Em 1904, Guerra Junqueiro confessou a Raul Brandão que
entrevira a dissociação dos átomos e a radiação universal. Esta passagem está
nas memórias do escritor de Húmus.
«– As últimas descobertas modificaram completamente a ciência.
Foi um terramoto. E eu entrevi isto mesmo: há anos que chegara ao seguinte
resultado: – radiação universal e dissociação dos átomos. Fiz experiências que
me deram resultados incompletos, procurei homens de ciência que não me quiseram
atender. Um dia vim de propósito a Lisboa falar a Sousa Martins e expus-lhe as
minhas teorias. Ouviu-me… Quando me fui embora encolheu decerto os ombros. E, no
entanto, passados anos, vejo confirmado experimentalmente tudo o que
previra… Que quer?... Faltava-me, como compreende, meios de verificação.
Precisava de factos.»
Guerra Junqueiro, como é óbvio, referia-se à descoberta dos
raios X por W. C. Röntgen; à descoberta do eletrão por J.J Thomson; à
verificação da emissão de uma nova radiação pelo átomo de urânio nos cristais
de sulfato duplo de potássio e uranila, por A. H. Becquerel; à confirmação de
Marie Curie da nova radiação não só no urânio mas também no tório,
comportamento ao qual chamara de radioatividade; à descoberta da radiação β e
da radiação α por Ernest Rutherford; à descoberta da radiação ɣ por Paul Villard e à fórmula de Max Planck
para a emissão de energia de um corpo negro.
Desconheço os trabalhos científicos de G. Junqueiro para
provar a sua ideia de que toda a matéria se reduzia a luz, a estados de
energia, e que está bem presente na Oração
à luz.
Oração à luz (fragmentos)
(…)
O mundo, ó
luz, te absorve e te devora,
Mas revives
no mundo mais intensa,
Mais próxima
de Deus a cada hora,
Nas vidas
todas d’ esta vida imensa,
Vidas sem
fim, almas sem fim,
Que o
segredo do amor junta e condensa,
Por meus
olhos magnéticos, em mim!
Lampejam no
meu corpo, humanizadas,
Mortas
constelações e mortas alvoradas.
Desde que a
vida me gerou em dor,
E fui éter,
estrela, água, montanha e flor.
(…)
Todo o meu
corpo é luz esplendorosa,
Sou um hino
de luz religiosa,
Gravitando
na orbita de Deus…
Milhões d’
auroras riem do meu canto,
Ondas d’
estrelas brilham no meu pranto,
Pélagos de
luas há nos olhos meus!…
Esta carne,
este sangue, esta miséria,
E este ideal
imortal que me conduz,
Já foram
brasas na amplidão etérea,
Por isso
exultam devorando a luz…
1 comentário:
Um homem desta envergadura (bandeira ao vento) prova a dimensão o saber.
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