Minha crónica na última Gazeta de Física:
No ano de 2017 comemoraram-se os 60 anos de um evento muito marcante
da história da física: o Ano Geofísico
Internacional, que se realizou entre 1 de Julho de 1957 e 31 de Dezembro
de 1958. Contrariando o clima da guerra
fria, 67 países, incluindo Portugal, uniram esforços para realizar uma série de
projectos destinados a conhecer melhor o nosso globo em várias áreas: auroras
polares, cartografia de precisão, física da ionosfera, geomagnetismo,
gravidade, meteorologia, oceanografia, raios cósmicos, sismologia e actividade
solar.
O evento científico mais marcante de 1957 ocorreu a 4 de
Outubro com o lançamento pela União Soviética do primeiro satélite artificial,
o Sputnik 1. Os Estados Unidos haveriam de responder com o lançamento, a 1 de Fevereiro
do ano seguinte, do Explorer I, que descobriu o cinturão de Van Allen, mas já
depois do Sputnik 2, em 3 de Novembro de 1957, com a cadela Laika a bordo, ter
reforçado a precedência soviética. A NASA foi fundada a 29 de Julho de 1958
nessa fase de arranque da exploração espacial, pelo que vai ficar sexagenária
em 2018.
Contudo, também foi marcante nessa ano o estudo da
Antárctida. Uma expedição da Royal Society de Londres tinha aí criado a Halley
Research Station em 1956, que ainda hoje prossegue sua actividade. Foi na
Halley que, em 1985, foram efectuadas as
medidas que conduziram à descoberta do buraco de ozono, um problema em vias de resolução
graças ao protocolo de Montreal assinado em 16 de Setembro de 1987 e que foi entretanto ratificado por 196 países.
Pela primeira vez na história todos os países do mundo uniram-se para resolver
numa base científica uma questão que afectava todo o planeta e, portanto, a
humanidade (infelizmente, a questão do aquecimento global não está a ter
resposta semelhante). Por sua vez, os americanos criaram em 1957 no pólo Sul a
estação de Amundsen-Scott, onde foram sendo montados vários telescópios e
instrumentos para observar o fundo cósmico de micro-ondas e os neutrinos que
vêm do espaço. A 1 de Dezembro de 1959, na sequência do Ano Geofísico, 12
países assinaram o Tratado da Antárctida (entretanto já são 53, incluindo
Portugal), que reconhece essa região como uma reserva científica, banindo
qualquer tipo de actividade militar. Um feito notável nos anos da guerra fria,
mostrando que a ciência pode ultrapassar divisões nacionais!
Os programas de exploração do espaço e dos pólos continuam
hoje em dia, com ampla participação dos físicos de muitos países. Um artigo
saído em Dezembro passado na “Science” é bem exemplificativo dos avanços da geofísica
moderna, ao juntar as áreas da gravidade e da sismologia, que nos anos 50
estavam separadas. Uma investigação da autoria de físicos franceses e
americanos debruçou-se sobre os sinais recolhidos por sismógrafos muito
afastados do epicentro do grande terramoto de Tóhoku de 11 de Março de 2011,
que destruiu a central nuclear de Fukushima no Japão. A conclusão é muito
interessante: sinais de alteração campo gravítico, que se transmite à
velocidade da luz, são perceptíveis antes da chegada da onda sísmica, que se
espalhou pelo globo a uma velocidade entre 6 a 10 km/s. Não só se consegue
através desse sinal determinar com precisão a magnitude do sismo, uma medida
difícil para sismos muito intensos (o referido sismo, de magnitude 9,1, foi o
quarto maior de sempre, maior, por exemplo, do que o terramoto de Lisboa de 1
de Novembro de 1755, que não está sequer no top
ten), como sobretudo permite fornecer um aviso com alguns minutos de avanço
relativamente à chegada da onda elástica. A previsão de terramotos continua a desafiar
os físicos. Não é disso que se trata mas sim de permitir avisos, ainda que de
curto prazo, da eclosão de um terramoto violento. O tsunami associado ao
terramoto causou 15894 mortos. Algumas dessas vidas poderiam ter sido poupadas se
tivesse havido evacuação rápida das populações residentes nas regiões costeiras
ameaçadas.
7 comentários:
Esta crónica demonstra, à saciedade, que a Terra é redonda como uma bola, e é, também, um imenso laboratório a céu aberto, onde cientistas empenhados e, muitas vezes cheios de frio, procuram, através das suas experiências, sujeitas a uma espécie de método de tentativa e erro, vir a compreender todo o Universo físico, pelo menos, de que todos nós, animais humanos, fazemos parte.
O Sr. Professor Carlos Fiolhais não pode continuar a chamar americanos aos estadunidenses. Isso é continuar a humilhar os outros países da América, porque não lhes reconhece capacidades cientificas, e dá como certo essa possibilidade ser pertenca única dos estadunidenses, que coisa feia! e o senhor sabe disso. Muito grave para uma personalidade que se considera de elite. Uma vergonha nacional.
Vergonha nacional é quem faz um caso de uma pessoa chamar americano a quem é dos Estados Unidos da AMÉRICA. Chama estado-unidense a um mexicano? Ou chamava a um brasileiro quando o nome do país era "Estados Unidos do Brasil"? Ou mesmo quando era a Colômbia ou Venezuela?
Se quer queixar-se de alguma coisa, peça para que os Estados Unidos da América tenham outro nome. "Estadunidense" é uma aberração que se inventou para quem se ofende com o nome "americano". Também não "republicano" a pessoas dos inúmeros países (incluindo o nosso) que têm "República" no nome, pois não?
O senhor Anónimo de 12 de janeiro às 21:39 comete um erro da cabo de esquadra quando escreve "... onde cientistas empenhados, e muitas vezes cheios de frio, ..." no seu comentário. Ele não percebe nada de Termodinâmica! Qualquer estudante médio de escola secundária, do pós 25 de Abril, sabe que calor é energia em trânsito, logo é um absurdo dizer que um cientista está cheio de frio, quando muito poderíamos dizer que a energia interna do cientista friorento diminui muito, porque há uma transferência de energia, designada calor, do corpo humano para o meio ambiente. Um indivíduo que interiorize, em tenra idade, que o calor é energia em trânsito, tem as portas abertas de par em par de qualquer carreira das engenharias ou das ciências. Senão é melhor ir para letras onde os conceitos vulgares de frio e calor ainda estão na moda!
As coisas que eu aprendo aqui!
Sr. Anónimo a "guerra fria" para sí ainda não acabou, por isso continuará a insistir no erro.
Por acaso, um brasileiro, um colombiano, um venuzuelano, dos países que cita, não são americanos, e claro ainda os estadunidense que tambem o são? Mas como distingui-los entre sí? Arbita-se que são os estadunidenses os únicos que por direito podem ser chamados de americanos! quem decide ou decidiu essa arbitrariedade, como quando e porquê, e com que direito?
Mantém-se o erro: porquê chamar "estadunidense" a quem é dos EUA e não a quem é do México? Porque é que não chama republicanos aos portugueses? Faz tanto sentido como o termo "estadunidense". Porque não chama "monarcas" aos espanhóis? Porque é que só a aberração que é esse termo para quem é dos Estados Unidos é aceitável?
Quiseram resolver algo que consideravam parvo e só criaram uma parvoíce ainda maior. Quem se ofende com o termo "americano" devia ficar muito mais escandalizado, de um ponto de vista linguístico, com "estadunidense".
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