Imagem artística do sistema Kepler-444, com os seus cinco planetas do tipo terrestre, dois dos quais em trânsito.
(Crédito: Tiago Campante/Peter Devine)
Há cerca de 13,8 mil milhões de anos
ter-se-á iniciado a evolução do Universo em que existimos. Cerca de 380 mil de
anos depois de ter ocorrido o evento designado por “Big Bang”, ter-se-ão
formado os primeiros átomos e a luz pôde espalhar-se pelo espaço: o universo
tinha-se tornado transparente à luz.
Os primeiros átomos, maioritariamente
hidrogénio, deram origem à formação das estrelas de primeira geração, muito
massivas, brilhantes e com tempos de vida muito curtos (3 milhões de anos,
contra os 10 mil milhões para o nosso Sol). A explosão destas primeiras
estrelas semeou o universo com o seu futuro. Novas estrelas formaram-se, com
tempos de vida mais longos, e agregaram-se em galáxias. A galáxia a que
pertencemos, a Via Láctea, ter-se-á formado há 13,6 mil milhões de anos. O
nosso sistema solar formou-se há cerca de 4,6 mil milhões de anos. Ter-se-ão
formado sistemas planetários antes do nosso? Se sim, há quanto tempo?
Na década de 90 do século passado,
descobrimos que o Sol não é a única estrela a ser orbitada por planetas. Outras
estrelas também têm planetas e respectivos sistemas planetários. Desde então,
já foram descobertos cerca de 2000 planetas (mais precisamente, exoplanetas) a
orbitarem outras estrelas da nossa galáxia, mais ou menos distantes de nós.
Mas os avanços na instrumentação astronómica
e astrofísica não param de nos surpreender e revolucionar o que julgávamos estabelecido,
com as novas descobertas que nos proporcionam.
Agora, graças a dados que a missão
espacial Kepler da NASA recolheu ao longo de 4 anos, uma equipa internacional, da qual fazem
parte os investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA)
Vardan Adibekyan, Nuno Santos e Sérgio Sousa, publicou a descoberta do sistema planetário
Kepler-444 (ver animação) na edição do
dia 27 de Janeiro da revista The
Astrophysical Journal (ver artigo).
Este sistema tem cinco planetas, com
tamanhos próximos do da Terra, e ter-se-á formado há 11,2 mil milhões de anos,
próximo do início da Via Láctea. Quando a Terra se formou, os exoplanetas deste
sistema já eram mais velhos do que a idade actual da Terra. Este é por isso o
mais antigo sistema estelar conhecido a albergar exoplanetas do tipo terrestre.
Para Vardan
Adibekyan, citado no comunicado de imprensa do IA,
“a descoberta de um sistema com planetas
do tipo terrestre, tão antigo como o Kepler-444, confirma que os primeiros
planetas se formaram muito cedo na vida da nossa Galáxia, o que nos dá uma
indicação de quando terá começado a era da formação planetária.”
Este sistema, situado a pouco mais de
116 anos-luz, é um dos mais próximos observado pelo Kepler, que detectou o
quinteto através do método dos trânsitos. Este sistema planetário é extremamente
compacto, sendo as órbitas destes exoplanetas 5 vezes
menores que a órbita de Mercúrio, o que significa que completam uma translação
à volta da estrela em 10 dias ou menos. A estrela do sistema Kepler-444 é uma anã laranja, ligeiramente menor do que o Sol e com cerca de 5000 graus Celsius à superfície (o Sol tem cerca de 6000 graus).
Para o primeiro autor do artigo, o
português Tiago Campante, da Universidade de Birmingham, esta descoberta tem
implicações profundas nas teorias de formação planetária: “Agora sabemos que planetas do tamanho da Terra se formaram ao longo dos
13,8 mil milhões de anos do Universo, por isso potencialmente, poderão ter sido
criadas as condições para o aparecimento de vida desde muito cedo na história
do Universo”, pode ler-se no comunicado do IA.
Esta
descoberta mostra, por outro lado, que apesar dos enormes avanços no
conhecimento do universo, a nossa ignorância é ainda muito grande e temos
muitas perguntas para as quais não temos respostas. Humildemente, continuamos a
observar a fronteira do desconhecido.
António
Piedade
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