terça-feira, 30 de junho de 2020

HÁ BASALTOS E BASALTOS

À atenção dos professores do Secundário. 

Talvez que, por obediência ao programa oficial, os alunos tenham de “saber dizer” o que é o basalto, o professor que os ensina deve saber muito mais. E esse muito mais é uma minúscula parcela do conhecimento científico ao nosso dispor. 

Na Antiguidade, os gregos chamavam-lhe “basanites”, nome proposto por Teofrasto (372-287 a.C.), com raiz no termo “basanos” que, entre eles, referia toda a pedra negra, dura e compacta, usada pelos ourives como “pedra de toque”, de que é exemplo o lidito. 

Um parêntese para dizer que o lidito é uma rocha siliciosa microcristalina (como o sílex, conhecida entre os profissionais por cherte) negra, devida a impregnação de matéria carbonosa, descrita na região de Lydia, na Ásia Menor (Turquia). 

Na sua História Natural, o romano Plínio, o Velho (23-79 d.C.) usou a versão “basaltes” para dar nome ao “mármore negro”, assim se designava vulgarmente o basalto, uma vez que toda a pedra usada em cantaria era, então, conhecida por “mármore”. Foi, pois, ao latim, que fomos buscar a nossa palavra “basalto”. Muito mais tarde, na Alemanha, Agricola (1494-1555), reconhecido pioneiro da mineralogia e da geologia, usou o termo “Basalt” para referir a pedra negra, compacta, de Stolpen, na região de Dresden, Alemanha. O termo “basaltóide”, criado por René Just Haüy, em 1822, para referir o basalto negro do Egipto, é hoje um nome geral atribuído às rochas vulcânicas afins do basalto.

Vocábulo antigo dos léxicos geográfico, naturalista e, mais tarde, geológico, “basalto” é, pois, o termo geral que designa o equivalente vulcânico do gabro, a rocha plutónica de composição máfica, rica em magnésio e ferro, e com baixo conteúdo em sílica (52 a 49%), pelo que uma e outra são qualificadas como básicas.

Mais de 90% das rochas básicas são vulcânicas e, dentro delas, mais de 90% são basaltos, constituindo o essencial da crosta oceânica. No seu conjunto, os basaltos são as rochas magmáticas mais abundantes na crosta terrestre, onde ocupam cerca de 70% da superfície. Os granitos (em sentido lato, ou seja, os granitóides) ocupam os restantes 30%, confinados à crosta continental. 

Basalto é hoje um vocábulo petrográfico muito abrangente das rochas vulcânicas com as características químicas e acima definidas (conteúdo em sílica entre 52% e 49%). Aplica-se, não só àquelas cuja lava brota à superfície e aí arrefece e solidifica, como às que, no decurso desta actividade, solidificam a meio caminho da extrusão. É o caso dos chamados basaltos das soleiras, diques, chaminés e outros corpos intrusivos de relativamente pequena profundidade, muitos deles designados por doleritos.

Tem sido usual, entre os petrólogos e petrógrafos, distinguir três tipos fundamentais de basaltos, com base nos valores da razão (Na2O+K2O)/SiO2: toleíticos, calco-alcalinos e alcalinos.
BASALTOS TOLEÍTICOS, também conhecidos por toleítos (do nome da região de Tholey, no Sarre, Alemanha, onde foi descrito) são relativamente ricos em sílica e pobres em alcalis. Provêm da fusão parcial por descompressão dos peridotitos dos níveis mais elevados do manto superior. Este tipo de basaltos está bem representado nas dorsais meso-oceânicas e nas camadas superiores da crosta oceânica, em grande parte ocultos sob os sedimentos aí existentes. É igualmente a rocha dos trapps, palavra sueca que quer dizer escadaria, usada internacionalmente para referir os imensos e espessos empilhamentos de derrames sub-horizontais de lava, no interior dos continentes (vulcanismo intraplacas continentais), onde cobrem milhares de quilómetros quadrados de superfície, como são os da bacia do Paraná, no Brasil, da Sibéria, do Decão, na Índia, do Karoo e dos Libombos, no SE africano, da bacia do Rio Columbia, na América do Norte, de Madagáscar e da Austrália. São igualmente toleíticos os basaltos trazidos da Lua pelas missões Apollo. 
BASALTOS CALCOALCALINOS – contêm plagioclase rica em cálcio (labradorite), geralmente acompanhada de minerais ferromagnesianos com cálcio, como augite e horneblenda. São característicos dos arcos insulares e das margens continentais activas onde há fusão parcial das rochas do manto devido à adição de fluidos aquosos provenientes da crosta subductada e contaminação do manto por materiais dessa mesma crosta. O vulcanismo associado a este tipo de rochas é, geralmente, explosivo, por vezes, com grande violência, devido à maior viscosidade do respectivo magma. É o que acontece no chamado Anel de Fogo do Pacífico. 
BASALTOS ALCALINOS – além dos minerais comuns no basalto, contêm feldspatóides, sendo, por isso, também conhecidos por basaltos feldspatóidicos. São provenientes de zonas peridotíticas do manto superior, 50 a 80 km mais profundas do que as que alimentam os basaltos toleíticos e em relação com plumas mantélicas. 
Mas há ainda, relativamente a este tipo de rochas vulcânicas, outros nomes consagrados, mais descritivos das respectivas composições mineralógicas. Eis alguns. 
ANCARAMITO, descrito em Ankaramy, Madagascar, em 1916, é um basalto alcalino, olivínico, muito escuro, rico em augite e pobre em plagioclase. 
BASANITO, basalto alcalino com olivina (>10%) e feldspatóides (leucite ou nefelina); o termo, proposto por Teofrasto (320 a.C.) radica em basanos, nome grego antigo, como se disse atrás, de toda a pedra negra dura e compacta, usada pelos ourives como “pedra de toque”. 
HAVAITO, descrito na Ilha de Havai, caracterizado pela sua riqueza em olivina. OCEANITO, basalto, rico em olivina, com alto teor de magnésio, gerado por acumulação gravítica da olivina em escoadas espessas ou em soleiras; o termo apresentado por Alfred Lacroix (1863-1948) para designar este tipo de basalto gerado por lavas das Ilha de Havai e Reunião. 
TEFRITO, basalto alcalino com feldspatóides abundantes (leucite ou nefelina), plagioclase e, em menor quantidade, olivina (mais de 10%). O nome deriva do grego téfra, que significa cinza, em virtude da sua cor cinzenta.
A. Galopim de Carvalho 

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