
Uma poesia é a expressão que encontro para definir o filme O grande silêncio, da autoria de Philipe Gröning.
Este documentarista alemão, que estudou Psicologia e Medicina antes de se ter dedicado ao cinema, num certo dia, terá reunido toda a sua coragem e dirigiu-se a um mosteiro da Ordem da Catuja, pedia autorização para filmar o austero quotidiano dos monges. Alguns anos depois, parece que uns dezasseis, recebeu a resposta: poderia fazer o seu trabalho mas na condição de captar o que via e ouvia, sem artíficios. Mudou-se, então, para o Mosteiro - de La Grande Chartreuse que fica nos Alpes franceses - e viveu lá seis meses.
O que captou foi predominantemente o silêncio. É nesse silêncio que se ouve uma grande tesoura cortar pano, água a correr numa pia de cozinha, lenha a ser cortada, cabelo a ser rapado, caules de couve a serem partidas, rodas de um carro que transporta comida a deslizarem nas lages, postigos a serem entreabertos, dedos a seguir páginas, passos vagarosos, poucos múrmúrios, alguns risos... o toque muito cristalino do sino, e o canto gregoriano. Ouvimos, no filme, os sons que já não somos capazes de ouvir nos nossos tão sobrecarregados dias.
2 comentários:
Bom texto. Obrigado. Fiquei com vontade de ver o filme.
É curioso que os monges consigam essa vida "sem artíficios" à custa de tantos artíficios, pois a vida que vivem é tudo menos "natural". Por exemplo: ouvem a água a cair e a tesoura a cortar, mas não "ouvem" o seu corpo.
Caro Carlos Pires
Não pensei nisso. Sendo este um filme que se vê e se revê, na revisão que farei terei em conta a sua nota. Obrigada.
MHD
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