Meu artigo de opinião saído hoje no Público:
“Portugal tem
atravessado crises realmente más, mas nelas nunca nos faltaram nem homens, nem
dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o
Estado não tem – e os homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra
pela Política. De sorte que esta crise
me pareça a pior – e sem cura” (Eça de Queiroz, 1845-1900).
Este meu
artigo encontra fundamento, apenas, no
facto de ser leitor de Ricardo Costa no Expresso. Não significa, portanto, que
eu seja influenciado por conhecimento pessoal: não sou figura pública da
política ou do jornalismo, das belas-letras ou das belas-artes, ou, mesmo, do
quer que seja.
E sinto-me feliz por isso face a determinadas
figuras públicas da política que fazem a infelicidade de uma sacrificada classe
média, quase em estado comatoso, a quem
são exigidos deveres e sonegados direitos.
Malgré tout, nunca me passaria pela cabeça a indelicadeza
de me servir desta oportunidade para, por hipótese, me referir em desabono político de António Costa, actual
presidente da Câmara Municipal de Lisboa, candidato à presidência do Partido
Socialista, sobre quem recaem, uma vez mais, os holofotes da imprensa, da
rádio, da televisão e de simples politólogos de tertúlia de café.
Apesar de aposentado, não me resigno em ver passar o
tempo. De quando em vez, “diletante de coxia”, como diria Eça, entretenho
os meus dias de saudade da docência com escritos de posts em blogues que têm a
utilidade de me dar o feedback do que vou escrevendo não fugindo à polémica, embora tendo sempre presente o
princípio de Fialho de Almeida: “A luta é legítima. Eu não respeito as suas
ideias – respeito-o a si”.
Pela
referência que fiz a blogues, não posso
deixar de me reportar a certos comentários sob anonimato que fariam corar de vergonha a juventude
de ontem, mas não grande parte da actual viciada no palavrão, a ponto de eu pensar que o palavrão quase se tornou o calão de tempos passados. Isto sem querer
passar paninhos quentes sobre certa linguagem nada vernácula d’outrora,
redigida por destacados nomes da polémica jornalística. Colho exemplo na caneta
verrinosa de Francisco Homem Cristo (1860-1943), fundador do jornal Povo de Aveiro, havido por Guerra
Junqueiro como “brutamontes com ideias”.
Acerca deste
jornalista, foi escrito por Barradas de Oliveira que, aconselhado pelo filho a dar ao jornal
uma orientação mais doutrinária e menos polémica, viu a sua tiragem descer.
Voltou à polémica e respondeu ao filho:
“Qual doutrina! O que eles querem é porrada!”
Como é do
conhecimento público, encontram-se os irmãos Ricardo e António Costa em
actividades profissionais diferentes. Este facto levou aquele jornalista, para
não ser alvo de suspeitas de falta de isenção em nome de laços de família, a pedir a demissão de director do Expresso, declinada de imediato pela
respectiva administração. Nada disto aconteceria se, pelo contrário, estivéssemos
em presença de dois irmãos que “eram
piores que inimigos – eram irmãos”, como escreveu, com o habitual humor
cáustico, Dino Segre (pseudónimo de Pitigrilli por, ainda segundo ele, “gostar de pôr os pontos nos ii”).
Por vezes,
em conversas, sobre determinados aspectos da vida política portuguesa, eu, que
me assumo de direita (não aquela direita ditatorial que não respeita os
direitos dos
cidadãos), dou comigo e alguns dos meus interlocutores de esquerda não radical,
surpreendidos, verdadeiramente surpreendidos, a exclamar: “Você é que parece de esquerda e nós de direita, ou vice-versa”!
Ao que
chegou o desencanto pelos partidos políticos desrespeitadores dos seus
compromissos eleitorais! Se vivesse hoje, teria razão Eça em
se mostrar tanto ou mais cáustico e desiludido com deputados que, segundo ele, “’perpetuamente’
discutem quem há-de organizar o País ‘definitivamente’”? Aliás, esta pecha
de afirmar que é definitivo (sinónimo de irrevogável) o que deixa de o ser, de um dia
para o outro, continua a fazer escola na actual política portuguesa!
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