quinta-feira, 11 de junho de 2020

UMA GRANDE AULA DE JOHN SEARLE


Minha recensão, publicada no jornal I de hoje, do último livro do filósofo norte-americano John Searle, "Da Realidade Física à Realidade Humana":

2 comentários:

A=B disse...

"Da realidade física à realidade humana". Há diferença?

Realmente disse...

Acredito que “todo o social seja natural”, já que a natureza, não sendo oca, é, contudo, isenta de interior, tal como o social, cujo cérebro reage organicamente por imitação, por impulso carneiro ou por reação pavloviana. Há quem vá mais longe e afirme que o social é um monstro sem cérebro, no sentido de inteligência; só corpo.
Não tenho a certeza de que o homem, enquanto ser individual, seja assim tão natural, apesar de também ser natureza. A palavra, o discurso, a análise, o simbólico, a criatividade, a imaginação, o livre-arbítrio, apesar de necessitarem de estruturas físicas para se manifestarem, estendem-se muito para além do meramente orgânico. Por esse motivo, Searle não as consegue explicar. E é aqui, nesta originalidade supostamente natural do Homem se movimentar em espaços de consciência, de produzir pensamento, ciência, arte, comunicação, que reside o determinante contraste entre máquinas e humanos.
Um robô articulado provém de uma linha de montagem artificial que funciona por cordéis exteriores, em modo figurativo, que responde porque alguém lhe preparou essa função e a sua inteligência é ativada num espaço referencial de programação onde as respostas são previamente integradas para serem dadas por reconhecimento da pergunta ou por associação de palavras ou qualquer outra sequência interna. Esses inserts de comportamento permitem uma ficção de autonomia em diferentes planos, mas torna-se tudo numa monotonia representativa, nada genuína e em série, não chegando sequer a conseguir uma identidade social. Se há humanos deste género? Claro que sim. Até menos – há quem só nasça, cresça, coma, se multiplique, envelheça e morra, sem pensar em nada. Como um Caeiro sem Pessoa a escrevê-lo. Mas há outros que são capazes de pensamento não biológico, de uma desnaturação da mera função, de construção abstrata, com som e silêncio dentro de si mesmo - “Se mia e arranha como um gato, é gato” (mas eu não sou só Física). De onde vem então a nossa voz? Será só consequência do aparelho fonador em funcionamento ou será mais qualquer coisa? A língua, o riso, o canto, o lamento, de onde provém essa errância? A mudez não impede a voz interior, esse estado fantasma de sub ou sobre-impressão, esse relato permanente de que nenhuma outra criatura é capaz.
Reivindico, portanto, o direito à alma, à identificação divina, à pulsão cósmica da existência e à saudade da origem, não na religião sintática (mera lamparina), mas na semântica universal do inteligível, do génio.

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