Embora um pouco atrasado, e a nosso pedido, não podemos deixar de publicar segunda parte do texto (a primeira parte está aqui) do Prof. Victor Hugo Forjaz (na imagem), geólogo, sobre "O Dia Do Geólogo":
1 - A cartografia de Zbyszewski impressiona pelo rigor dos
limites geológicos. Mas enferma de um
mal de época, ou seja, nas cartas geológicas de temática vulcanológica não era
hábito seriar as formações por idades, mesmo que relativas. Como já se
registou, a carta de S. Jorge foi a primeira a adoptar essa norma. Terminada e impressa a cartografia geológica oficial
dos Açores, entrou-se na rotina de sempre -- um ou outro cientista estrangeiro
visitando uma ou outra ilha e a habitual campanha de Verão da Faculdade de Ciências de
Lisboa (FCUL). Ainda cheguei a permanecer na Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada durante três meses, em1969, (trabalhando também para o poço científico profundo Moho da Universidade canadiana de Dalhousie) mas o
Prof. Carlos Teixeira não conseguiu o meu destacamento por mais tempo. Entretanto passei a integrar, como
representante da Geologia, a Comissão Geotérmica do Grupo do
Petróleo, dirigida pelo Eng.º Barreto de Faria
e com escritório na Rua Braamcamp. A
FCUL ainda era representada pelo agrupamento de Geofísica (Prof. Luís Mendes-Victor). O Instituto Superior Técnico delegou no Prof. Luís Aires-Barros. A
Comissão Geotérmica trabalhou
arduamente mas foi esmorecendo até ao 25 de Abril de 1974 porque os interesses
petrolíferos eram gigantescos e poderosos a nível do arquipélago…
2 - Com a Revolução de Abril retomou-se o Projecto Geotérmico (PG) de S. Miguel. Em Agosto de 1975
organizou-se, nas Furnas, o gitadíssimo
Seminário NATO de Pequenas Centrais Geotérmicas (patrocinado pelo Ministério da Educação e pela embaixada dos EUA). Entretanto passei diversas semanas a visitar centrais geotérmicas em diversos estados da Califórnia, do México
e da América Central. Também estagiei em equipas de diversos poços geotérmicos profundos, nos Geysers. Na Califórnia
reencontrei o Eng.º Álvaro Silva, da Ribeira Grande, que se mostrou fulcral no
avanço do PG, via S. Francisco. Em Dezembro de 1975, encontrando-me no
Faial a estudar as fundações do novo
hospital, recebi o pedido para me apresentar, no regresso a Lisboa, no Palácio da
Conceição, em Sm Miguel, a convite do General Altino Pinto de Magalhães (Presidente da nova Junta Regional e que o
Prof. José Enes, residindo na Guarda, julgava ser Almirante, conforme carta de oferta dos seus serviços que me deram do Arquivo da Junta). Nesse fim
de Dezembro de 1975 aceitei, com muito
entusiasmo mas grande ingenuidade, fixar-me em S. Miguel uma temporada , secretariando a Junta no sector da
Investigação Científica e Ensino Superior (assim o estampam o contrato e a requisição à FCUL). Pretendia-se
instalar o Instituto Universitário dos
Açores -- IUA (depois Universidade) e o Instituto de Geociências dos Açores - IGA (que " genealogicamente" e após
difíceis " hemorragias" e "filharada" com diversos"
progenitores" gerou a actual Sogeo SA, em fase de integração em nova
empresa…).
3- Tomei posse em 1976. Reuni-me com os Professores
Frederico Machado, vulcanólogo, e Ávila Martins, geólogo. Idealizou-se como contratar
jovens geólogos de várias especialidades, geofísicos de diversos ramos e engenheiros desde civis a peritos em sondagens e em termodinâmica. E esses técnicos até
poderiam leccionar no IUA… Entretanto apareceu a legislação que criava o IUA
e surgiu a consequente Comissão Instaladora. Com os citados professores (FM e
AM) manteve-se a cordialidade de muitos
anos (aliás sucedi ao Prof Ávila Martins, no Departamento de Geociências, em
1982). Mas o Reitor José Enes, o Dr. Álvaro Monjardino e o Engº. João Bernardo Rodrigues, da Comissão Instaladora, moveram-me, de imediato, demolidora e inesperada " guerra". Ou seja, tontamente temiam que a geotermia
- via IGA - ofuscasse o IUA! E que a geotermia iria diminuir drasticamente as vendas de petróleo, suspeitou-se também… Foi
um erro crasso!
4- O contrato da geotermia foi assinado em 1976, em S. Miguel, com grande pompa, para acalmar a
FLA, segundo o General…. Deslocaram-se à
ilha o Dr. João Palma Carlos, Procurador Geral da República e o Secretário de
Estado da Energia. Em concurso internacional já estava seleccionada, como operador geral, a empresa norte americana
Geonomics Inc. Contratualmente, a cada técnico estrangeiro correspondia um
técnico português visando a transferência de know how. Assim - ao petrólogo estrangeiro correspondia o Dr. Herlander Correia, perito vindo da
Universidade de Évora. Ao hidrogeólogo italiano equivalia o Dr. José
Barradas, hoje Professor na Universidade de Aveiro. Ao geofísico "expert" em geoelelectricidade associava-se o Dr. Luís
Teodoro (que executou brilhante trabalho nas pesquisas geotérmicas da Terceira,em 1997, com Francisco Rocha ). Ao sismólogo californiano equivalia a Dr.ª Manuela Mendes, hoje distinta professora do IST. Como empresa sondadora
escolheu-se a nacional A.Cavaco.de raiz açoreana. Etc., etc. Durante quatro anos vasculharam-se as geologias e as profundezas de algumas ilhas e, em 1980, o vulcão
do Fogo - Serra de Água de Pau começou a produzir geoelectricidade! Ao fim e ao cabo fez-se em 1976-1980 o que agora se pretende realizar com os islandeses através do programa de
treino e de formação etiquetado de GAIa-EU 2020, pomposamente anunciado pelo
grupo EDA como uma grande novidade… Irra - levaram anos a compreender que depender de estrangeiros custa milhões! Milhões irrecuperáveis .
Mas porque falharam os ensinamentos de 1976-80? Conduzindo
ao regresso de imprescindíveis técnicos
às suas origens continentais?.... Apenas porque invejas pessoais, políticos metediços e o desejo de poder por absolutos ignorantes
assaltaram o projecto geotérmico. Apenas em 1991 o bom senso e as escolhas
certas seleccionaram as soluções certas. Mas, em 2002, regressaram as "encenações" de
Monteiro da Silva e de um Rui qualquer coisa, geólogo-director do campo
geotérmico , ambos qual triste sina. O
maior projecto geológico dos Açores já terá feito contas aos milhões perdidos e ao tempo desacreditado?
5- Nesta listagem ainda se justificaria uma análise da geologia universitária, desde
1995, comparando-a com o período 1981-1995. Mas o Dia do Geólogo tem espaço limitado .Essa
análise sairá publicada mais adiante.
Porque, entretanto, relendo Shakespeare, deparei com os gritos impotentes do Rei Lear perante a Ímpia Fatalidade e o Feroz Destino que não conseguimos controlar:
- "Esta
é a praga destes tempos quando loucos guiam os cegos!"
Victor-Hugo Forjaz, 30-31 de Maio de 2014 .
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