Minha recente coluna em As Artes entre as Letras:
Quando o Verão começa costumo recomendar uma mão-cheia de livros de
ciências para as férias. Há sempre mais tempo livre nos dias estivais, que pode
ser bem aproveitado para pôr as leituras em dia. Escolhi ensaios sobre temas de
ciência e tecnologia publicados em 2025 em português. A ordenação é alfabética
pelo apelido do autor.
- João Paulo André e Carlos Fiolhais, A Harmonia das Esferas. Música,
Ciência e os Mistérios do Universo, Gradiva. Não podia deixar de recomendar
esta obra por ter o meu nome como segundo autor. A ideia foi do primeiro autor,
professor de Química da Universidade do Minho, autor de Poções e Paixões.
Química e Ópera. Trata-se de cruzar a música, que é uma arte, com várias
disciplinas científicas, a matemática e a física são óbvias, por causa dos
sons, mas também a química, as ciências da Terra e do ambiente, as ciências da vida e as ciências da saúde. Há
muitas ligações, por vezes inesperadas, entre música e ciências.
- Alfonso Martínez Arias, A Célula. Grande Construtora da Vida,
Temas e Debates. O autor é um especialista espanhol em biologia do
desenvolvimento, que foi professor na Universidade de Cambridge e agora está na
Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona. A sua tese é que para compreender ao mundo
vivo há que centrar a atenção na célula, as pequenas unidades que constituem todos
os seres vivos.
- Juan Luís Arsuaga, O Nosso Corpo. Sete milhões de anos de evolução.
Temas e Debate O famoso paleontólogo espanhol cujo nome está associado a
descobertas de antigos humanos nas grutas de Atapuerca, em Burgos, lança aqui
um olhar sobre o corpo humano, da cabeça aos pés, exibindo alguns paralelos
entre a ciência e arte.
- Nick Bostrom, Utopia Profunda. A vida e o seu sentido num mundo
perfeito. Dom Quixote. O filósofo da Universidade de Oxford, com formação
em Física, que tinha sido o autor de Superinteligência, analisa aqui o
futuro de um ponto de vista utópico: a Inteligência
Artificial triunfou e os humanos não resta mais nada que fazer.
- Alexandre Castro Caldas. Inteligência Vital. Estupidez Artificial,
Contraponto. O neurologista, professor na Faculdade de Medicina da Universidade
Católica Portuguesa procura esclarecer o que é a inteligência humana.
- Giuliano da Empoli, A Hora dos Predadores, Gradiva. O escritor
italiano e suíço, com formação em Direito e Ciências Politicas, autor de Os
Engenheiros do Caos, fala da sociedade contemporâneo, centrando o olhar nos
oligarcas digitais, que controlam a Inteligência Artificial.
- Marcelo Gleiser, O Universo Consciente. Uma Manifesto Sobre o Futuro
da Humanidade, Temas e Debates. O professor de Física brasileiro que
trabalha no Dartmouth College, nos EUA, autor de vários outros livros de
divulgação como Criação Imperfeita, apresenta, à maneira de Carl Sagan,
um manifesto realçando a singularidade humana na compreensão do Universo.
- Boris Hessen, As Raízes Sociais e Económicas dos Principia de Newton,
Parsifal. O autor foi um físico, filósofo e historiador de ciência soviético. Marxista
e ao serviço do regime acabou condenado por um tribunal militar em 1936 e executado por traição, tendo sido
reabilitado postumamente. Este é um livro
relevante na história da ciência, como digo na contracapa.
- Lisa Kaltenegger, À Descoberta de Vida no Cosmos, Casa das Letras.
A autora, astrofísica norte-americana, direge o instituto Carl Sagan na
Universidade de Cornell, nos EUA. O livro trata o fascinante problema da
eventual existência de vida noutros planetas. Andamos à procura, mas até agora
ainda não há vestígios.
- Ray Kurzweil, A Singularidade Está Mais Próxima. A Caminho da fusão
com a IA, Relógio d’Água. O cientista e futurista norte-americano reafirma
a tese controversa que tem vindo a defender de que haverá depois do Homo
sapiens um futuro transumano, isto é, um futuro em que as máquinas nos
substituirão. Segundo ele, será ainda na primeira metade deste século.
- Neil D. Lawrence, Humano, Demasiado Humano. O que nos torna únicos na
era da Inteligência Artificial, Gradiva. O autor é professor de
Inteligência Artificial na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Nesta
obra explica este ramo da ciência e da tecnologia, procurando aquilo que é
único nos humanos, o que ele chama «humano atómico».
- Bruno Maçãs, Construtores de Mundos. A Tecnologia e a Nova Geopolítica,
Temas e Debates. O ensaísta português especialista em geopolítica, que já foi
secretário de Estado de Assuntos Europeus num governo do PSD, publicou este
livro em inglês na Cambridge University Press realçando o facto de a moderna
geopolítica se basear não tanto no território mas mais nos meios tecnológicos.
- Paul Richardson, Os Mitos da Geografia. Oito maneiras de entender o mundo
de forma errada, Casa das Letras. O autor,
professor de Geografia Humana na Universidade de Birmingham, no Reino
Unido, critica algumas concepções comuns sobre a geografia.
- Maria de Lurdes Rodrigues. Investimento em Ciência, Fundação Francisco
Manuel dos Santos. A socióloga que foi ministra da Educação num governo do PS e
que actualmente é reitora do ISCTE, em Lisboa, analisa a partir de dados
estatísticos o investimento em ciência e tecnologia desde que foi criada uma
pasta com esse nome por José Mariano Gago em 1995, enfatizando o défice de
financiamento público na última década.
- Joana Gonçalves de Sá, Uma Ideia de Ciência, Fundação Francisco
Manuel dos Santos. Uma investigador doi LIP- Laboratório de Física de
Partículas, especialista em questões de complexidade social, lança um olhar
sobre a ciência e faz algumas propostas
para o futuro dela em Portugal. Denuncia e bem o estado de torpor da Ciência
Viva, a agência portuguesa que devia tratar da difusão pública da ciência e não
trata.
Boas leituras!
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