A colecção “CiênciaAberta”, da editora Gradiva, que recebeu em 2012 o Grande Prémio Ciência Viva,
tem desempenhado um papel incontornável para a divulgação científica entre nós.
Em quase 35 anos de existência, permitiu aceder na língua de Camões ao que de
melhor se escreve internacionalmente na divulgação da ciência, incluindo autores
como Carl Sagan, Hubert Reeves, Richard Feynman,
Stephen HawKing, entre muitos, muitos outros. São até ao momento 216 títulos fundadores
para uma ampla cultura científica e também, diga-se, humanística.
É importante sublinhar que a “Ciência
Aberta” deu sempre lugar aos autores portugueses, abrindo as suas portas à “divulgação
científica portuguesa”. Esta boa tendência até se acentuou nos últimos anos,
principalmente desde que Carlos Fiolhais é o seu director (exactamente a partir
do número 201): em 18 títulos, metade são de autores portugueses! Isto também
revela que a comunicação e divulgação de ciência têm crescido em Portugal nos
últimos anos.
E é sobre um novo autor português da
colecção “Ciência Aberta” que me irei debruçar a seguir.
Se voltar a ler o título desta crónica, encontrará
o título do último volume da colecção que estamos a referir. Contudo, falta
neste título um asterisco, que aparece na capa do livro, e que remete à
informação de que os 90% se referem à “percentagem em massa”. O autor deste
livro que tem o número 216 na “Ciência Aberta”, é o astrónomo e matemático
Alexandre Aibéo, um dos nossos melhores comunicadores de ciência, mais especificamente
na área da astronomia. Foi vencedor, em 2010, da primeira edição do concurso
FAMELAB – Comunicar Ciência em Portugal, o que muito diz sobre a sua grande
qualidade em comunicar bem e de forma acessível e aprazível a todos. E esta
qualidade é um perfume que emana ao longo deste seu novo livro através da sua
escrita.
Diga-se que este é o segundo livro de
Alexandre Aibéo. O seu primeiro foi um muito inspirado e singular “Isto não é
(Só) Matemática” (editado pela Quidnovi), sobre o qual Nuno Markl disse que
trouxe sex-appeal à matemática.
Este novo livro é sobre a observação do
Universo, sobre a astronomia, área que o autor domina bem. E está escrito numa
linguagem muito acessível, num tom coloquial que transporta o leitor para uma
conversa imaginária com o autor: e essa conversa é tão boa que não se dá pelo
tempo a passar. E há também um tom humorístico, não exagerado, que convive
muito bem com o rigor científico que o autor imprime à sua escrita, o que torna
a leitura deste livro muito agradável e descontraída.
Este livro teve como ponto de partida,
segundo o autor, a passagem para este formato de diversas palestras sobre
astronomia que tem dado nos últimos anos um pouco por todo o país, em escolas
mas não só. A sua grande experiência na exposição e interacção de públicos
variados com a astronomia é assim a matriz de que partiu para a escrita deste
livro muito útil para quem quer compreender como é que esta ciência nos permite
entender o Universo, desde o cálculo “manual” da distância da Terra à Lua, até
aos primeiros instantes após o Big Bang.
Para além do conhecimento sobre astronomia
que Alexandre Aibéo transmite acessivelmente a qualquer leitor, é de sublinhar
o cuidado com a contextualização histórica dos avanços e das descobertas
astronómicas. Ao ler este livro, para além de viagens imaginárias às estrelas e
galáxias, também fazemos uma viagem pela história da humanidade.
Por fim, dizer que depois de lermos este
livro ficamos mais ricos (de conhecimento) e inteligentes: é que o autor também
nos ensina a pensar com sentido crítico o que é essencial para sermos melhores pessoas
e cidadãos.
António Piedade
3 comentários:
Este blogue (quase) deixou de ter comentários. Uma pena.
Desculpem-me os leitores por algumas gralhas e erros ortográficos que estavam na primeira edição deste texto e que entretanto já corrigi (espero que a todos).
Considerando que até há uns meses atrás bem mais de metade dos comentários eram insultos aos autores e/ou tentativas de justificar pseudociências, dou-me por muito satisfeito de esses comentários terem desaparecido. Ficam os que se aproveitam.
Enviar um comentário