domingo, 13 de dezembro de 2020

Marisa Matias Exemplar de Catavento da Política Nacional

Na minha idade já nada me devia espantar, mas espanta-me! O meu estupor reside no facto em a honra se vender e se comprar, ora por muito milhões de vil metal, ora por um simples prato de lentilhas.

Dias atrás, deparei-me com a insólita situação da euro-deputada Marisa Matias do Bloco de Esquerda a declarar-se social-democrata sem que a face lhe corasse de vergonha. Aliás, apenas mais um exemplar num país de trânsfugas em que  os exemplos abundam como fungos em terreno húmido. Sete anos antes, Zita Seabra  fanática e agressiva militante  comunista escrevia no "Verão Quente"  no semanário "Expresso" (15/05/1993): "Hoje, o que faz mais sentido é atacar o cavaquismo e os perigos que ele comporta". Esta declaração serviu de razão a um meu extenso artigo de opinião intitulado: “Zita se abra: quais são os tiques do cavaquismo?” (“Correio da Manhã”, 01/06/1993).

Quase diria que  premonitoriamente, nele escrevi: ”Para se ascender a cargos políticos destacados a receita parece estar na militância do PCP seguida da dissidência propalada “urbi et orbi”. Não fosse o respeito que me merecem os comunistas que se não vendem, eu aconselharia o seguinte itinerário: saída da vida política viciosa e entrada no mundo dos negócios de honestidade mais que duvidosa!

Com a sua indigitação para o cargo de coordenadora do Secretariado Nacional (quase ia a escrever da Informação) para o Audiovisual, Zita Sabra duma só cajadada matou dois coelhos chancelando o seu estatuto intelectual  e oficializando a sua devoção ao PSD. E, não vá o diabo tecê-las, joga simultaneamente, em dois tabuleiros: numa entrevista  passa  da irreverência a que se obrigou à bajulice desobrigada (“Expresso”,15/05/1993).

Com a nomeação (quase) no papo, mantém em todos os aspectos uma opinião crítica  em relação a alguns “tiques do cavaquismo que lhe é arrancada a ferros pelo entrevistador, ao mesmo tempo que aproveita a deixa para reiterar o seu “profundo respeito, por Mário Soares", um tanto a  despropósito, mas que ela afirma ser “a propósito”! Manuel Monteiro  que se resguarde porque  pelo andar da carruagem, e por quem lá vai dentro, não se livra de um dia destes lhe bater à porta Zita Seabra!”

Parafraseando a letra da de uma canção de ópera cantada por Caruso a Bocelli:”A política é volúvel/ Qual pluma ao vento/ Muda de sotaque e de pensamento”, temos agora, neste ano da graça de 2020,  Zita Seabra, como diriam   os ingleses, “to be caught  with one´s pants down”, mandatária nacional  do Partido Iniciativa Liberal.

A terminar, uma pergunta nada inocente: o que diz a presidente  do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, à social-democracia da sua euro-deputada Marisa Matias? Como cantou Amália, “fado é sorte e do berço até à morte ninguém tem melhor sorte  que aquela que Deus lhe dá!”  E o fado nacional não tem sido pródigo  para com  o nosso torrão natal ajoelhado a falsos profetas que lhe anunciaram uma falsa bem aventurança de um dia vinte e cinco  aprilino!

 

3 comentários:

Rui Baptista disse...

Com grande espanto meu, acabo de verificar "la donna", Marisa Matias, "e mobile" no que respeita a preferências partidárias. Já se declarou publicamente social-democrata e socialista. Quando se declarará bloquista de esquerda que é o partido no qual aufere um salário de 250.000 euros anuais? já é preciso ser ingrata!

:) disse...

:)

Carlos Ricardo Soares disse...

Portugal nunca fez o tal 25 de abril.
A esquerda nunca se fez compreender, talvez porque ela própria nunca se compreendeu.
Portugal precisa de uma revolução, a sério.
A esquerda nunca conseguiu explicar porquê e para quê.
Muitos dos seus porta-vozes, sem nenhuma convicção e menos argumentos, seguiram o natural rumo do fazer barulho até que se cansassem de os ouvir.
Mas não passava de barulho, para ganharem uns votos para as despesas.
Tal como há muitos padres ateus a celebrar missas, há bastantes esquerdistas que, não só nunca leram os respectivos evangelhos, como não têm a noção do que andam a fazer.
Se não se recusam a jogar dentro das regras do capitalismo, o que é legítimo que façam, tampouco as contestam e esse devia o núcleo mínimo do seu programa.
E já nem digo, do seu programa de acção, porque, uma vez definido, como é suposto que a esquerda o tenha, aquilo que deve ser feito, e para eles isso é científico, só restaria e faltaria e haveria que o fazer.
Hoje, vemos claramente visto que o 25 de abril pode ter sido uma revolução dos cravos, mas não foi a revolução de que o país precisava e continua a precisar.

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