Aguardente de Abrunho
A atmosfera clara do zimbro
escureceu e ficou hibernal.
Ela deu aguardente a beber
aos abrunhos, e selou o frasco.
Quando o desarrolhei
cheirei a quietude acre
e perturbada de um arbusto
insinuando-se na copa.
Quando a deitei no copo
tinha um travo cortante
e resplandecia
como a Betelgeuse.
Faço-te um brinde
com abrunhos lustrosos,
roxos, mosqueados, ácidos
e fiáveis.
Velho Ferro de Passar
Vi-a muitas vezes levantá-lo
De onde a sua cunha compacta
Se plantava sobre o fogão
Como um rebocador ancorado.
P’ra lhe testar o calor ela olhava-o
E cuspia-lhe na face de ferro,
Ou colocava-o junto ao rosto
P’ra predizer a ameaça que ele abrigava.
Brandas pancadas na tábua de passar.
Fletido e às covinhas, o seu cotovelo,
E o corpo inclinado e decidido
Quando avançava sobre a roupa branca
Com o ferro de passar, como uma plaina,
Como o ressentimento de mulheres.
Trabalhar, diz o seu ímpeto em silêncio,
É deslocar uma certa massa
Através de uma certa distância
É aguentar o nosso fardo e nos sentirmos
Na sua escala, à sua altura.
Sentir o peso. E a impulsão.
Sem comentários:
Enviar um comentário