No próximo dia 10 de Dezembro, pelas 18h00 será apresentado o livro Educação e Cultura Mediática, da autoria de Carlos de Sousa Reis. A sessão terá lugar na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, na Guarda.
Resenha feita autor
O presente trabalho resultou de duas preocupações: em primeiro lugar, a compreensão do fenómeno da educação, de modo a encontrar um sentido para a problemática educacional dos planos educativo e deseducativo; em segundo lugar, a apreciação da cultura mediática, muito particularmente da publicidade, sob um ponto de vista educacional crítico.
Não tivemos a intenção de demonizar a cultura mediática e a publicidade, mas entendemos que há necessidade de fazer a sua crítica, sobretudo, pela preponderância que apresentam nas nossas sociedades. Cada vez mais se reclama uma literacia para os media, pois estes possuem um enorme poder para determinar atitudes e estilos de vida, muitas vezes, deploráveis.
O trabalho divide-se em quatro partes.
Na primeira delas, em três capítulos, discutem-se vários elementos de problemática e crítica do campo educacional. Partimos da apreciação da questão da educabilidade humana, encarando a emergência problemática da Paideia e o problema da tensão, ou mesmo agonia, educativa. A reflexão evolui, então, para a apreciação da antinómica do campo educacional, que nos conduziu a uma concepção complexa da educação. Em consequência do enquadramento obtido foi-nos possível indicar um horizonte crítico para avaliar o educativo e o deseducativo.
Na segunda parte, procurámos apreciar, em dois capítulos, o valor deseducativo da cultura mediática, no que concerne ao complexo “televisivo-publicitário”. Depois de uma breve resenha histórica sobre a evolução dos meios de comunicação, que nos deixa perceber as linhas gerais das suas consequências para as sociedades e a educação, nomeadamente as resultantes da integração telemática e da digitalização, focamos a nossa análise sobre o medium dominante: a televisão. Para além de se caracterizar o meio e a sua linguagem, quisemos tipificar a televisão generalista, contrapondo-a à temática, uma vez que a primeira continua a ser a que mais públicos capta. A seu respeito realizámos uma crítica dos regimes prevalecentes sobre o seu fluxo: por um lado, o do fait-divers, palimpsesto e estandardização; por outro, o da espectacularização, escopofília e promiscuidade dos planos informativo, comercial e do entretenimento. Concluímos mostrando os limites da ideologia televisiva e apontando alguns parâmetros para estruturar a televisão educativa.
Na terceira parte, faz-se um aprofundamento analítico, no sentido de apreciar, em especial, o valor deseducativo daquilo que denominámos a anticultura e o enclausuramento publicitários. Em três capítulos, aprecia-se, de modo sintético, os processos de instrumentalização publicitária, que promovem o enclausuramento na “consu(b)mição” e, de seguida, a sua instrumentalização específica dos valores, em que se destaca a exploração do feiticismo dos objectos. A este respeito procurámos fazer uma ilustração crítica, considerando os valores da liberdade, felicidade, sexualidade, enamoramento, amor, amizade e família.
Finalmente, no último capítulo desta parte, quisemos levar a nossa análise um pouco mais longe, no sentido de mostrar como a publicidade, promovendo o consumismo, promove, de facto, um certo tipo de materialismo, que criticamos, a partir dos seus aspectos redutores e deseducativos. Esta parte encerra-se apontando algumas linhas directrizes para definir uma literacia para a publicidade e o consumo. O trabalho termina com uma parte prática, consequente com o que se discutiu nas partes teóricas, e em que tivemos por intenção realizar um estudo exploratório, com recurso à análise de conteúdo, da instrumentalização de um conjunto de valores seleccionados (a amizade, o amor, o enamoramento, a família, a felicidade, a liberdade e o sexo/atracção sexual), no prime time de quatro canais de televisão generalista (três portugueses e um espanhol).
Formulámos três problemas e nove hipóteses, todas elas relativas à eventual existência de diferenças estatísticas significativas entre o número de casos de instrumentalização dos valores e os da sua não instrumentalização, durante o prime time, seja em termos globais, seja em termos específicos, para cada um dos sete valores considerados. Para o efeito, seleccionámos, do período de um ano, dos quatro canais, uma amostra aleatória de 804 spots, de que se realizou uma análise quantitativa e outra qualitativa.
Os resultados permitem-nos afirmar que, em termos globais, o número de casos relativos à instrumentalização é significativamente maior apenas quando se considera o contexto estrito dos casos em que há referência aos valores seleccionados. E, neste contexto, em particular, encontrámos também um número de casos de instrumentalização significativamente maior dos valores da amizade, amor, enamoramento, felicidade e sexo/atracção sexual. O valor da família é o único em que predomina, de forma significativa, a não instrumentalização. Só não se encontraram diferenças significativas, entre instrumentalização e não instrumentalização, no caso específico do valor da liberdade. Globalmente, isto significa que encontrámos evidência empírica da análise levada a cabo nas partes teóricas.
Carlos de Sousa Reis
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