Por que é que Portugal não é um
país mais rico? Entre as razões para o nosso inferior desenvolvimento a mais decisiva é talvez a
falta de qualificações dos portugueses. Numa sociedade dita do conhecimento, os
trabalhadores portugueses deixam muito a desejar se adoptarmos uma bitola
internacional. Basta olhar na PORDATA para as qualificações dos portugueses
activos (população entre os 15 e os 64 anos) para nos apercebermos que cerca de
metade (51%) não tem mais do que a escolaridade básica. Dos outros, 25%
completaram o ensino secundário e só 24% o superior. Para a Irlanda, só para
dar um exemplo, esses números são: 15% (básico), 39% (secundário) e 43%
(superior). Claro que houve entre nós um
enorme progresso nas últimas décadas, mas estamos longe, muito longe, dos
padrões da União Europeia. Precisamos de mais e melhor escola.
Acontece que o ambiente nas nossas
escolas não é hoje o melhor. Os professores portugueses do básico e secundário sentem-se,
ao fim de quatro anos de desinvestimento na área educativa, desamparados. A
braços com turmas cada vez maiores, em agrupamentos cada vez mais amplos, os
docentes sentem que o seu trabalho não tem sido devidamente apreciado nem pelo
governo nem pela sociedade. Não é apenas a redução dos salários, que afectou
sobremaneira a classe média de que eles fazem parte, é também e sobretudo o
facto de não verem justiça nem na entrada na carreira (a famigerada prova de
avaliação de professores criou problemas em vez de resolver os existentes) nem
na progressão nela (a formação contínua não tem quaisquer efeitos práticos).
Não é apenas a amplitude da mudança curricular que caiu repentinamente sobre o
sistema de ensino, é também e principalmente o facto de eles não terem sido devidamente
envolvidos nessa mudança. Não é apenas a circunstância de a autonomia das
escolas ser mais um chavão do discurso político do que uma realidade, é também e
essencialmente o facto de eles verificarem não existir nas escolas, sob o
continuado comando da 5 de Outubro, um ambiente favorável para aproveitar a
autonomia disponível. Acima de tudo sentem que as suas expectativas
relativamente ao ministro Nuno Crato saíram defraudadas: levaram-no em ombros a
ministro e concluíram, passado pouco tempo, que se tinham enganado. Ou que
tinham sido enganados. O ministério da Educação não foi implodido, o que foi
implodida foi a esperança depositada no ministro.
O novo ministro, Tiago Brandão
Rodrigues, é novo, tem 38 anos. Tem a seu favor a frescura de uma relativa
juventude (é uma nova geração, nascida após o 25 de Abril de 1974, que chega ao
poder) e uma certa inocência de quem acaba de chegar lá de fora. Tem também a
seu favor o facto de saber, como cientista aqui formado e bem sucedido no estrangeiro,
que a escola tem um papel insubstituível na qualificação dos cidadãos. E, filho
de uma professora primária, tem ainda a seu favor a sua consciência do valor
dos professores. É novo? Sim, é. Mas isso é algo que, inevitavelmente, vai passar.
É inexperiente? Sim, é. Tem contra si a falta de experiência em assuntos de
política educativa, mas o certo é que, no passado, pessoas com experiência não
corresponderam ao esperado.
Na educação precisamos de
confiança. Precisamos de depositar confiança nos professores, nos numerosos
professores que, de forma devotada, se dedicam a preparar os seus alunos para a
vida. Do novo ministro espera-se que contribua para que eles façam melhor, num
ambiente que deve ser de trabalho e de normalidade e não de exacerbado
confronto político. Consegui-lo-á? Não sei, não é nada fácil, mas quero
acreditar que sim.
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