Hoje em dia, através das redes sociais como seja o facebook,
somos levados a pensar que interagimos com centenas de pessoas, quiçá milhares,
com a designação de “amigos”. Mas será que conseguiríamos estabelecer relações
pessoais (não virtuais) estáveis com esses “amigos” todos?
Há investigações sociais e biológicas que mostram haver um
limite superior para o número de indivíduos com os quais conseguimos manter
relações sociais frequentes e estáveis. Nos anos 90 do século passado, o
cientista R.I.M Dunbar publicou uma série de artigos em que relacionava o
número de indivíduos nos grupos sociais de espécies primatas (incluindo a
nossa) com o tamanho do neocortex cerebral. E Dunbar chegou à conclusão de que
cada um de nós não consegue gerir, em média, mais de 150 relações individuais.
Há como que um limite da capacidade cognitiva de que dispomos para manter
estáveis as nossas relações pessoais. Acima desse limite deixamos de conseguir
sociabilizar. Esse limite, ou esse número, é desde então conhecido por número
de Dunbar.
Assim, a extensão do número de indivíduos com que
aparentemente mantemos relações de “amizade” através das redes sociais só é
possível pela realidade aumentada e virtual que é gerada pelo software que está
por de trás de, por exemplo e novamente, o facebook. E as centenas de números
de telefone que compõem a sua agenda telefónica não significa que mantenha
relações sociais permanentes com essas centenas de pessoas. À maioria delas só
liga uma vez por outra, por exemplo, pelas diversas festividades.
Desligue-se da internet, pegue numa folha de papel e numa
caneta e comece a apontar os nomes das pessoas com quem sente ter relações
pessoais regulares, estáveis. Aponte familiares, amigos, colegas, conhecidos,
etc. Verifique quantas pessoas apontou e relacione com o número de Dunbar. Verá
que não deverá ter ultrapassado em muito esse número. São essas as pessoas do
seu grupo social.
Na realidade, os
grupos tribais ainda hoje existentes, e que vivem longe da nossa civilização,
como por exemplo os bosquímanos africanos, mantêm grupos sociais na ordem das
dezenas de indivíduos. Parece de facto existir uma limitação biológica para o
número máximo de indivíduos que podem compor um grupo socialmente estável.
É também curioso que as grandes companhias multinacionais
criam novas sucursais quando o número de trabalhadores de uma dada unidade
ultrapassa o número de Dunbar. Também aqui, parece ser difícil de manter
estável e funcional a unidade da estrutura empresarial acima de um determinado
número de indivíduos.
Mas podem dizer-me: e então as grandes cidades com dezenas
de milhões de habitantes? Bom, é fácil darmo-nos conta que as cidades estão
organizadas em bairros e que os moradores desses bairros raramente contactam
com pessoas de outros bairros (a não ser no local de trabalho, como é claro).
As relações sociais restringem-se à vizinhança e às associações às quais se
pertence. Mantemos uma organização social compacta definida pela nossa
biologia.
Assim, podemos dizer que vivemos sempre na nossa “aldeia”,
mesmo que ela faça parte de um grande aglomerado de pessoas urbanizadas com as
quais nunca iremos estabelecer relações sociais. O mundo globalizado pela
internet, na realidade não alterou a dimensão do nosso grupo social efectivo.
António Piedade
1 comentário:
Certamente o número estimado por Dunbar leva em conta inter-relações a considerar geograficamente segundo a estratificação social que embora tomando a exemplo " bosquimanos africanos " faça comparação saudável afinal de contas a fala mais simples o intuito promover amizade.
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