Entendo que nunca é tarde para denunciar erros e omissões, mais ainda, se forem erros que parecem ter sido cometidos maquiavelicamente, por serem verdadeiras ofensas à inteligência das pessoas. Dia após dia, erros desse tipo persistem teimosamente. Tenhamos esperança que este estado de coisas acabe por mudar depressa. Não acredito que, neste pobre país, não existam pessoas com verdadeira noção do que é a ciência.
Como não quero deixar de lutar por aquilo que, racionalmente, considero ser a verdade, elaborei o quadro de baixo. Nele reuni a informação que, após reclamação da “avaliação” anterior das várias unidades de ID do Sistema Científico e Tecnológico Nacional que se sentiram prejudicadas aquando da primeira fase de “avaliação” – nas Universidades e nos Institutos Politécnicos com Centros de ID financiados pela FCT. Este Quadro respeita apenas àquilo que é, actualmente, chamado em Portugal "ciências agrárias". Como não tenho veleidade de querer ou poder saber de tudo, limitei-me àquilo que a FCT no seu alto critério, considera áreas científicas de ciências agrárias. Entendo, porém, que, em todos ramos de saber, os nomes das ciências, puras ou aplicadas, devem mudar de acordo com o avanço do conhecimento científico.
Para facilidade de análise, dividi este quadro em quatro partes. Uma primeira respeita aos Centros sediados na Universidade de Lisboa; a segunda respeita aos Centos sediados em Vila Real; a terceira respeita aos Centros sediados na Universidade do Porto; e, finalmente, surgem os Centros sediados no resto do país.
No passado ainda recente, existiu na FCT uma Comissão de Ciências Agrárias, Comissão que, julgo eu, integraria, obrigatoriamente, engenheiros agrónomos, médicos veterinários, engenheiros silvicultores e engenheiros zootécnicos – porque existem todos estes profissionais hoje - nacionais ou predominantemente nacionais. Todos eles eram doutorados, como é óbvio, em Portugal e/ou no estrangeiro. Deviam possuir prestígio amplamente reconhecido pela comunidade científica nas suas áreas. Estes profissionais deveriam avaliar bolsas de doutoramento ou pós-doutoramento, projectos de Investigação e Unidades de investigação Científica. Não sei se eles foram
ouvidos.
CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
- Center for Interdisciplinary Research on Animal Health (CIISA) UTL - FMV, Lisboa, Muito Bom, 200 mil Euros
- Centro de Estudos Florestais UTL – ISA, Lisboa, Muito Bom, 258 mil Euros
- Ligando Paisagem, Ambiente, Agricultura e Terra, UTL – ISA, Lisboa, Muito Bom, 352,638 mil Euros
- Center of Research on Environmental Agro-Technologies (CITAB), UTAD, Vila Real, Muito Bom, 200 mil Euros
- Centro de Estudos Transdisciplinares (CETRAD), UTAD, Vila Real, Muito Bom, 75 mil Euros
- Research Network in Biodiversity Instituto de Ciências e Evolucionary Biology- Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias, U. Porto, Muito Bom, 754 mil Euros
- Centro de Estudos de Ciência Animal (CECA), U. Porto, Bom, 10 mil Euros
- Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas, ICAAM, U. Évora, Financiamento: ? .
- Centro de Estudos de Agricultura de Montanha (CIMO), ESA Bragança, Financiamento: ?
Outras Unidades não constam da lista divulgada pela FCT.
BREVES COMENTÁRIOS
1. Em primeiro lugar, quero destacar uma clara ilação que se extrai deste Quadro: para os avaliadores da FCT-ESF, na investigação agrária, algumas Unidades foram ignoradas no "bolo final" ou, talvez mais polidamente, não puderam ser consideradas. Teremos de concluir que boa parte das propostas foram consideradas fracas, sem mérito científico algum, ou com grandes faltas de mérito em diversos pontos. Não passaram de medíocres ou mesmo más ou, quem sabe, muito más. Se assim foi e uma vez que este governo, sem cessar, usa o termo "excelência", só entendo uma solução coerente com tal discurso: mudem-se (despeçam-se, se for preciso!) os professores que ensinaram ou tentaram ensinar aquilo que em todo o mundo avançado é conhecido por ciências agrárias. Na linha da moda, (re)qualifiquem devidamente os professores e/ou instituições e revejam-se urgentemente as matérias que nestas Escolas os professores ensinam.
Esclareço que alguns Centros foram classificados com Bom ou com Regular. Certamente generosidade dos avaliadores, tão maus, na sua opinião, devem eles ser. Os Centros assim classificados não vão receber financiamento algum. Nem uns míseros 10 mil euros - como um Centro constante do Quadro receberá (da Universidade do Porto, que teve Bom)! Em palavras simples: estes Centros vão morrer. Se ainda não morreram já...
2. O Research Network in Biodiversity and Evolucionary Biology, da Universidade do Porto, teve um financiamento de 754 mil Euros, um pouco menos (47 mil Euros) do que os três Centros de Lisboa financiados pela FCT – dois na área florestal (acolhidos pelo Instituto Superior de Agronomia) e um na área da saúde animal (acolhido pela Faculdade de Medicina Veterinária), todos eles, é justo que se diga, com créditos bem firmados no mundo cientifico. Todavia, quando consultamos na Internet Research Network in Biodiversity and Evolucionary Biology aparece-nos de imediato a palavra CIBIO. Ora nenhuma das valiosas publicações do CIBIO – quer de 2014 quer já de 2015 (nos anos anteriores foram muitas: não as procurei), cobrem – ao de leve que seja – assuntos de ciências ou de tecnologias agrárias. De resto nem seria de esperar que o fizessem; seria sinal de que as publicações estavam absolutamente deslocadas – o CIBIO é um Centro com elevada credibilidade científica no seu sector, mas este não é o das ciências agrárias. Então parece inevitável a pergunta: este “jogo” é limpo ou está viciado à partida?
3. E quanto ao resto do país? Bem, sobre o CECAV (UTAD), no essencial, já me pronunciei em Agosto passado neste blogue. Mantenho o que então afirmei que posso resumir num sábio ditado popular: quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele...
4. E para o fim deixo a Universidade de Évora, talvez por hoje me ficar distante. Que se passou no domínio da “avaliação” em ciências agrárias? Num número do jornal PÚBLICO de Agosto passado, investigadores responsáveis pelo ICAAM protestaram – e bem! - contra a inacreditável decisão tomada pela dupla FCT-ESF - nem Muito Bom nem sequer Bom! Pergunto: com aquelas condições, materiais e humanas, no país poder-se-á reunir melhor? Não será preciso o trabalho do ICAAM para o desenvolvimento harmonioso daquela vasta região do país? Terá um planeamento descabido?
Enfim, não entendo nada, mesmo nada, dos critérios de classificação das Unidades de Investigação Agrária. Os actuais “responsáveis” apregoam que é necessário fazer investigação (também agrária, certamente) de alta qualidade – de excelência, dizem eles! Mas o CICAAM não parece reunir qualidade suficiente para a sua investigação ser financiada pela FCT.
Segundo O DICIONÁRIO DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS de LISBOA, "excelência" significa ”qualidade do que é muito bom, excelente”. Neste processo de “avaliação” parece que as palavras não se aplicam com o significado que se conhece. Neste aspecto, será justo dizer que a FCT tem mostrado grande desenvoltura.
Arnaldo Dias da Silva
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