segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O PROBLEMA DO TEMPO


Meu artigo na última revista "Anselmo" da Anselmo Joalheiros:

O filósofo português Leonardo Coimbra contava esta história sobre um professor que queria definir o tempo como aquilo que fica depois de se ter tirado tudo: "Um velho professor de Mecânica começava as suas lições universitárias por convidar o curso a imaginar um comboio deslizando na linha, dizendo depois solene: 'suprimam o comboio, a paisagem, a linha, o solo, etc., o que fica?' E o curso, perplexo, debalde tratava de pensar o que ficaria. Depois de uma pausa misteriosa, era o professor que deste modo respondia: 'O Tempo!' " 

De facto, o velho professor estava equivocado. De acordo com o físico suíço de origem alemã Albert Einstein o tempo é indissociável do espaço. Os dois formam um todo – o espaço-tempo – que surgiu numa misteriosa explosão – o Big Bang – há cerca de treze mil milhões de anos. De então para cá, à medida que o tempo tem passado, o Universo tem evoluído num processo contínuo de auto-organização: a energia primordial do Big Bang deu lugar a partículas, as partículas juntaram-se em átomos, os átomos associaram-se em moléculas e estas agregaram-se em matéria infinitamente variada, incluindo a mais complexa de todas, a matéria viva de que somos feitos.

O que é, afinal, o tempo? Pois um físico começará por dizer que o tempo é aquilo que marcam os relógios. Com efeito, o ano foi definido como o tempo que o nosso planeta demora a dar uma volta completa em torno da nossa estrela. É como se a seta invisível que vai do Sol para a Terra fosse o ponteiro de um gigantesco relógio. Mas esta noção de tempo – o tempo duração, o tempo sempre repetido, o tempo reversível – contrasta nitidamente com a do tempo cosmológico – o tempo evolução, o tempo que nunca se repete, o tempo irreversível. O Universo nasceu, vive e aparentemente tem um futuro eterno à nossa frente. É finito para trás, mas infinito para a frente. Contudo, tal não quer dizer que a vida na Terra seja eterna: a nossa estrela nasceu há cerca de cinco mil milhões de anos, vive e um dia irá morrer. E cada um de nós é bem mais temporário do que o Sol à volta do qual andamos. Sabemos bem que a nossa vida é finita, raramente chegando um habitante da Terra a dar uma centena de voltas em torno do astro-rei.    

Einstein, querendo consolar a viúva de um seu grande amigo quando este faleceu, escreveu que "o tempo é ilusão", querendo significar com isso que não existe distinção entre passado e futuro do ponto de vista das partículas individuais (a Terra e o Sol podem ser vistas como duas partículas). Mas essa distinção existe, de facto: sabemos bem que o futuro é diferente do passado, lembramo-nos do passado e não nos lembramos do futuro. Dá a ideia que o tempo irreversível aparece com o aumento do número de partículas e da complexidade das suas interacções. Uma partícula sozinha não conhece a diferença entre o passado e o futuro ao passo que muitas partículas em interacção já conhecem. Como passar do tempo reversível para o tempo irreversível? Reside aqui o grande problema do tempo, um problema que persiste na ciência e na filosofia, apesar de ter sido enfrentado, embora de prismas diferentes, tanto por grandes físicos como por grandes filósofos. Tentamos perceber o tempo, mas ainda não conseguimos.

A questão do tempo assume um papel central na charneira entre a ciência e a filosofia, mostrando como as duas se tocam. O matemático e filósofo britânico Alfred North Whitehead sumariou de maneira lapidar a nossa dificuldade em compreender o tempo: "É impossível meditar no tempo e no mistério do processo criativo da Natureza sem se ter uma emoção esmagadora sobre as limitações da inteligência humana."

3 comentários:

Bartolomeu disse...

De acordo com as teorias do "Big Crunch" e do "Big Freeze", o espaço-tempo, passaria a ser medido segundo outros critérios de valor?

Francisco Domingues disse...

Pertencendo ao tempo reversível, costumamos distinguir entre tempo real (das 24 horas do dia) e tempo psicológico (cuja duração subjectiva depende da circunstância de prazer ou sofrimento em que nos encontremos), O irreversível pouco ou nada nos diz, embora sejamos seus passageiros, tendo aparecido, por acaso da Natureza, num dado momento dele, num dado espaço.
Mas pensar o Tempo cósmico é mais apaixonante: será que este Universo é eterno? O raciocínio lógico diria que não: se um dia começou do "quase nada", no Big Bang, um dia voltará a esse "quase nada", seguindo as leis naturais que a tudo assistem. Através de um eterno retorno de um Big Bang/Big Crunch? Talvez nunca o Homem saiba, já que tão limitado no Tempo e dependendo do Tempo do seu Planeta que, por sua vez, depende do tempo da sua Estrela, dependendo esta talvez do Tempo da sua Galáxia. De qualquer modo, considerando o Universo uma enorme massa de matéria/energia, confinada a um espaço, perguntaremos, ad aeternum, o que há para além desse espaço, aliás, o que havia antes do Big Bang e onde se encontrava. Tudo fica mais claro, mais aceitável, se considerarmos - embora não consigamos concebê-lo, porque ultrapassa as nossas capacidade de entendimento - que este Universo será apenas uma partícula da Infinitude de que faz parte, sendo por isso eterno, tal como nós, tudo se movendo do mesmo ao mesmo através do diverso, em pequena ou em grande escala, mas nunca tendo tido um começo nem tendo um fim. Uma hipótese totalmente lógica. E que satisfaz a nossa sede de infinito.
Extrapolando, diríamos, para os teístas, que este é o DEUS, de que andam à procura e pensam, falsamente, ter encontrado, nas religiões.

Anónimo disse...

Que mau texto, Deus meu. Começa por ser uma demonstração de ignorância sobre os Principia - "um físico começará por dizer que o tempo é aquilo que marcam os relógios", o Newton teve o cuidado de dizer expressamente o contrário - depois continua por ser uma total infantilidade de raciocínio e um absurdo desconhecimento sobre dois mil anos de discussão sobre a natureza do tempo, rematando num passar ao lado - saberá sequer? - da imensa discussão actual em cosmologia. Não leu Newton, não sabe nada sobre a metafísica do tempo, ignora a cosmologia actual e tem o atrevimento de escrever um texto sobre o tempo e fazer passar por historiador da ciência? Tenha um pingo de vergonha!

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