Byung-Chul Han, natural da Coreia do Sul, estudou filosofia na Universidade Freiburg, onde se doutorou, sendo professor de Filosofia e de Estudos Culturais na Faculdade de Artes da Universidade de Berlim.
Dele apenas li A sociedade do cansaço (Lisboa: Relógio D´Água, 2014, tradução de Gilda Lopes Encarnação) mas há vários títulos seus disponíveis em português.
Fiz a leitura desse pequeno livro pela vertente da educação e foi com base nela que extraí as ideias que se seguem.
Defende Han que todas as épocas têm as suas patologias, as quais se fazem acompanhar de medos característicos.
A "paisagem patológica" deste começo de século é indubitavelmente marcada pela depressão, déficit de atenção, hiperactividade, transtorno de personalidade limítrofe, síndrome de burnout.
Numa "sociedade do desempenho" em que os sujeitos são convencidos de que podem (melhor, têm de) ser "empresários de si mesmos", o slogan "Yes, we can", que levou Obama à presidência dos Estados Unidos, traduz a solicitação, primeiramente individual e só depois colectiva, à iniciativa, à motivação, que é preciso manter activas em permanência.
O objectivo é elevar a produtividade: o "sujeito que desempenha" é mais rápido do que o "sujeito que obedece" ainda que caminhe a passos largos para o fracasso e, de seguida, para a depressão porque “a partir de determinado ponto", confronta-se, necessariamente, com “os seus limites”.
O sujeito, transformado em animal laborans, esgota-se no "esforço de ter de ser ele mesmo", numa constante auto-referenciação e auto-exploração, que é mais eficiente do que a exploração imposta, uma vez que caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. Para o esgotamento também concorre a carência de vínculos com outrem, derivado da fragmentação e atomização social.
Afinal, a queda dos dominadores não conduz à liberdade, ao contrário, fá-la coincidir com coacção. O sujeito não mantém laços de submissão a ninguém, é submisso a si mesmo; vê-se, ao mesmo tempo, agressor e vítima, explorador e explorado. Trata-se de paradoxos que acabam por se transformar em auto-violência.
Há ainda que contar com a pressão para ser activo: o sujeito pode ser tudo menos passivo. Em contextos "multitarefas", exposto continuamente a uma multiplicidade de estímulos, vê-se obrigado a fazer rápidas mudanças de foco, o que requer uma hiperatenção (que não tem) para dar respostas imediatas e eficazes (o que não está ao seu alcance).
A hiperactividade converte-se em hiperpassividade, na medida em que a reprodução se sobrepõe ao pensamento. De facto, a dispersão torna a atenção ampla e rasa, ficando o sujeito incapaz de "entrar" em domínios culturais, como a filosofia, que requerem uma atenção profunda e contemplativa.
Numa solidão crescente, a que pode o sujeito agarrar-se? A nada, nem à religiosidade (não respeitante necessariamente a Deus a ao além) que há muito ficou para trás. O que é durável e subsiste foi substituído pelo efémero e transitório. O mesmo se diz da própria vida.
terça-feira, 8 de agosto de 2017
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2 comentários:
Verifico que estão envolvidas aqui várias reflexões que é preciso distinguir para percebermos melhor as questões e as suas implicações.
A economia e as ciências económicas, verdadeiros lobos disfarçados de cordeiros, integradas, por afinidade, no grupo das ciências humanas e sociais, apresentam-se frequentemente nos antípodas das Humanidades.
No que respeita à produtividade, não há muito a dizer senão que é um princípio de racionalidade económica, uma espécie de evidência: se podes produzir mais ou o mesmo, com o mesmo, ou menos, trabalho/capital, otimizas. Se não o fazes, qual é a tua desculpa?
A produtividade é um rácio, que pode acusar-te.
Se tiveres desculpas ou justificações, tudo bem. Estiveste doente, cansado, ocupado com tarefas mais importantes, obrigações inadiáveis, etc..., ninguém vai supor que produziste menos quando podias ter produzido o mesmo ou mais, ou um pouco menos, por capricho, para boicotar, por preguiça, por lapso, por acidente, por erro, por ignorância, por distração, por embriaguez...
Indivíduos analfabetos constroem fortunas, ou governam a sua vida, segundo o princípio da produtividade. Ser produtivo, em última análise, está ao alcance de todos porque não implica atividade.
Basta que a minha atividade gaste menos que a minha inatividade, ou vice-versa, para atingir idêntico/mais proveito económico. Sendo que este proveito económico pode ser imprevisível e, em certos casos, indeterminável, como acontece com a "inatividade" das pessoas que não fazem "outra coisa" senão pensar e transmitir o que pensam.
A questão do fracasso é diferente.
Só fracassa quem tem objetivos que não conseguiu e só é considerado fracassado quem era de esperar que tivesse realizado algo que não realizou. Ainda assim, ser considerado fracassado não corresponde a ser fracassado. Pessoas que têm sido consideradas fracassadas, no fim de contas, tiveram grande sucesso. De qualquer modo, o fracasso pode ser justificado ou explicado.
Se estabeleceres como objetivo, por exemplo, ganhares um Nobel, o euromilhões, o festival da eurovisão, o teu fracasso, praticamente, é abaixo de zero, quer dizer, ganhas umas oportunidades de brincar.
A medida do fracasso, em grande parte, és tu que a estabeleces. A da produtividade está estabelecida por princípio.
muito bom.
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