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O homo sapiens é o único
animal capaz de construir pontes, contrariando os obstáculos que a Natureza
criou. E é também o único animal a fazer arte, designadamente a arte
fotográfica que permite arquivar fisicamente o tempo passado. Tanto as pontes
como as fotografias são artefactos tecnológicos, mas as duas são também obras
de arte, isto é, há nelas a capacidade de deslumbramento dos nossos sentidos e
do nosso intelecto. Na engenharia civil as pontes chamam-se mesmo «obras de
arte».
Gosto de pontes, como a Ponte D.
Luís, no Porto, porque elas permitem ligações entre as pessoas de diferentes
sítios. Foi por gostar de pontes que escolhi esta imagem do fotógrafo portuense Bernardino Pires. Ela dá-nos
a ver uma grande obra de engenharia – precisamente a ponte D. Luís – através da
fotografia. Vejo neste belo instantâneo, captado no tabuleiro inferior, uma
estrutura metálica, de dimensões sobrehumanas, mas que serve o humano propósito
de travessia do rio, permitindo que pessoas e bens passem facilmente de uma
margem para outra. E vejo, no chão, a luz recortada pela sombra que tanto a
estrutura como as pessoas projectam (não se sabe o ano, mas pelas sombras, pode-se
saber a hora, porque os astros nunca falham). Vejo ainda a atmosfera enevoada
tão característica do Porto, com o inconfundível Mosteiro da Serra do Pilar em
fundo.
Quando os meus olhos se fixaram
pela primeira vez nesta imagem saltou à minha memória uma canção que em 1981 uma
banda rock do Porto, os Jáfumega, celebrizou. Está no lado B do single Dá-me
Lume, intitula-se Ribeira e o refrão diz: «A ponte é uma passagem/
p´rá outra margem». A letra dessa canção evoca a Ribeira portuense, dominada
pela referida ponte: «Desafio pairando sobre o rio/ a ponte é uma miragem.../ Nas
tasquinhas decoradas/ curte-se o chique burguês/ comem-se boas dobradas/
ostenta-se a embriaguez». O Porto é a «cidade das seis pontes»: de montante a
juzante: Freixo, São João, D. Maria Pia, Infante, D. Luís e Arrábida. Mas a
ponte mais emblemática, a ponte mais antiga de todas as que estão ao serviço, é
a Ponte D. Luís (até diria que é o ex-libris
da cidade, não fora o caso de a Torre dos Clérigos poder ficar zangada). Diz-se
que há cidades com menos de seis pontes e outras com mais de seis, mas com exactamente
seis só existe a Invicta. Considerando só as cidades portuguesas, não estou, de
facto, a ver outra com meia dúzia de pontes: Lisboa só tem duas, ao passo
que Coimbra tem quatro. Ou melhor,
estou: Vila Nova de Gaia é outra cidade com seis pontes, precisamente as mesmas
que o Porto. As pontes são tanto de uma como da outra margem. Mas é curioso que
as duas margens alberguem cidades distintas a começar logo pelo nome, como
acontece em Lisboa, mas ao contrário do que acontece em Coimbra, que é a mesma
urbe dos dois lados do rio Mondego (não obstante o Código da Praxe estudantil
chamar à margem esquerda o «Japão», enfatizando a distância). A geografia
sempre foi delimitadora de identidades embora, com a ajuda das pontes, o São
João se celebre tanto de um lado como de outro. Quando for concluída a sétima
ponte, por ora apenas em projecto, a Ponte D. António Francisco dos Santos,
tanto o Porto como Vila Nova de Gaia ficarão com sete pontes, tantas quantas,
segundo um histórico problema matemático, a cidade de Königsberg, onde nasceu
e morreu
o filósofo alemão Immanuel Kant.
Já não me lembro quando fui ao
Porto pela primeira vez. Deve ter sido quando, em criança, passei de comboio
pela, então já velhinha, ponte D. Maria Pia, obra do engenheiro francês Gustave
Eiffel, suporte da linha de Lisboa para o Porto, para mudar de comboio na
estação de Campanhã. Ia passar férias estivais nas terras dos meus pais: na do
meu pai, em Peso da Régua, com estação na deslumbrante linha do Douro, ou na da
minha mãe, em Vidago, servida pela serpenteante linha do Corgo. A recordação precisa
dessa primeira vista do Douro esconde-se nos abismos da memória, mas permaneceu
o calafrio que senti quando me vi, com a composição, suspenso sobre as águas, uma
sensação que haveria de repetir.
Sempre que venho ao Porto, o meu
olhar demora-se sempre no imponente Douro e nas pontes, que ligam as suas duas
encostas. Ainda há pouco, feito turista no Cais de Gaia, não pude deixar de
fotografar de vários ângulos e alturas a ponte D. Luís, que pacientemente se
oferece como um modelo inesgotável para os fotógrafos. Lembro-me de a ver na
capa do disco dos GNR Psicopátria, que comprei na Baixa do Porto no Natal
do ano em que saiu, 1986: uma rapariga mergulha da margem da Ribeira, com
impecável estilo, nas águas do Douro, em frente à referida ponte (a fotografia
é de Beatriz Ferreira, uma das primeiras fotojornalistas portuguesas). Esse LP
abre com a canção «Pós modernos»: «Ah! Os pós modernos agarram na angústia/ E fazem dela uma
outra indústria». Foi o ano da entrada na União Europeia e o país punha o pé na
pós-modernidade quando ainda nem moderno era. Ficou alguma angústia, com pouco
acréscimo de indústria. No mesmo ano de 1986 saiu o LP de Rui Veloso com o
título homónimo, que inclui a canção Porto Sentido, com letra de Carlos
Tê, que fala da Ponte D. Luís: «Quem vem e atravessa o rio/ Junto à serra do
Pilar/ Vê um velho casario/ Que se estende até ao mar.» O Porto, que sempre
inspirou os músicos, foi o berço do rock português.
A fotografia a preto e branco da
Ponte D. Luís feita por Bernardino Pires é do tempo do Estado Novo, dos anos 50
ou 60, quando a vida era mais a preto do que a branco e quando a música quase
não passava do fado. A democracia ainda estava longe no horizonte. Só um grande
fotógrafo, muito atento ao seu olhar, pode captar um instantâneo como aquele, fazendo
um retrato social do Estado Novo: as duas mulheres, uma para lá e outra para
cá, transportam um grande peso à cabeça. E, para cá, vem um agente da
autoridade, pois nesse tempo havia sempre, onde quer que se estivesse, um
agente da autoridade. Não se percebe se é um GNR, dos autênticos (os do grupo
de Rui Reininho ainda não existiam). Era uma sociedade claramente sexista, pois
apesar de haver transporte automóvel (descortina-se um camião ao fundo da ponte),
os carregos estavam por conta das mulheres. O homem enchapelado, à direita e em
primeiro plano, vai sem carga, tal como sem carga vem o «GNR».
A Ponte D. Luís (ou «Ponte Luiz
I», sem o «dom» e com o «I», como está inscrito numa pedra de mármore identificativa,
coeva da inauguração) foi construída entre 1881 e 1886. A inauguração foi em 31
de Outubro de 1886, cem anos antes do referido disco dos GNR. Concebida para substituir
a Ponte Pênsil anterior, a obra foi desenhada pelo engenheiro belga Théophile
Seyrig, que tinha sido assistente de Gustave Eiffel na construção da Ponte D.
Maria Pia, inaugurada em 1877 e encerrada em 1991, quando começou a funcionar a
vizinha Ponte São João, do engenheiro Edgar Cardoso. D. Maria Pia era a esposa italiana
do rei D. Luís e, na nobreza, ao invés do que acontecia no povo, primeiro
estavam as senhoras, pelo menos na nomeação das pontes… Quase no mesmo sítio da
Ponte D. Luís (ainda lá estão os pilares e a casa do guarda) existiu a Ponte Pênsil, também chamada Ponte
D. Maria II, inaugurada em 1843, da qual há fotografias. Esta, por sua vez, substituiu a Ponte das Barcas, onde se
deu o famoso desastre de 1817, durante a Segunda Revolução Francesa. A uma
ponte sucede-se sempre outra, porque precisamos e precisaremos sempre de ir de
uma margem para a outra. E «a ponte é uma passagem/ p’rá outra margem».
O regime democrático, instalado entre nós com a revolução de 25 de Abril de
1974, fará 48 anos, passando a durar mais do que anterior período não
democrático, advindo do golpe de 28 de Maio de 1926. Vivi o primeiro quando
tinha 17 anos – estava no primeiro ano do curso de Física na Universidade de
Coimbra e a notícia chegou a meio de uma aula de Análise Infinitesimal II. Já
levo 48 anos do novo regime, tendo desenvolvido toda a minha carreira de 44
anos de ensino, investigação e extensão inteiramente no seu quadro.
Claro que o facto de um jovem de uma família relativamente modesta ter
chegado no tempo da «outra senhora» à universidade, indica que no início dos
anos 70 ocorreu um enorme alargamento da frequência do ensino secundário e um
concomitante aumento do acesso ao ensino superior. Tive a sorte de, aos 17 anos,
viver em Coimbra, onde pude passar do Liceu Nacional D. João III para a
Universidade, que lhe era muito próxima. Lembro-me de, em 1972, o ministro da
Educação da época, José Veiga Simão, grande responsável pela referida
democratização do ensino, ter visitado o meu liceu, que tinha sido também o
dele. Nesse tempo de alguma abertura foi possível a uma comissão de alunos, que
eu integrava, chegar à fala com o ministro a quem pediu – com sucesso! – um
subsídio para o jornal estudantil.
Enquanto caloiro universitário, pude testemunhar fenómenos de oposição ao
regime – como o espalhamento de panfletos nas instalações – e de repressão – por
exemplo, o afastamento compulsivo das aulas, pelos contínuos-vigilantes, de
estudantes que pretendiam informar os seus colegas de eventos proibidos. A
Academia de Coimbra estava no rescaldo das lutas estudantis, que tinham
atingido o seu auge, em 1969, com a greve aos exames, a repressão e o
consequente «luto académico», numa altura em que eu ainda andava no liceu. Não
tendo tido actividade política antes do 25 de Abril (até porque era menor), sei
o que era a falta de liberdades: havia o espectro da guerra colonial, exercia-se
censura (que eu próprio experimentei, pois aos 15 anos já escrevia para um
jornal regional) e, acima de tudo, temia-se a Direcção Geral de Segurança - DGS,
a polícia política que era herdeira da PIDE. Adolescente ávido pela leitura,
sabia que certos livros eram proibidos. Tendo começado a ir ao cinema, sabia
que eles eram tesourados. E também sabia que, havendo formalmente eleições,
sabia-se à partida quem ia ganhar.
Depois do 25 de Abril houve a explosão libertária que é bem conhecida. Em
Coimbra assisti a alguns dos seus episódios, como o assalto popular, contido
pelas tropas do MFA, à sede da DGS em Coimbra e como a grande manifestação do primeiro
1.º de Maio. Na Universidade passou a haver sucessivas Reuniões Gerais de
Alunos e Assembleia Magnas. A gestão universitária tornou-se caótica, com
alguns professores sumariamente «saneados», enquanto os governos provisórios se
sucediam. Votei pela primeira vez em 25 de Abril de 1975 para a Assembleia
Constituinte. No Verão quente de 1975, fui pela primeira vez ao estrangeiro, a
um encontro juvenil de ciência em Londres: percebi então melhor o que era a
liberdade, que em Portugal, de forma algo atabalhoada, estava a começar. Lembro-me
de o ministro da Educação e Investigação Científica, Mário Sottomayor Cardia,
num dos primeiros governos constitucionais, ter feito um referendo, em que perguntava
aos estudantes se «queriam a Universidade aberta». Como o curso de Física tinha
apenas quatro alunos, conseguimos, com a prestimosa ajuda dos nossos professores,
concluir o curso com a normalidade possível. Fizemos os exames todos.
Acabado o curso em 1978 e tendo entrado logo como assistente, beneficiei de
uma visita de professores alemães a Coimbra, prometendo cooperar na formação de
quadros universitários, Como Física foi uma das áreas escolhidas, fiquei logo
com o rumo traçado: em 1979 deixava as aulas em Coimbra para fazer o
doutoramento na Universidade Goethe, em Frankfurt am Main. Quando saí era primeiro-ministra
Maria de Lourdes Pintasilgo, num governo que não durou muito. Em 1980 soube na Alemanha
da queda doi avião de Francisco Sá Carneiro, pouco antes de António Ramalho Eanes
ser reeleito presidente da República. Voltei em finais de 1982.
A partir daí vivi a par e passo a democracia em Portugal. Curiosamente, o
dia da assinatura em 1985 no claustro dos Jerónimos da entrada de Portugal na União
Europeia, deu-se no dia dos meus 29 anos. Era uma bela prenda! Eu tinha verificado,
durante a estada na Alemanha (de onde fiz incursões a França, Áustria, Suíça, Itália,
etc., embora não a leste, pois o muro de Berlim só cairia em 1989), que o
estado de desenvolvimento do país, em geral e em particular nas áreas que mais
me interessavam da educação, da ciência e da cultura, deixava muito a desejar. Éramos
um país fechado, avesso à novidade. Quando, no início dos anos 80, vinha a Portugal
de férias, via as fronteiras terrestres portuguesas controladas, inclusivamente
encerradas de noite, quando estavam abertas por toda a Europa por onde passava.
Fiz o que pude para que o país democrático se desenvolvesse: além das aulas
e trabalhos de investigação, dediquei-me à difusão da cultura científica. Passei,
a partir de 1987, a escrever na imprensa nacional (Expresso). E, em
1991, saiu o meu primeiro livro, Física Divertida (Gradiva), que foi um
sucesso editorial. Conheci o meu colega José Mariano Gago na Conferência Física
Nacional de Física realizada em Évora em 1984. Tornámo-nos amigos, pois eu
partilhava o seu sonho de fazer alastrar a ciência em Portugal. Singrando numa
carreira política, ele haveria, em 1995, de ser ministro da Ciência e
Tecnologia, espoletando uma transformação enorme no país: fomentou uma rede de
unidades de investigação, uma fundação para financiar a ciência e uma agência
de cultura científica. Colaborei com ele em tudo o que me pediu. Eu próprio
tomei várias iniciativas que apoiou. Houve altos e baixos no nosso caminho democrático
na educação, na ciência e na cultura, mas os anos finais do século passado
foram decerto um tempo alto.
Hoje em dia o país é muito diferente do que era. Há muitos mais jovens a
frequentar o ensino superior e, em particular, há muitos mais doutoramentos. Em
1982, quando me doutorei, havia 87 mil alunos no ensino superior, ao passo que
em 2021 havia 412 mil. Em 1982 houve 130 doutoramentos ao passo que em 2015
eram quase 3000. Particularmente nítida foi a ascensão académica e social da mulher:
elas hoje são a maior parte dos alunos na Universidade, assim como a maior parte
dos doutorados. Há também maior investimento em Investigação e Desenvolvimento:
em 1982, investia-se apenas 0,3% do PIB, ao passo que em 2020 se voltava aos 1,6%
que já se tinham atingido antes (bem aquém dos 2,3% da média da União
Europeia).
A educação, a ciência e a cultura são traves-mestras da democracia. Um
sistema democrático, além de dar liberdades, deve criar desenvolvimento. Em
Portugal, por muitos que sejam os problemas que persistam, o balanço é
francamente positivo.
Resumo:
Resume-se
a vida e a obra da matemática Ada Lovelace, a filha de Lord Byron que é hoje um
exemplo para todas as raparigas interessadas em carreiras na ciência e
tecnologia pelo seu pioneirismo na compreensão do conceito de computador
universal e de programaçãor. Tendo vivido em plena época romântica, que foi uma
reacção cultural ao avanço da ciência e da tecnologia, Ada tentou conciliá-las
com a poesia e as humanidades, uma visão unificadora que é oportuna num mundo que
continua dividido nas «duas culturas.»
Palavras-chave: Ada
Lovelace, Byron, Máquina Analítica, Programação, Algoritmo.
Abstract
We sumarize the life and work of mathematician Ada
Lovelace, daughter of Lord Byron who is today an example for all girls
interested in careers in science and technology for her pioneering
understanding of the concept of universal computer and programming. Having
lived in the midst of the Romantic era, which was a cultural reaction to the
advance of science and technology, Ada tried to reconcile them with poetry and humanities,
an opportune unifying vision in a world which remains divided in the «two
cultures.»
Keywords: Ada Lovelace, Byron, Analytical Machine, Programming, Algorithm.
Introdução
Quando
em 2019 o Rómulo – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra (Rómulo,
2019) organizou uma exposição sobre mulheres na ciência (o título era «Ciência
no Feminino») não houve qualquer dúvida em incluir o nome da matemática inglesa
Ada Lovelace (1815-1862), de seu nome completo Augusta Ada Byron, King depois
de casada, e condessa de Lovelace depois de o marido ter sido nomeado primeiro conde
de Lovelace, como uma das 25 mulheres que deram contributos mais significativos
para a ciência e a tecnologia.
Ada
publicou um único trabalho, em 1843, mas este revelou-se premonitório de ulteriores
desenvolvimentos no campo da computação: ao descrever uma máquina de calcular
mecânica que tinha sido desenvolvida por um professor da Universidade de
Cambridge, deixou escrito, preto no branco, o que era uma máquina de calcular de
uso universal (a palavra «computador» não era comum) e escreveu o que é
considerado o primeiro programa de computador, embora ainda não existissem na
altura linguagens de programação. Ela é, portanto, considerada a primeira programadora
da história. Mais do que uma cientista que proveu uma tecnologia logo aplicada,
Ada foi uma visionária, ao antecipar possibilidades que só muito mais tarde viriam
a ser concretizadas e adoptadas de forma generalizada. Hoje, num mundo largamente
dominado por computadores, é justo destacar o pioneirismo de uma jovem inglesa
da época vitoriana (Ada tinha 27 anos à data do referido trabalho), quando eram
muito raras as mulheres que podiam aceder à ciência através de educação adequada.
A
educação científica de Ada foi-lhe proporcionada pela mãe, a matemática Anne
Isabella (Annabella) Byron (1792-1860), nascida com o nome de Milbanke, que
pretendia por esse meio afastar tendências poéticas que pudesse ter herdado do
pai, o poeta Lord Byron (1788-1824), de nome completo George Gordon Byron, uma
das maiores figuras do Romantismo. Apesar de Ada ter sido a única filha
legítima de Byron, ele praticamente não a conheceu, uma vez que se separou de
Annabella, para não mais reencontrar nem mãe nem filha, um mês após o
nascimento da criança. Para manter afastada a memória do pai, só aos 20 anos a
mãe permitiu que a filha pudesse ver um retrato dele. No entanto, o gosto pela
poesia foi partilhado por pai e filha: Ada, ao longo da sua curta vida (morreu
aos 36 anos, de cancro uterino, precisamente a mesma idade com que o pai morreu
no exílio), perseguiu o que ela própria designou de «ciência poética», uma
visão na qual se fundem a matemática e a poesia. Não deixa de ser irónico que,
tendo o Romantismo sido uma reacção ao avanço da ciência e da tecnologia (Lord
Byron proferiu, em 1812, um discurso no Parlamento britânico criticando a
automatização e o desemprego por ela provocado, defendendo os Luditas, os
trabalhadores que destruíam as máquinas), uma sua filha tenha sido responsável
por desenvolvimentos de tecnologias mecânicas que haveriam de culminar na
actual omnipresença das máquinas electrónicas.
Neste
artigo resume-se a vida e obra de Ada Lovelace, enfatizando o seu trabalho inovador
sobre a Máquina Analítica, o primeiro protótipo de uma máquina equivalente aos
computadores que conhecemos hoje. Salientaremos, para além desse pioneirismo
num domínio científico-tecnológico onde as raparigas e mulheres ainda hoje são
minoritárias, a actualidade da sua visão conciliadora entre, por um lado,
ciência e tecnologia, e, por outro, artes e humanidades.
O
trabalho de Ada
O
único trabalho publicado por Ada Lovelace foi, em 1843, um conjunto de notas complementares
da sua tradução de francês para inglês de um artigo de Luigi Frederico Menabrea
(1809-1896), engenheiro italiano que foi também general e estadista (tendo sido
primeiro-ministro de Itália entre 1867 e 1869), intitulado Sketch of the
Analytical Engine Invented by Charles Babbage (Menabrea & Lovelace, 1843).
Essa tradução foi publicada
nas Scientific Memoirs. Selected
from the Transactions of Foreign Academies of Science, vol. III,
pp. 666-732, uma revista editada por Richard Taylor (1781-1858), naturalista e
editor científico inglês. Saiu do prelo da editora fundada em Londres por ele
próprio e pelo pai, a «Richard and John Edward Taylor», que está na base da
actual «Taylor & Francis». O original francês tinha sido publicado na Bibliothèque
Universelle de Genève, em 1842 (Menabrea, 1842).
A
base do artigo do italiano foram os apontamentos que tirou numa conferência que
o matemático e polímato inglês Charles Babbage (1791-1871) proferiu em Turim em
1840, explicando os planos de uma máquina que ele tinha começado a desenvolver
em 1833, a que chamou Analytical Engine (Máquina Analítica), que era um
aperfeiçoamento de uma sua máquina anterior, com o nome de Difference Engine
(Máquina Diferencial), cuja invenção data de 1822. A diferença entre as duas é substancial:
a primeira só seria capaz de fazer uma certa tarefa matemática – a Máquina Diferencial
destinava-se calcular funções por interpolação polinomial – ao passo que a
segunda tinha um enorme poder computacional, podendo ser programada para
realizar vários tipos de tarefas matemáticas. Ada aproveitou precisamente essa
diferença ao propor o primeiro programa de computador, usando entre outras a
noção de ciclo..
Essas
duas máquinas mecânicas são o maior legado de Babbage, que estudou na
Universidade de Cambridge no Trinity College e na Peterhouse, e foi depois Professor
Lucasiano de Matemática em Cambridge de 1828 a 1829, a famosa cátedra ocupada
por Isaac Newton e, em tempos recentes, por Stephen Hawking. Babbage foi eleito
em 1816 sócio da Royal Society de Londres, a sociedade à qual o rei inglês
Carlos II, consorte de D. Catarina de Bragança, outorgou carta real em 1662, e à
qual Newton presidiu de 1703 até à sua morte, em 1727. Esta sociedade, a mais
antiga sociedade científica do mundo em actividade contínua, era um «clube
masculino» (as primeiras mulheres só foram admitidas em 1945).
Babbage
montou um protótipo da Máquina Diferencial (com CPU e impressão, mas sem
memória nem programação). Em 1991 o Science Museum de Londres construiu uma Máquina
Diferencial que funcionava, reproduzindo as engrenagens montadas em eixos. Babbage
montou também uma parte da Máquina Analítica, uma tarefa prosseguida pelo seu
filho Henry Babbage. O engenho conseguia realizar tarefas simples como calcular
múltiplos de pi. Contudo, nem os apontamentos de Menabrea nem os rascunhos de Babbage
parecem ser suficientes para completar o projecto e «correr» o exemplo indicado
por Ada.
A
tradução de Ada é competente, uma vez que ela, amiga de Babbage, conhecia bem
os planos da máquina, mas o que a colocou na história da ciência e tecnologia
foi o acrescento das notas, assinadas no final com as suas iniciais A.A.L. (de
facto, há uma gralha, e saiu impresso «A.L.A.»), que iam de A a G, ocupando cerca
de 40 páginas, mais do dobro do número de páginas do artigo de Menabrea sobre o
invento de Babbage. É nessas notas que ela afirma, de forma original, o que é
uma máquina de calcular universal e exemplifica como se faz um programa
(respectivamente nas notas A e G).
O
que era a Máquina Analítica? Era um projecto – a máquina nunca chegou a ser completada
em vida do autor nem sequer postumamente, devido à incompletude da descrição
deixada por ele – de um dispositivo mecânico de calcular, que, devidamente programado,
podia realizar qualquer tipo de tarefas matemáticas. Tal como os computadores
actuais, esse computador primitivo possuía unidades de processamento central ou
CPU - Central Processing Unit (curiosamente denominada mill), de
memória, de input e de output. Qualquer computador, antigo ou
moderno, permite transformar um dado input num output, como fazia
a Máquina Analítica. A máquina podia ser programada usando a tecnologia
dos cartões perfurados, um processo da autoria do mecânico francês Joseph-Marie
Jacquard (1752-1834) que, em 1804, inventou um tear completamente mecânico, com
a capacidade para criar padrões têxteis bastante intrincados. Os cartões
perfurados foram usados em 1890 pelo norte-americano Hermann Hollerith para
processar dados do Censos dos Estados Unidos e reapareceram em meados do século
XX como meio de programação dos computadores electrónicos, que surgiram no
pós-guerra.
Ao acentuar a semelhança com o tear de Jacquard,
Ada descreve o trabalho do computador de uma forma que pode ser considerada
«ciência poética»: «Podemos dizer com mais propriedade que a Máquina Analítica tece
padrões algébricos tal como o tear Jacquard tece flores e folhas.» (Menabrea,
1843).
O
pioneirismo de Babbage e Ada fica mais claro se se referir que os computadores
só apareceram quase um século depois, em 1941, quando o engenheiro alemão Konrad
Zuse (1910-1995) construiu em Berlim o primeiro computador programável, o Z3,
baseado não em mecanismos de rodas dentadas, mas em relés eléctricos. Com a
invenção do transístor realizada em 1947 pelos físicos norte-americanos John
Bardeen, Walter Brattain e William Schockley, nos Bell Laboratories, os grandes
computadores a válvulas, que surgiram nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra
Mundial, como o Electronic Numerical Integrator and Calculator (ENIAC), construído
na Universidade da Pensilvânia, deram lugar a computadores mais pequenos, mas,
apesar disso, mais poderosos. Iniciava-se a era informática, que continuamos
hoje a viver, e que foi acelerada com o aparecimento do primeiro computador
pessoal em 1974 e com o desenvolvimento da Internet, em particular o
aparecimento em 1989 dos protocolos da World Wide Web, que estão na base
da actual rede mundial de computadores.
Ada
descreve nas suas notas um algoritmo (conjunto de procedimentos; a palavra vem
do nome do matemático persa do século IX Al-Khwarizmi) para elaborar uma tabela
de números irracionais conhecidos por números de Bernoulli, estudados pelo
matemático suíço Jakob Bernoulli (1654-1705), que surgem como parâmetros em
certas séries matemáticas contendo a exponencial (séries são somas infinitas de
termos onde entram potências sucessivas da variável). É correcto dizer-se que
foi a primeira pessoa a criar um programa de computador, apesar de não ter sido
executado. Foi recentemente traduzido em linguagens de programação modernas e,
após ter sido detectado um bug (o primeiro da história da computação)
foi compilado e executado com êxito. O seu programa era mais elaborado e
preciso do que outros que o próprio Babbage escreveu. Acresce que ela o publicou,
o que não aconteceu com os programas anteriores de Babbage. Em ciência é
essencial a publicação para garantir a precedência. Por exemplo, o físico
italiano Galileu Galilei foi o primeiro a publicar em 1610 os resultados de
observações feitas com o telescópio no ano anterior, mas foi o inglês Thomas
Harriot o primeiro – embora por escassos meses -– a ver o céu com a ajuda de
um telescópio, não tendo, porém, publicado os seus desenhos e notas. A
inequívoca precedência de Ada não significa que o seu avanço tenha tido um
impacto imediato na história da computação. Foi um trabalho teórico que ficou durante
muitas décadas ignorado.
A
tradução de Ada do texto de Menabrea foi feita a pedido do físico inglês
Charles Wheatstone (1802-1875), o autor de um conhecido circuito com
resistências eléctricas («ponte de Wheatstone»), mas foi Babbage que sugeriu
que ela acrescentasse notas da sua lavra. Apesar de Babbage e Ada terem estado
em diálogo, tanto oral como escrito, durante a escrita das notas, não restam
dúvidas aos historiadores de ciência, com base nos manuscritos de um e de
outro, que a autoria dessas notas é de Ada. De resto, Babbage nunca reclamou
essa propriedade intelectual. Lovelace e Babbage tiveram uma ligeira desavença
quando ele tentou publicar na revista uma sua declaração (criticando o
tratamento que o governo britânico tinha dado à sua máquina) na forma de um
prefácio não assinado, que poderia ter sido erroneamente interpretado como uma
declaração de Ada ou conjunta. Ada foi muito decidida a responder-lhe, apesar
da diferença de idades (24 anos), não tendo a relação entre deles ficado
prejudicada. Ada, já em doença terminal, quis que ele fosse o seu executor
testamentário.
Contribuições
de Ada
Walter
Isaacson, o biógrafo sueco de génios tão diversos como Leonardo da Vinci,
Albert Einstein e Steve Jobs começa o seu livro Os Inovadores. Como um Grupo
de Hackers, Génios e Geeks Criaram a Revolução Digital, com o capítulo «Ada,
Condessa de Lovelace» (Isaacson, 2014). Segundo ele, o mérito inovador de Ada,
que viveu num tempo em que as mulheres eram vistas como seres inferiores,
consistiu no facto de, nas suas notas, «ter explorado quatro conceitos que teriam
ressonância histórica um século mais tarde quando o computador finalmente
nasceu». Esses conceitos são:
O
primeiro é a ideia de uma máquina de calcular genérica, que pode ser programada
para realizar um conjunto de tarefas diferentes: Ada percebeu a noção e o poder
de um computador universal. Em 1953, mais de um século após sua morte, as notas
de Ada Lovelace sobre a Máquina Analítica de Babbage foram republicadas como um
apêndice da obra de B.V. Bowden: Faster than Thought: A Symposium on Digital
Computing Machines, chamando a atenção da comunidade informática para o seu
pioneirismo (Bowden, 1953).
O
segundo é o facto de que as operações a realizar por essa máquinas não terem que
ser limitadas aos números e, portanto, às operações matemáticas tradicionais.
Podiam, no seu entender, manipular qualquer coisa que fosse expressa por
símbolos, como palavras ou notas musicais. De facto, os computadores digitais modernos
manipulam os valores binários 0 e 1, podendo, com base nessa notação, processar
palavras, notas musicais e outras estruturas de dados.
O
terceiro foi o fornecimento por Ada de um exemplo concreto de um algoritmo
computacional. Tratou-se, como foi dito, de um procedimento para calcular os números
de Bernoulli, usando a sua formulação em séries matemáticas. Este foi o
primeiro programa exposto em pormenor, embora não tivesse sido executado pela Máquina
Analítica uma vez que ela nunca foi concretizada pelo seu autor (Babbage
queixou-se da falta de apoio governamental necessário para o sucesso do
empreendimento). Ada introduziu os conceitos hoje correntes de sub-rotina, um
módulo do programa que se pode chamar do programa principalr, de ciclo (loop),
um comando que permite a repetição de um
conjunto de operações, e de escolhas condicionais
(if), que consistem em comandos alternativos que controlam o fluxo de
execução baseado no valor lógico de uma expressão.
Finalmente,
Ada pronunciou-se sobre uma questão muito actual da chamada «inteligência
artificial»: «Podem as máquinas pensar?». A sua resposta foi um categórico «não»:
«A Máquina Analítica não tem a pretensão de originar o que que quer que seja.» Explicou:
«Pode fazer tudo aquilo que nós queiramos ordenar que faça. Pode seguir a
análise; mas não tem o poder de antecipar qualquer relação analítica ou
verdades». Esta objecção tem sido objecto de grande debate, começando com o matemático
inglês Alan Turing (1812-1954), no seu artigo «Computing Machinery and
Intelligence» publicado em 1950 (Turing, 1950). Ciente do trabalho da
matemática oitocentista, Turing chamou a este problema a «objecção de Ada». Concluiu
que a máquina analisada por Ada era uma máquina de cálculo universal, a que hoje
se chama «máquina de Turing». Uma máquina de Turing pode realizar qualquer
função do pensamento humano. Turing propôs nesse artigo o chamado «teste de Turing»
para responder à questão de saber se as máquinas podiam não pensar, mas sim aparentar
pensar. É bem sabido o fim trágico de Turing, provavelmente relacionado com a
sua homossexualidade (Hodges, 2014). Hoje ele é um nome consagrado das ciências
da computação.
Biografia
de Ada
Apesar
de ela ter sido contada noutros sítios (Woolley, 2000; Chiaverini, 2017;
Seymour, 2018; Hollings, 2018), vale a pena resumir aqui a vida de Ada Lovelace.
Mesmo com o privilégio de nascimento, é admirável como uma mulher na época vitoriana
tenha conseguido o que ela conseguiu.
O
pai de Ada foi George Gordon Byron, 56.º barão de Byron, que cedo revelou os
seus talentos e também a sua extravagância. Nessa altura era costume as pessoas
de posses fazerem na sua juventude longas excursões de formação, o chamado Grande
Tour. Byron começou a sua viagem a Portugal em 1809, tendo escrito uma
carta a um seu amigo onde comunicava as suas impressões, descrevendo o seu «domínio»
da língua portuguesa, que não passava de alguns palavrões e insultos. Byron gostou
muito da sua estada em Sintra, terra a que ele chama na estrofe 18 da sua obra Childe
Harold's Pilgrimage «o glorioso Paraíso» (Mello Moser et al., 1977, p. 143).
Mas, a par desse elogio à terra, refere-se na mesma estrofe em termos
depreciativos aos portugueses: «Pobres, e miseráveis escravos! Nascidos
entre as mais nobres Cenas! Porque desperdiçou a Natureza as suas maravilhas
sobre semelhante gente?» (Mello Moser et al., 1977, p. 143). De
Lisboa seguiu por terra para Sevilha, Cádiz e Gibraltar, onde embarcou para a Sardenha,
Malta e Grécia.
A
vida amorosa de Byron, para além de muito intensa, foi muito complicada: encarnou
um verdadeiro D. Juan, o personagem literário que serviu de título a um dos
seus livros mais famosos. Mas, ao contrário desse D. Juan, que se apaixonou por
uma jovem, Byron era o que hoje se chama bissexual. Os seus casos com rapazes
tinham de permanecer na sombra.
Em
1812 Byron teve uma relação com Caroline Lamb, uma senhora casada, que haveria
de chamar a Byron «mad, bad and dangerous». O certo é que Caroline, de
cabeça perdida, o começou a perseguir insistentemente. Byron cortejou depois uma
prima de Caroline, Annabella Millbank, uma menina de «boas famílias» com
formação matemática (algo raro nessa época), com quem se casou em 1825. Annabella
era bastante religiosa e com princípios morais que estavam nos antípodas dos de
Byron. Este precisava da segurança material que a família dela oferecia. O
casamento foi, porém, muito infeliz e, portanto, muito breve. A mulher
abandonou-o não só pelo conhecimento que terá tido da homossexualidade do marido,
mas também e talvez principalmente pelo facto de ter percebido que o marido se
sentia atraído pela sua meia-irmã do lado paterno, Augusta Leigh (ter-lhes-á
pedido numa ocasião para ser beijado pelas duas em simultâneo). Como era norma
no mundo masculino da época, Byron depreciava as mulheres: ele disse um dia que
«os homens eram mais inteligentes do que as mulheres, mas que estas beijavam
melhor». Semanas depois de Annabella dar à luz Ada em Londres (Byron ficou
desiludido por não ser um rapaz) e um ano depois do casamento, Annabella deixou
o marido refugiando-se em casa dos pais: a bebé nasceu a 10 de Dezembro de 1815
e o casal separou se a 16 de Janeiro de 1816, tendo o divórcio sido assinado em
21 em Abril. Para além do boato de incesto (Augusta teve uma filha, Elizabeth
Medora Leigh, muito provavelmente de Byron), pairava a questão da homossexualidade:
a sodomia era então um crime que podia levar à forca. Byron, livre dos laços do
casamento, não hesitou em partir para Itália, não mais tendo voltado à Grã
Bretanha. Não reclamou a custódia da filha, que em casos litigiosos era
atribuída ao pai. É significativo que tenha dado à filha o nome de Augusta, o
seu amor incestuoso. Em 1841, Ada e Medora souberam, da boca de Lady Byron que eram
filhas do mesmo pai, algo de que a primeira já suspeitava.
Lord Byron escreveu o poema «Fare
Thee Well» («Adeus») para a sua ex-esposa em 1816, pouco depois da sua
separação, onde se refere à filha com desvelo (Byron, n.d.):
(…) E ao
achares consolo, quando
A nossa
filha balbuciar,
Ensiná-la-ás
a dizer "Pai",
Se o meu
desvelo vai faltar?
Quando as
mãozinhas te apertarem
E ela teu
lábio - houver beijado,
Pensa em
mim, que te bendirei
Teu amor
ter-me-ia abençoado.
Se
parecerem os seus traços
Com os de
quem podes não mais ver,
Teu coração
pulsará suave,
E fiel a
mim há de tremer. (…)
E, no poema
Childes Harolds Pilmigrage, canto III, estrofes 1 e 2 (Isaacson, 2014,
p. 24):
Teu
rosto lembra tua mãe, bela criança!
Ada!
Tu, o fruto único de meus ramos?
Vi
em teus olhos riso e esperança,
E
nos separámos.
Byron
teve mais filhos para além de Ada e Medora. Uma outra filha extraconjugal,
Clara Allegra Byron, nasceu em 1817 de Claire Clairmont, uma meia-irmã de Mary
Shelley e enteada do filósofo político William Godwin (1756-1836), mas só viveu
cinco anos. Em 1816 Claire fugiu já grávida de casa dos seus pais acompanhando
Mary Wollstonecraft Godwin, mais tarde Shelley (1797-1851), e Percy Shelley (1792-1822,
o namorado de Mary, que casaria com ela pouco depois, e que foi um dos
expoentes do romantismo inglês). Foram ter com Lord Byron e o médico John
Polidori, a uma villa nas margens do Lago de Genève, na Suíça. Como a
meteorologia não permitia sair de casa (foi o «ano sem Verão», devido a
perturbações climáticas globais causadas pela erupção do vulcão Tambora, na
Indonésia), o grupo passou o tempo em jogos literários. Foi nessa altura que
nasceu o famoso romance de Mary Shelley Frankenstein: o Moderno Prometeu,
que foi publicado pela primeira vez anonimamente em 1818 (a primeira edição,
não foi assinada, porque era estranho nesse tempo haver uma autora feminina,
mas o nome de Mary já aparece na segunda edição, em 1823, e na terceira edição,
revista e definitiva, com prefácio da autora, em 1831; Shelley, 2018).
Byron
morreu em 1824 na Grécia, de uma gripe mal tratada, quando participava na
Guerra da Independência contra o Império Otomano. Nessa altura a filha tinha
apenas oito anos. Algumas das últimas palavras foram sobre a sua filha: «Oh,
minha pobre criança! - minha querida Ada! Meu Deus, se eu pudesse tê-la visto! Dê-lhe
a minha bênção!» (Isaacson, 2014, p. 25). É curioso que Ada tenha ficado, a seu pedido, sepultada
muito perto do pai que ela nunca conheceu, em Nothinghamshire, no centro de
Inglaterra.
Ada foi educada pela avó
materna, não tendo tido uma relação fácil com a mãe ausente. A relação entre
mãe e filha terá ficado prejudicada pela má memória que Lady Byron guardava do
marido, a quem sempre acusou de imoralidade. Mas Lady Byron tentou salvar as
aparências, preocupando-se com a criança ou pelo menos dando a entender que se preocupava.
Em cartas à sua mãe tratou numa ocasião a filha por «it»: «I
talk to it for your satisfaction, not my own». Mas noutras ocasiões
mostrava afecto, tendo o cuidado de pedir para preservar essa correspondência a
fim de poder documentar o seu interesse pela filha. Byron também procurou saber
dela através de Augusta.
Ada foi crescendo em
inteligência e graça. Aos 12 anos, alimentou o sonho de voar. Ensaiou escrever um
livro a que deu o título de Flyology e experimentou vários materiais
para fazer asas. Pensou em usar uma bússola para se orientar no ar. E idealizou
o uso de vapor para ajudar à “arte de voar” (estava no tempo das máquinas a
vapor). Era uma pequena fada que queria ser uma fada real. Babbage
chamar-lhe-ia, mais tarde, «Lady Fairy».
Ada padeceu desde criança e
ao longo da sua vida de várias doenças. Aos 14 anos teve sarampo, que a deixou
prostrada durante quase um ano.
Era educada em casa por
tutores (a educação feminina tinha, nesse tempo, de ser feita em ambiente
doméstico, pois as raparigas não frequentavam escolas públicas). A
mãe queria, a todo o custo, afastá-la do que ela considerava ser a insanidade
do ex-marido e insistia na formação em matemática: a ciência do rigor deveria
opor-se à fantasia eventualmente herdada do pai. Mas «quem sai aos seus
não degenera»: Aos 17 anos Ada teve um caso amoroso com um dos seus jovens tutores.
A rapariga foi reenviada para casa por familiares do jovem envolvido e o
incidente foi cuidadosamente encoberto.
Em 1833 começou a receber
aulas particulares de Mary Somerville (1780-1872), uma das cientistas mais
notáveis do século XIX e, por isso, também representada na referida exposição
«Ciência no Feminino». As duas tornaram-se grandes amigas. Somerville foi a
primeira membro feminina da Royal Astronomical Society (embora apenas
honorária) e a autora de vários livros de divulgação científica entre os quais
sobressai On The Connection of the Physical Sciences (Somervile, 1834). Foi
numa recensão a esse livro que o polímata inglês William Whewell (1794-1866) introduziu,
em 1834, a palavra «scientist». A ciência era um termo antigo, mas a
palavra «cientista» para designar um praticante profissional de ciência só
então começou a ser usada.
No
mesmo ano de 1833, Ada foi introduzida na corte inglesa (ainda antes da
coroação da rainha Vitória, 1819-1901, que teve lugar em 1838), como era
costume para as meninas de alta sociedade aos 17 anos, tendo-se logo feito notar
pela sua graça e inteligência. Nessa altura já era bastante nítida a sua
aptidão para a matemática.
Em 1840, Ada passou a ser
tutorada por Augustus De Morgan (1806-1871), professor do University College de
Londres e um dos maiores especialistas em lógica matemática do seu tempo. Numa
carta a Lady Byron, De Morgan escreveu que a capacidade de Ada em matemática
poderia levá-la a tornar-se «uma investigadora matemática original, talvez de
primeira categoria.»
Outros nomes notáveis com
quem Ada travou conhecimento foram, para além do já referido Charles
Wheatstone, os
físicos britânicos Andrew Crosse (1784-1855), David Brewster
(1781-1868) e Michael Faraday (1791-1867), todos eles interessados na
electricidade, um tópico então de grande actualidade, e o escritor Charles
Dickens (1812-1870), o autor maior da literatura vitoriana. Encontrou alguns
deles em bailes em reuniões mundanas, como as que eram organizadas por Babbage
em sua casa.
Lovelace
conheceu Charles Babbage em 1833, por intermédio de Mary Somerville. Babbage não
tardou a convidar Ada para ver a sua Máquina Diferencial. Ela ficou completamente
fascinada pelo engenho e passou a visitar Babbage sempre que podia. Babbage,
por sua vez, ficou impressionado com as capacidades intelectuais, em particular
matemáticas, de Ada, passando a discutir com ela a Máquina Analítica. Escreveu-lhe
uma carta em 1843 onde dizia: «Decidi deixar tudo para trás e partir para
Ashley carregado de papéis suficientes para esquecer este mundo, todos os seus aborrecimentos
e, se possível, os seus numerosos charlatães - tudo em resumo, excepto a Feiticeira
do Número» (Witkowski, 2004, p. 126; na carta original está no singular). Chamou-lhe
também noutra ocasião: «Minha querida e admirada intérprete.» Ada sempre
admirou Babbage: tentou primeiro que ele fosse seu tutor e depois seu parceiro no
empreendimento da Máquina Analítica. Mas Babbage, embora admirando o talento de
Ada, sempre evitou uma demasiada aproximação.
Em 1835 Ada casou com William
King-Noel (1905-1893), conde de Lovelace a partir de 1838, ele próprio um cientista
(interessava-se por questões de agricultura e pecuária). Tiveram três filhos: Byron, em 1856, Anne Isabella (Annabella), em 1837,
e Ralph Gordon, em 1839. O primeiro nome prestava homenagem ao pai (sem a oposição
da mãe), o segundo à mãe, ao passo que o terceiro tomou como segundo nome o
segundo nome do pai. A verdade manda dizer que Ada não acompanhou muito os seus
filhos.
Na
década de 1840, ganhou o vício por apostas de cavalos. Desenvolveu um modelo
matemático para fazer apostas, mas perdeu uma quantia considerável numa
sociedade com outros jogadores que a venda de algumas jóias de família teve de
cobrir. Foi por essa altura que teve uma relação sentimental com um filho do
físico Andrew Crosse, John Crosse (1810-1880), a quem ela haveria de deixar
parte da sua herança. Continuou a sofrer de doenças, tendo tratado dores
crónicas com opióides, que tinham efeitos secundários. Poucos meses antes de
morrer, devido a algo que ela disse ao marido (provavelmente uma confissão do
adultério), este deixou de a ver. A mãe convenceu-a a uma conversão religiosa
no leito de morte.
Ciência
e Poesia
Ada,
que tinha consciência do seu génio, era possuída por inquietações filosóficas,
especulando acerca da integração da poesia e da ciência. De facto, ela
procurava uma visão unificada do mundo. Em 1851, um ano antes de lhe ter sido
detectado o cancro, ela escreveu à sua mãe mencionando «certas produções» em
que estava a trabalhar a respeito da relação entre matemática e música. Ada
acreditava que a intuição e a imaginação eram essenciais para que os conceitos
matemáticos e científicos pudessem ser aplicados eficazmente. Estava à frente
do seu tempo: Muito mais tarde o físico Albert Einstein diria que «a imaginação
é mais importante do que o conhecimento. O conhecimento é limitado. Mas a
imaginação dá a volta ao mundo » (Calaprice, 2011, p.12; Fiolhais, 2008). Em
1841 escrevia que a imaginação era a «faculdade de fazer combinações. Ela reúne
coisas, factos, ideias em combinações novas, originais, infinitas e sempre em
mutação […] É ela que penetra os mundos invisíveis da Ciência à nossa volta»
(Isaacson, 2014, p. 30).
Interessou-se
também por pseudociências em voga na altura, como a frenologia (hipotética
divisão do cérebro em zonas especializadas) e o mesmerismo (magnetismo animal).
No século XIX vários cientistas estavam imbuídos de ideias espiritualistas,
tendo alguns deles, por estranho que pareça, acreditado no espiritismo, então
muito popular.
Em
1844, ela comentou ao seu amigo Woronzow Greig, o filho mais velho de Mary
Somerville e ele próprio um cientista, que pretendia criar um modelo matemático
do modo como o cérebro dá origem a pensamentos e nervos a sentimentos («um
cálculo do sistema nervoso»), uma tarefa que ela obviamente nunca realizou. O
seu interesse pelo cérebro provinha da preocupação da sua mãe a respeito da sua
potencial loucura, alegadamente herdada do pai. Foi para tentar aprofundar este
projecto que Ada visitou Andrew Crosse em 1844 pedindo-lhe que a ensinasse a fazer
experiências eléctricas. Também se interessou por magnetismo. O século XIX, com
Faraday, foi o século em que se ligou a electricidade e o magnetismo, uma união
que permitiu compreender que a luz é uma onda electromagnética. Se é certo que
o século XIX foi o século do Romantismo, não é menos certo que foi também um século
de grandes avanços na ciência e na tecnologia. Conforme assinala o historiador britânico
Richard Holmes, em A Era do Deslumbramento. Como a geração romântica
descobriu a beleza e o terror da ciência (Holmes, 2015), o Romantismo não
foi tão estranho à ciência como se poderia pensar. O percurso biográfico de Ada
serve para o mostrar.
Moderna
recepção
Ada
tornou-se ultimamente muito popular. A Wikipedia é continuamente actualizada
com homenagens em sua honra (Ada Lovelace, 2021)
O
seu nome aparece em várias peças de teatro (por exemplo, em Arcadia, do
dramaturgo inglês Tom Stoppard; Stoppard, 1993), filmes (por exemplo, Conceiving
Ada, da realizadora norte-americana Lynn Hershman Leeson, 1997), romances (por
exemplo, The Difference Engine, dos norte-americanos William Gibson e
Bruce Sterling, uma história de 1980 num género de ficção científica chamado
steampunk, em que invenções hoje conhecidas aparecem precocemente; Gibson &
Sterling, 2011), séries de TV (por exemplo, Doctor Who, 2020, na BBC), bandas
desenhadas (destaca-se a novela gráfica com extensas notas do desenhador inglês
Sydney Padua The Thrilling Adventures of Lovelace and Babbage; Padua, 2015),
e outros meios de cultura popular. Os argumentos dessas obras são, por vezes,
imaginativos: A peça Ada and the Engine, da dramaturga norte-americana Lauren
Gunderson, representa Ada Lovelace e Charles Babbage num enredo de amor
não correspondido e imagina um encontro póstumo entre Ada e o seu pai
(Gunderson, 2018).
A
linguagem de computador Ada, criada por uma equipa contratada pelo Departamento
de Defesa dos Estados Unidos, recebeu o nome de Ada Lovelace. O respectivo manual
de referência foi aprovado em 1980 e a última versão é de 2012.
O
bicentenário do nascimento de Ada Lovelace foi celebrado com uma série de
eventos académicos, incluindo The Ada Lovelace Bicentenary Lectures on
Computability, no Instituto de Estudos Avançados de Israel, Dezembro de
2015 - Janeiro de 2016, o Simpósio Ada Lovelace, Universidade de Oxford, Outubro
de 2015.
A
plataforma de criptomoeda Cardano, lançada em 2017, usa «Ada» como nome da criptomoeda
e «Lovelace» como a menor subunidade da Ada.
A
8 de Março de 2018, Dia Internacional da Mulher, o The New York Times
publicou um obituário de Ada Lovelace, reabilitando-se de um longo silêncio
sobre mulheres cientistas (Miller, 2018). O jornal reconheceu que havia um
demasiado predomínio de homens brancos nas suas páginas sobre falecimentos.
Ada
Lovelace é hoje celebrada pelos movimentos feministas de todo o mundo. Em 2009
foi criado pela jornalista e feminista inglesa Suw Charman-Anderson o «Dia de
Lovelace» na segunda terça-feira de Outubro com o intuito de «elevar o perfil
das mulheres na ciência e tecnologia». Ela afirmou: «ter pessoas com o mesmo
quadro mental à sua volta é essencial, e nós esperamos ser capazes de ajudar as
mulheres a encontrarem essas comunidades» (Phillips, 2011, 464).
De
facto, Ada é uma figura inspiradora. Costuma ser destacado o seu pioneirismo no
campo da computação, por ela ter apreendido a ideia de computador universal e
ter escrito o primeiro programa de computador. Mas também devem ser destacadas
as suas intuições de que um computador podia ser usado para fins artísticos e
de que o aparecimento dos computadores mecânicos suscitava a questão da
«inteligência artificial».
Em
1959, o cientista e escritor britânico Charles P. Snow, numa famosa Conferência
na Universidade de Cambridge, intitulada As Duas Culturas (Snow, 1999) discutiu
a oposição entre ciência e tecnologia, por um lado, e artes e humanidades, por
outro. É extraordinário que, numa era em que o domínio da ciência era posto em
causa, Ada Lovelace tenha sonhado com uma «ciência poética», tentando resolver
pela conciliação dos supostamente contrários uma questão que tem continuado até
aos dias de hoje. Ela percebeu que a ciência e a arte não tinham de estar em
pólos opostos, podendo até justapor-se. O aprofundamento deste aspecto, que não
tem tido suficiente enfatizado quando se apresenta a vida e obra de Ada,
afigura-se muito oportuno no mundo actual a fim de romper o isolamento de duas
dimensões humanas que nada ganham em estarem separadas e, pior ainda, em
confronto (Fiolhais, 2015).
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Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...