De modo progressivo e subtil, mas muito certeiro, as expressões “escola”/“sala de aula” e “professores” vão sendo substituídas pelas expressões “ecossistemas de aprendizagem” e “provedores/ fornecedores de aprendizagem”.
Isso pode ser constatado em documentos publicados por entidades supranacionais (entre as quais se destaca a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico - OCDE), com a finalidade de informar e sensibilizar os decisores políticos quanto às opções que devem tomar no respeitante à "escolarização" das populações (ver, por exemplo, aqui e aqui).
Mas também pode ser constatado em iniciativas, experiências... inovadoras, declaradas como soluções de sucesso pleno e infalível para a mesma "escolarização" (ver, por exemplo, aqui).
[note-se que "escolarização" não é sinónimo de se aprender na escola, no sentido físico e relacional que lhe atribuímos].
E, claro, a ideia dessa substituição cai e reproduz-se, sem filtro, na comunicação social, tanto naquela, com aspas, que se destina a fazer opinião, como na mais clássica, séria e objectiva.
Dispensar escolas e professores para que os mais jovens possam aprender aquilo de que, efectivamente, necessitam e lhes interessa, tem-se imposto como uma verdade óbvia.
O “novo cenário de aprendizagem” assente na “transformação digital”, é a solução para se conseguir uma escolarização plena, flexível, "adaptada" às especificidades de cada aluno.
Basta, pois, que os Estados instalem e assegurem uma boa rede de internet e forneçam um telemóvel a cada aprendiz. Com estas condições, agora tão básicas, "uma miríade de intervenientes" (fornecedores/ provedores de aprendizagem) articula-se para levar a todos e a cada um informação deslumbrante. Fazem-no com apoio de "mentores" que, à distância, "interagem" com os jovens "clientes", replicando, obviamente o que essa "miríade de intervenientes" decide e veicula através das suas potentes plataformas informáticas.
12 comentários:
É a perfeita descrição do Inferno na Terra. Não tenho grandes esperanças em que isso seja evitado, mas ao menos há que atrasar o máximo possível criando bolsas de resistência - neste caso, Escolas de Resistência, com... LIVROS, ESTUDANTES e PROFESSORES. Tudo o resto é supérfluo ou até nocivo.
Que avanços tão rústicos! O ideal seria colocar um chip de aprendizagem no cérebro de cada um, o qual fosse alimentado por informação ao longo da vida. Assim, ninguém perderia tempo com escolas, ecossistemas, alunos, professores, computadores, internet e o diabo a 4. Todos savants, logo à partida. Libertar a população para realizações mais práticas e avançadas sem perder tempo com a aquisição de conhecimento. Criatividade, apenas.
As escolas são, cada vez mais, espaços inúteis que não cumprem a sua função, uma vez que todos passam, sabendo ou não, a toque de remendos legislativos e incoerentes, feudos de amiguinhos onde o currículo académico e profissional tem pouco impacto, um caos artificialmente e deficientemente organizado de passagem de diplomas. Só faz falta porque não há instituições gratuitas para tomar conta de crianças e adolescentes.
Neste momento, toda a gente manda na escola: assistentes operacionais, pais, empresas, câmaras municipais, editoras, agentes externos cheios de projetos que pouco acrescentam ( os alunos continuam com notas baixas nos exames) e, portanto, os professores podem sentir-se dispensados. Os que cá estão só falam em reforma e em sair e há pouca gente a querer entrar nesta coisa que dura 45 anos.
Por exemplo, o curso que a professora Helena tem não serve para rigorosamente nada nas escolas. O que quererá dizer isto?
As ordens, no âmbito das políticas educacionais portuguesas, vêm lá de fora. Para combater o eventual uso exagerado dos telemóveis e demais tecnologias digitais, a minha escola, altamente inovadora em metodologias educacionais, impõe a FILOSOFIA UBUNTU a todos os professores e alunos, conseguindo assim humanizar, como nunca antes se tinha visto, o ecossistema escolar. Atingimos o equilíbrio: já não há indisciplina, nem violência, e o sucesso escolar de todos, e de cada um, é retumbante. Os professores e alunos são doutrinados em filosofia ubuntu, com conhecimento, incentivo e aprovação do ministério da educação.
A visível degradação do sistema educativo - que vai desde a proletarização dos professores, equiparados a operários fabris não especializados, nomeadamente para efeitos de reforma, a semestralização do ano letivo, o ensino por domínios, subdomínios e rubricas, classificados percentualmente às centésimas, por questões de "equidade", até à fraude completa dos "cursos profissionais" -, tem por base teórica a FILOSOFIA UBUNTU!
Fiquei tão humanizada com o ubuntu que agora só oiço Mozart - Requiem: Lacrimosa, em ré menor. Cada vez que há novas ideias no ensino, pareço uma carpideira.
Criatividade é diferente de infantilismo e imbecilidade.
Agora vou concentrar-me no PEBI, ensinar o currículo em português e inglês desde o 1.o ciclo. Acho bem, pois se em português é tudo tão difícil, pode ser que, traduzindo, entendam melhor toda a matéria, a negra também.
André, be quiet, please, or I will destroy you.
Eu acho fino, very british. Vai fazer as delícias das tias teachers.
Em contraciclo, hoje na P2 do Público, sob o título “Vamos ter de retirar a maior parte da tecnologia das escolas”, numa entrevista realizada ao psicólogo norte-americano Jonathan Haidt, entre outras coisas acertadas, o autor diz “O que temos feito às crianças desde 2012 é a maior destruição do potencial humano na história da humanidade”. A ler.
O que quer a maioria dos alunos, a maioria dos encarregados de educação e a maioria dos cidadãos eleitores, do sistema de ensino português?
Querem que todos os alunos sejam aprovados com notas elevadas, ou seja, maiores ou iguais a 4, no ensino básico, e maiores ou iguais a 16, no ensino secundário. Estão todos a borrifar-se para o PASEO (Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória), para as Aprendizagens Essenciais e para todo o ecossistema escolar, tenha ele uma natureza analógica ou digital. Se os mentores forem mais competentes do que os professores para passarem diplomas à martelada, pois então que venham os mentores e o digital!
Espero que trabalhos como os de Nicholas Carr, Michel Desmurget, Jonathan Haidt e de outros sejam tidos em devida conta por directores e professores. A curto prazo não tenho esperança que o poder político, nomeadamente o português, faça o que quer que seja em relação aos stakeholders que entram no sistema, na escola para... os transformar. Basta visitar a página da DGE para se perceber o seu número e infiltração crescentes. Cumprimentos, MHDamião
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