quarta-feira, 25 de junho de 2014

O MUNDO EM TRANSIÇÃO


Luís Queirós é natural de S. Pedro de Rio Seco, a mesma terra na raia beirã onde nasceu Eduardo Lourenço,  licenciou-se em Ciências Físico-Químicas na Faculdade de Ciências de Lisboa e ensinou Matemática no Instituto Superior de Economia. Fundou a Associação Rio Vivo que se dedica ao desenvolvimento sustentável do interior e dirige a Fundação Vox Populi,  que fundou em 2008, que se dedica a promover o uso escolar de estudos de  opinião pública e a ajudar zonas debilitadas. Fundou e presidente da empresa Marktest, que  é hoje uma multinacional, mas o seu principal interesse é a análise das questões energéticas e do desenvolvimento equilibrado.

O livro "O Mundo em Transição",. com o subtítulo "Reflexões sobre Crescimento, População, Poluição e Recursos Naturais" é um conjunto de pequenas crónicas, agrupadas em seis capítulos após uma introdução: Economia, Recursos, Naturais e Poluição,  Demografia e Crescimento, Mundo Globalizado, Crise em Portugal e na Europa, e o Mundo em Transição. Ao longo da obra, onde  está bem patente a formação científica do autor, sobressai, como os títulos dos capítulos já indicam, uma preocupação muito viva com o futuro do nosso planeta, um planeta cujos recursos, designadamente  energéticos, são finitos. Além disso, a exploração desses recursos está sujeita às leis da física: a energia conserva-se, enquanto a energia útil se vai inexoravelmente perdendo. Fala por exemplo do "pico de petróleo", uma questão muito debatida acerca do previsível começo do esgotamento desse recurso natural: para os mais pessimistas  já ocorreu, para outros ocorrerá entre 2015 e 2020. 

Luís Queirós fala das teorias do especialista em gestão Dennis Meadows sobre os limites do crescimento: poderá uma economia continuar indefinidamente a crescer num ambiente de recursos limitados? O famoso relatório do Clube de Roma de 1972 continua ainda hoje a ser fonte de discussão. Para o autor, o sistema formado pela interacções entre indivíduos e organizações, "não pode contrariar as poderosas forças primárias que sobre ele se exercem, e que dependem mais das leis da Física e da Termodinâmica do que das leis da Economia".  Dá exemplos curiosos como as ideias económicas de Frederick Soddy, um cientista inglês que foi Prémio Nobel da Química por ter esclarecido a origem da radioactividade e o sugnificado de isótopos, para quem a "riqueza real está irremediavelmente enraizada na realidade física" (o que já não acontece com a riqueza virtual, que se baseia na crença de geração de riqueza real). Para Soddy sempre que uma economia baseada na dívida deixar que esta cresça mais do que a produção de riqueza real, a bancarrota será inevitável.  

O autor gosta de citar o físico nuclear (falecido em 2013) Alfred Bartlett, da Universidade do Colorado: "O maior defeito do pensamento humano é não entender as consequências do crescimento exponencial". Ele deu uma palestra intitulada "Arithmetic, Population and Energy: Sustainability"  1742 vezes em todo o mundo.  Baseado no crescimento exponencial da população nos últimos 700 anos, Bartlett  previu que, daqui a 700 anos, haja um habitante por metro quadrado da superfície terrestre. Estaríamos condenados a viver apertadinhos! Um neo-malthusiano, portanto. Mas é sabido como Malthus se enganou, ao não ter previsto o crescimento de recursos. A criatividade humana, traduzida pela ciência e pela tecnologia, revelou-se imprevisível.  Li com muito gosto o livro de Queirós (lêem-se bem os seus vários textos, relacionados mas independentes), mas a sua  muito útil discussão sobre os limites lembra-me um debate que  houve em tempos entre o biólogo pessimista Paul Ehrlich (autor de "The Population Bomb", de 1968) e o economista optimista Paul Simon  (já falecido): os dois fizeram uma aposta em 1980 sobre a evolução de custos de cinco metais, devido ao seu esgotamento ao longo de uma década. E o pessimista perdeu! Os recursos serão limitados, mas a nossa capacidade de os explorar tem-se revelado espantosamente criativa.   

- Luís Queirós, "O Mundo em Transição", Âncora e Fundação Vox Populi, 2.ª edição, 2013.

1 comentário:

Anónimo disse...

Malthus não se enganou. O que ele não podia prever, em 1800, é que uma coisa chamada petróleo mudaria a economia e a face da terra. E espantoso que um físico como Fiolhais não compreenda coisas tão básicas como estas: 1) o crescimento exponencial da riqueza e da população nos últimos 200 anos só foi possível graças à captura de quantidades cada vez maiores de energia; 2) é impossível crescer infinitamente num planeta finito, 3) a nossa economia só funciona com crescimento, e o a base do crescimento é a energia barata, com o o fim do petróleo barato, acaba-se o crescimento. E acabando o crescimenti, o sistema financeiro implode.

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