À medida que as férias de Verão se aproximam vou fazendo um
montinho de livros para ler nessa altura. Ou melhor, dois montinhos, um de
ficção e outro de não ficção. Eis aqui alguns livros do primeiro montinho, isto
é, de ficção publicada entre nós recentemente. Presumo que sejam bons para a
canícula, apesar de não os ter lido ainda (apenas depeniquei partes de alguns).
Mas também posso ter desilusões. Têm uma particularidade comum: todos eles, de
uma maneira ou de outra, por vezes longínqua, por vezes secreta, têm a ver com
a ciência. Aliás um livro de ficção pode ter a ver com ciência ao recusá-la
deliberadamente. A ordem é a alfabética
do nome do autor.
- Canin, Ethan, “O homem que duvidava”, Minotauro, 2017
Publicado no original em 2016 pela Random House “The
Doubler’s Almanac” e anunciado como um “best-seller” (“besta célere” diria o
Alexandre O’Neill) do “New Tork Times” este é o sétimo livro de um escritor
norte-americano do Michigan que, antes de viver da escrita, era médico. O
êxito dos seus livros permite-lhe agora concentrar-se no que mais gosta de
fazer. Conta a saga familiar de um génio
matemático, uma mente ofuscante, que vai semeando o caos à sua volta...
-“Épico de Gilgames” (tradução, introdução e notas de
Francisco Luís Parreira), Assírio e Alvim, 2017
Este é um dos mais antigos livros do mundo, uma vez que foi
escrito em finais do segundo milénio antes de Cristo. Mas resistiu bem ao
tempo. Conta a história do poderoso rei
babilónio Gilgames, “aquele que testemunhou o abismo”, conforme conta o
primeiro verso da epopeia, escrita originalmente em caracteres cuneiformes em
tábuas de argila. Edição muito cuidada tanto na tradução como nas eruditas
notas. São relatos lendários, que nos trazem mitos do início do mundo bastante
diversos dos que nos são mais comuns.
- Delillo, Don, “Zero
K”, Sextante Editora, 2016
O famoso escritor norte-americano Don Delillo, autor entre
outras obras de “Ruído Branco” e
“Submundo”, apresenta-nos um livro de
ficção científica sobre a possibilidade de resistir à morte através da criopreservação,
isto é, preservação do corpo perto do zero absoluto (este zero, chamado zero kelvin,
fica 273,15 graus abaixo do zero Celsius). A esperança é que um dia novos avanços
da medicina permitam trazer à vida plena corpos atingidos por doenças que hoje são
fatais. Parece um livro sobre a morte, mas é um livro sobre a vida, a estranha vida
nos tempos de hoje.
- Perry, Sarah, “A Serpente do Essex”, Minotauro, 2017
Saído da mesma editora que “O homem que duvidava” e
igualmente com uma capa que chama a
atenção (da autoria da FBA, trabalhando sobre o design do original) este
romance é o segundo da autora inglesa, depois do grande êxito obtido com o
primeiro. Conta a história de uma naturalista
que vai viver para o Essex, não por acaso terra natal da autora, onde se vê
confrontada com a suposta aparição nos pântanos de um animal lendário, do género
do monstro do “Loch Ness”. Céptica, logo quer investigar o que se passa. E é
assim que conhece o padre local, iniciando-se um encontro de duas personagens
diferentes que, no entanto... Este livro integrou “short-list” do prestigiado Prémio
do Livro de Ciência da Wellcome de 2017, um prémio que raramente inclui obras
de ficção.
- Rodrigues, Alexandre Marques, “Entropia”, Teodolito, 2017
Tal como “Zero K”, este é um livro com uma palavra da
termodinâmica, o ramo da física que estuda a energia, no título. O autor é um
psicólogo brasileiro, nascido em Santos, São Paulo, sendo este o seu segundo
romance. A segunda lei da termodinâmica ou lei da entropia aparece logo na
portaria do livro, em notação matemática.
Mas o leitor não se assuste que não tem que saber física nem
matemática. Dividido em quatro
capítulos, cujos títulos foram
tomados de heróicas batalhas napoleónicas
(Trafalgar, Moscovo, Leipzig e Waterloo), esta é a história de um não-herói
contemporâneo.
- Wells, H.G., “A máquina
do tempo”, Antígona, 2016
O escritor inglês Herbert
George Wells, que passou um tempo em Portugal a recuperar de uma doença, é um dos
grandes nomes da ficção científica. Esta é uma nova tradução (da
responsabilidade de Tânia Ganho, uma escritora) de um seu clássico, que
beneficia de uma introdução de Manuel Portela, professor da Universidade de
Coimbra especialista em Estudos Ingleses. A capa mostra a “geringonça” que
permite explorações temporais. A história
do viajante no tempo tem sido glosada à exaustão não só na literatura
como no cinema e só se podem compreender as réplicas se se conhecer o original.
- Zinc, Rui, “O livro sagrado da factologia”, Teodolito,
2016
Este é um livro da era Trump, da era dos factos
alternativos. Um cidadão é apanhado por uma rede de perigosos malfeitores, ficando o leitor suspenso do enredo, com
elementos distópicos, que oscila entre o humor e o terror. Com humor, o autor
declara que o livro responde a uma questão muito profunda que nos
interessa a todos: “O futuro vai ser bem ou mal passado?” O grande problema é
que não sabemos.
Bom Verão. Boas leituras!
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