terça-feira, 13 de agosto de 2019
Coimbra e o poder da abstenção
Texto de Santana-Maia Leonardo nas Beiras no dia 12/8, que transcrevemos com a devida vénia (contém no final uma proposta original):
Basta ter em conta o impacto nacional que o boicote às eleições de uma pequena, remota e esquecida aldeia remota transmontana causa para perceber que essa é a única arma que o interior norte e o Alentejo, actualmente, dispõem para enfrentar Lisboa e fazer-se ouvir a nível nacional e internacional.
Para os residentes na cidade Lisboa-Porto, o voto é uma arma porque tem poder decisório dentro do nosso modelo grego de desenvolvimento assente na Cidade Estado; no entanto, para os residentes no Alentejo e no interior norte, o voto é absolutamente inútil e ilusório, porque não há no nosso espectro político um único partido que levante a voz contra este modelo de desenvolvimento e defenda o modelo de desenvolvimento holandês das cidades médias.
Para os residentes do Alentejo e do interior norte, só a abstenção em massa e o boicote eleitoral têm capacidade para ter impacto eleitoral, ser notícia e fazer tremer o Terreiro do Paço. Portalegre elege, actualmente, dois deputados (um do PS e outro do PSD, seja qual for o resultado), destinados à última fila do parlamento, a não ser que sejam candidatos do partido residentes em Lisboa e impostos por Lisboa.
Se o distrito se recusasse a participar nas eleições, enquanto Lisboa não olhasse para o distrito como parte integrante de Portugal, Lisboa não tinha outro remédio a não ser olhar, porque um boicote desta dimensão teria um impacto internacional devastador para o governo.
E então se fosse o Alentejo e o interior norte, o Governo ajoelhava porque a UE teria muito dificuldade em compreender por que razão um país que recebeu tantos fundos de coesão tinha, afinal, acentuado ainda mais os graves e profundos desequilíbrios que os fundos se destinavam a corrigir.
No entanto, face ao acelerado processo de desertificação que, tal como os incêndios, está a varrer todo o interior de Portugal, apenas a Coimbra, pela sua localização fronteiriça, ou seja, junto à A1 (a verdadeira fronteira de Portugal) e pela força da sua universidade e da sua história (onde D. Afonso Henriques já não dorme paz!), tem ainda capacidade para liderar o último e decisivo combate contra
os fundamentalistas da Cidade Lisboa.
Santana-Maia Leonardo
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