para fazer melhor investigação, defendendo ainda que a ciência deve estar “ao serviço das empresas e dos portugueses”.http://www.publico.pt/politica/noticia/passos-volta-a-desafiar-ps-para-discutir-sustentabilidade-das-pensoes-antes-das-legislativas-1679386

(na imagem, Passos Coelho no seu tempo da JSD, quando combatia a "tecnocracia" de Cavaco Silva)

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