sábado, 24 de junho de 2017

LIVROS PARA O VERÃO


À medida que as férias de Verão se aproximam vou fazendo um montinho de livros para ler nessa altura. Ou melhor, dois montinhos, um de ficção e outro de não ficção. Eis aqui alguns livros do primeiro montinho, isto é, de ficção publicada entre nós recentemente. Presumo que sejam bons para a canícula, apesar de não os ter lido ainda (apenas depeniquei partes de alguns). Mas também posso ter desilusões. Têm uma particularidade comum: todos eles, de uma maneira ou de outra, por vezes longínqua, por vezes secreta, têm a ver com a ciência. Aliás um livro de ficção pode ter a ver com ciência ao recusá-la deliberadamente.  A ordem é a alfabética do nome do autor.

- Canin, Ethan, “O homem que duvidava”,  Minotauro,  2017

Publicado no original em 2016 pela Random House “The Doubler’s Almanac” e anunciado como um “best-seller” (“besta célere” diria o Alexandre O’Neill) do “New Tork Times” este é o sétimo livro de um escritor norte-americano do Michigan que, antes de viver da escrita, era médico. O êxito dos seus livros permite-lhe agora concentrar-se no que mais gosta de fazer. Conta  a saga familiar de um génio matemático, uma mente ofuscante, que vai semeando o caos à sua volta...

-“Épico de Gilgames” (tradução, introdução e notas de Francisco Luís Parreira), Assírio e Alvim, 2017

Este é um dos mais antigos livros do mundo, uma vez que foi escrito em finais do segundo milénio antes de Cristo. Mas resistiu bem ao tempo. Conta a história  do poderoso rei babilónio Gilgames, “aquele que testemunhou o abismo”, conforme conta o primeiro verso da epopeia, escrita originalmente em caracteres cuneiformes em tábuas de argila. Edição muito cuidada tanto na tradução como nas eruditas notas. São relatos lendários, que nos trazem mitos do início do mundo bastante diversos dos que  nos são mais comuns.

-  Delillo, Don, “Zero K”, Sextante Editora, 2016

O famoso escritor norte-americano Don Delillo, autor entre outras obras de “Ruído Branco”  e “Submundo”, apresenta-nos  um livro de ficção científica sobre a possibilidade de resistir à morte através da criopreservação, isto é, preservação do corpo perto do zero absoluto (este zero, chamado zero kelvin, fica 273,15 graus abaixo do zero Celsius). A esperança é que um dia novos avanços da medicina permitam trazer à vida plena corpos atingidos por doenças que hoje são fatais. Parece um livro sobre a morte, mas é um livro sobre a vida, a estranha vida nos tempos de hoje.

- Perry, Sarah, “A Serpente do Essex”, Minotauro, 2017

Saído da mesma editora que “O homem que duvidava” e igualmente com uma  capa que chama a atenção (da autoria da FBA, trabalhando sobre o design do original) este romance é o segundo da autora inglesa, depois do grande êxito obtido com o primeiro. Conta  a história de uma naturalista que vai viver para o Essex, não por acaso terra natal da autora, onde se vê confrontada com a suposta aparição nos pântanos de um animal lendário, do género do monstro do “Loch Ness”. Céptica, logo quer investigar o que se passa. E é assim que conhece o padre local, iniciando-se um encontro de duas personagens diferentes que, no entanto... Este livro integrou “short-list” do prestigiado Prémio do Livro de Ciência da Wellcome de 2017, um prémio que raramente inclui obras de ficção.

- Rodrigues, Alexandre Marques, “Entropia”, Teodolito, 2017

Tal como “Zero K”, este é um livro com uma palavra da termodinâmica, o ramo da física que estuda a energia, no título. O autor é um psicólogo brasileiro, nascido em Santos, São Paulo, sendo este o seu segundo romance. A segunda lei da termodinâmica ou lei da entropia aparece logo na portaria do livro, em notação matemática.  Mas o leitor não se assuste que não tem que saber física nem matemática.  Dividido em quatro capítulos, cujos títulos  foram tomados  de heróicas batalhas napoleónicas (Trafalgar, Moscovo, Leipzig e Waterloo), esta é a história de um não-herói contemporâneo.

-  Wells, H.G., “A máquina do tempo”, Antígona,  2016

O  escritor inglês Herbert George Wells, que passou um tempo em Portugal a recuperar de uma doença, é um dos grandes nomes da ficção científica. Esta é uma nova tradução (da responsabilidade de Tânia Ganho, uma escritora) de um seu clássico, que beneficia de uma introdução de Manuel Portela, professor da Universidade de Coimbra especialista em Estudos Ingleses. A capa mostra a “geringonça” que permite explorações temporais. A história  do viajante no tempo tem sido glosada à exaustão não só na literatura como no cinema e só se podem compreender as réplicas se se conhecer o original.

- Zinc, Rui, “O livro sagrado da factologia”, Teodolito, 2016

Este é um livro da era Trump, da era dos factos alternativos. Um cidadão é apanhado por uma  rede de perigosos malfeitores,  ficando o leitor suspenso do enredo, com elementos distópicos, que oscila entre o humor e o terror. Com humor,  o autor  declara que o livro responde a uma questão muito profunda que nos interessa a todos: “O futuro vai ser bem ou mal passado?” O grande problema é que não sabemos.

Bom Verão. Boas leituras!



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