terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Êxito escolar

Texto recebido do psiquiatra Nuno Pereira: 

 Promover o êxito escolar não se limita a reduzir as taxas de retenção, abandono e maus resultados nos exames. A escola deve assegurar a elevação dos níveis de desempenho de todos os alunos em cada ciclo de estudos e, mais amplamente, o desenvolvimento das competências individuais necessárias à vida pessoal e profissional. O baixo rendimento escolar, fenómeno multifatorial, pode derivar de incapacidadades dos discentes, condições desfavoráveis da sua família, métodos desadequados de ensino e avaliação, organização deficiente da escola ou currículos extensos. 

Atenta a esta realidade em Portugal, a Associação EPIS – Empresários Pela Inclusão Social – desenvolve desde 2007 um meritório programa de combate ao insucesso escolar nos ensinos básico e secundário. Assenta numa rede nacional de mediadores e mentores (psicólogos, assistentes sociais, professores e outros técnicos da área da educação) que atua fora da sala de aula, em proximidade com jovens sinalizados, com recurso a guiões de intervenção. Basicamente, com os alunos, esses técnicos (que não são explicadores) estabelecem um contrato comportamental, orientam-nos na resolução de problemas e ensinam-lhes métodos de estudo, e, com as famílias, apoiam-nas na transição de ciclo e na disciplina na adolescência. Para a continuidade do trabalho há também suporte financeiro das autarquias parceiras e do Ministério da Educação e Ciência. Estender esta metodologia a todas as escolas do país implicaria extraordinários recursos humanos e financeiros. A existência do programa, exterior à escola selecionada, constitui a prova cabal da falência desta para atender aos alunos com incapacidade de aprender no modelo de escolarização tradicional. 

Ora, é da competência exclusiva do professor ensinar e facilitar a aprendizagem. Também lhe cabe, como à restante comunidade escolar, sinalizar os casos sociais e psicológicos e encaminhá-los para os serviços especializados (da escola e fora dela) de Serviço Social e de Psicologia. Estes, se necessário, referenciam-nos para serviços de Pedopsiquiatria ou Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. A César o que é de César.

 Ao professor não basta explicar bem o conteúdo do programa, isto é, fazer com que os alunos compreendam, é necessário outrossim torná-los capazes de aprender de forma autónoma, aptidão importante para toda a vida. Muitos alunos não sabem como estudar, pelo que pertence a cada professor ensinar a consolidar após a aula a matéria da sua própria disciplina e controlar o trabalho de casa. Este não se pode resumir a fazer exercícios e a responder a questionários, descurando as condições de espaço e tempo (superintendidas pelos encarregados de educação), a revisão dos apontamentos, a leitura ativa dos manuais, a organização da informação e a memorização. Métodos eficientes, estudantes mais motivados. 

Ações de formação para professores sobre métodos de estudo seriam uma solução simples para obter melhores resultados no ensino/aprendizagem dos alunos, em vez de sobrecarregar o horário com aulas extras para oferecer mais do mesmo. 

 Nuno Pereira (psiquiatra)

1 comentário:

Anónimo disse...

Enquanto continuar a política de destruição deliberada do núcleo familiar tradicional e uma total desregulação das condições de trabalho, nada se poderá inverter. A Escola e os professores são hoje um ATL de amas.

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