domingo, 14 de julho de 2024

A ESCOLA PÚBLICA, 50 ANOS DEPOIS DA LIBERDADE, EM DEMOCRACIA

Escrevi, há dias, que a luta dos professores, numa intensidade nunca vista, com grande destaque no passado ano de 2023, trouxe ao de cima a degradação a que chegou este grande sustentáculo de qualquer sociedade democrática que, entre nós, dá pelo nome de Escola Pública.

Receio de que, uma vez alcançado o acordo com o Ministério da tutela, sobre a recuperação do tempo de serviço:

1 – uma parte muito considerável da enorme massa humana, que se manifestou nas ruas do Portugal inteiro, se sinta confortavelmente satisfeita e desinteressada do problema, de maior importância, a nível nacional – a inegável degradação da Escola Pública - e deixe, para a restante, a continuação da luta por uma verdadeiramente eficaz e respeitada Escola Pública;
2 – o Ministério se sinta desobrigado de atender às restantes reivindicações, as mais sérias e profundas, as que visam uma completa reforma deste importante pilar da sociedade que se deseja melhorar.
Relembro:
1 – Reformar toda a política da Educação, numa profícua colaboração entre governo e oposições, para durar três ou mais legislaturas e que envolva gente verdadeiramente capaz de a concretizar.
2 – Atribuir à tutela a dotação orçamental adequada à importância deste sector na sociedade.
3 – A falta de professores, que já se faz sentir é uma preocupante fatalidade anunciada, se não se olhar para esta realidade, a sério e com coragem para a resolver.
4 – Preparação de professores pensada de molde a conferir-lhes níveis de excelência compatíveis com a sua real importância na sociedade.
5 – Dignificação das carreiras de professores, com saídas profissionais adequadamente remuneradas e recolocação no patamar de respeito e de estatuto social compatíveis com a sua relevância na sociedade.
6 - Libertação de todas as tarefas administrativas, burocráticas e outras que não sejam as de ensinar, uma incompreensível realidade de há muito denunciada.
7 – Resolução do gravíssimo problema da colocação de professores, com vidas insuportáveis material e emocionalmente, a dezenas de quilómetros de casa, separados das famílias.
8 – Supervisão científica e pedagógica dos manuais escolares e creditação científica e pedagógica dos autores e revisores.
9 – Tornar atractiva, em termos de preparação, dignidade e salários, a condição de assistentes técnicos e operacionais (anteriormente chamados contínuos), cuja importância, na Escola, se tem tornado cada vez mais evidente.
10 – Tornar atractiva, em termos salariais, as funções de psicólogos, técnicos sociais, técnicos superiores de serviços administrativos e de vigilantes. 

A.M. Galopim de Carvalho
Prof. Cat. Jubilado da Universidade de Lisboa
Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública

1 comentário:

António Pires disse...

"5 – Dignificação das carreiras de professores, com saídas profissionais adequadamente remuneradas e recolocação no patamar de respeito e de estatuto social compatíveis com a sua relevância na sociedade."


Um traço distintivo da classe dos professores de liceu, nos tempos das ditaduras fascistas de Salazar e Caetano, relativamente a outras classes profissionais, como as de engraxadores de rua, técnicos operacionais de tratamento seletivo do lixo, ou escrivães de direito, por exemplo, era o de muitos professores serem licenciados por universidades públicas. O povo até os tratava por doutores, quer dizer tinham um estatuto social compatível com a sua relevância na sociedade. Se não fossem licenciados também podiam dar aulas, mas ganhavam menos. Agora, com carreira única dos professores dos ensinos básico e secundário e dos educadores de infância, esta classe com mais de 100 000 profissionais não pode, objetivamente, por condicionantes financeiras e de formação óbvias, ter um grande prestígio social. Com uma proliferação de cursos politécnicos e de educação infantil, públicos e privados, que dão acesso à carreira única, onde está o prestígio de dar aulas?
Os professores não têm mais dignidade profissional do que os escrivães de direito, os limpa-chaminés, os enfermeiros, os médicos, os trolhas, e todos os demais trabalhadores.
Por mim, só queria a autonomia científica e pedagógica que tive outrora, quando, há mais de trinta anos, comecei a dar aulas.
Deixem-me contar um episódio revelador do desprezo que as autoridades governamentais têm, atualmente, pelos professores:
Há poucos anos, era eu professor corretor de exame nacional, quando verifiquei que, na grelha oficial de correção, me obrigavam, em questões cotadas com 10 pontos, por exemplo, a atribuir 0, 4, 6, ou 10 pontos; não podia atribuir, na minha qualidade de professor licenciado, 1, 2, 3, 5, 7, 8 ou 9 pontos. Mesmo se a questão incluísse texto e cálculos, quem era eu para ter autonomia de corrigir uma questão de exame!
O ensino está assim!

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