terça-feira, 5 de julho de 2016

Motivação para o estudo

Novo texto do médico psiquiatra  Nuno Pereira:

    Há uma relação recíproca entre a motivação e a aprendizagem. O aluno motivado quer e pode atingir objetivos que satisfazem as suas necessidades pessoais.

    O objetivo principal de longo prazo, traduzido em competências amplas no fim da formação, deve ser desdobrado em objetivos operacionais de curto prazo, formulados em termos de desempenho observáveis, mensuráveis e desafiantes com resposta imediata. Os objetivos são considerados motivadores desde que os resultados sejam rápidos e revelem o progresso. Atente-se no poder da retroação dos jogos de vídeo.

    O estudo deve ser agradável e útil. Primeiro, porque o aluno gosta da própria atividade, ou seja, é motivado intrinsecamente; segundo, porque o que faz é recompensado, obrigatório, importante e com sentido, ou seja, motivado por fatores exteriores à própria tarefa. As ações motivadas extrinsecamente (obter notas altas, valorização social, ingresso no curso desejado, diploma, bom emprego) podem ser internalizadas, passando o aluno a adotá-las como próprias. Há assim motivação intrínseca e internalizada. Muitas vezes a matéria não é interessante, mas está ligada a consequências que satisfazem necessidades de existência, de relacionamento e de realização.

    O estudo torna-se uma experiência gratificante, quando a dificuldade da tarefa corresponde à capacidade do aluno. Se a dificuldade ultrapassar a competência pessoal, surge a frustração, mas, quando a tarefa não representa um desafio, instala-se o tédio.

    Se o aluno atribui o seu insucesso a uma causa interna e estável como a falta de capacidade, a sua crença de autoeficácia á significativamente afetada. Estimular a confiança na capacidade fomenta a motivação, pelo que proporcionar experiências de êxito faculta informação valiosa para prosseguir com sucesso. O domínio duma atividade desafiadora cria expetativas positivas, que por sua vez melhoram os níveis de desempenho.

   Para despertar o interesse e o esforço intenso e persistente não basta estabelecer objetivos desafiadores, oferecer pronto feedback e tornar a matéria interessante e com benefício presente e futuro. É necessário demonstrar ao aluno de que é capaz de cumprir os objetivos propostos. Em particular, nos 2º e 3º Ciclos, o professor pode proceder a experiências impressivas. Por exemplo, convida o melhor aluno – visto, em geral, como mais inteligente e de superior memória – a prestar um teste de memória, perante a turma. Passa a ler-lhe espaçadamente uma lista de quinze objetos, que ele, após ouvir, vai procurar repetir, primeiro, pela ordem, e, depois, ao contrário. Certamente, não irá conseguir concluir com exatidão a tarefa por esquecer vários itens e não respeitar a sequência. De seguida, chama o pior aluno e ensina uma técnica mnemónica (afamada na antiguidade) que consiste em visualizar e localizar os objetos, isto é, em associar cada imagem a um lugar dum itinerário previamente fixado. Lê-lhe então de modo lento uma nova lista de igual número e ele irá, muito provavelmente, executar uma prova ótima. Trata-se duma simples e convincente demonstração de que de modo adequado se pode potenciar a capacidade da memória para níveis extraordinários.

    Sem estudo eficiente, não há consolidação da matéria da aula. Daí que o professor deva transmitir o conteúdo disciplinar junto com o método que permita ao aluno assimilar e consolidar a matéria e plasmar o produto do estudo no caderno diário a apresentar na aula seguinte e que o professor monitorizará aleatoriamente. O estudante aprende progressivamente como rever apontamentos, compreender textos informativos, organizar informações, memorizar e aplicar conhecimentos. Esse estudo metódico e  autónomo no próprio dia difere claramente  dos habituais trabalhos para casa, tantas vezes desfasados do assunto acabado de ministrar ou focados em partes do mesmo. A missão de transmitir o conteúdo disciplinar associado ao método de estudo pertence ao próprio professor e não a qualquer explicador ou tutor estranho, que não pode controlar todo o processo. Será tão difícil formar os professores coordenadores de grupo para que estes preparem os colegas da disciplina no sentido de utilizarem essa metodologia integrada, fator de êxito que influenciará fortemente a motivação para o estudo?


                                                                      Nuno Pereira  (psiquiatra)

Sem comentários:

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...