Informação recebida do SNESUP sobre os contratos de trabalho científico, em preparação:
EMPREGO CIENTÍFICO EM RONDA
NEGOCIAL
O SNESup reuniu na passada sexta-feira dia 15 de julho com o ministro da
Ciência Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, na segunda ronda da
negociação da proposta de diploma de Estímulo ao Emprego Científico.
Nesta reunião tivemos ocasião de responder à proposta
de revisão do documento apresentada pelo MCTES, a qual consideramos que
continua a assentar em contratos a prazo e a termo incerto, matéria de
precariedade, que não resolve o problema do emprego científico. Assim sendo, apresentámos
um conjunto de propostas que nos parecem garantir uma verdadeira
dignificação do sistema, garantindo que aqueles que têm vindo a suprir as
necessidades permanentes do Sistema Científico e Tecnológico Nacional possam ter
uma vinculação estável.
É importante que se possa olhar para a proposta do MCTES com informações
recentes prestadas pelo próprio ministro Manuel Heitor em relação ao número de
pessoas que poderão beneficiar da mesma. Numa
reunião recente no ICS com a Rede de Investigadores
Contra a Precariedade Científica, o ministro adiantou que no período
previsto na Norma Transitória, a
medida abarcaria 329 pessoas. Em ordem de grandeza, tal número significa um
número maior do que o dos contratados durante os dois primeiros anos do programa
Investigador FCT (em 2012 foram 159, a que se somaram mais 209 em 2013), mas que
não deixa de ser parco perante a situação de 2.272 bolseiros de
pós-doutoramento. Se tomarmos em nota a questão da conversão para contratos, a
medida abrange apenas 14% dos atuais bolseiros de pós-doutoramento.
Os números não mentem e não podemos deixar de olhar para esta realidade de
frente. A substituição das bolsas por contratos é mesmo residual. O que acontece
é a permuta do programa Investigador FCT por um programa que piora as condições,
no prazo (3+3 anos versus 5 anos do programa anterior), nos vencimentos
(escalões discricionários e abaixo do ECIC versus escalões em paridade com o
ECIC) e também no tipo de vínculo e sua estabilidade (incluindo contratos a
prazo e a termo incerto em regime do Código do Trabalho versus contratos de 5
anos em regime de função pública). Dado que o número final de doutorados
abrangidos fica dependente das instituições, não se sabe se irá ultrapassar os
368 que o Programa FCT previa contratar até final deste ano.
Convém olharmos para o caminho recente deste tipo de programas. Recuperemos
o edital
do programa Ciência em 2007, em tempos do Compromisso com a Ciência. Vejamos
as condições que aí estavam então inscritas: alínea a) do n.º1 do art.º 9.º
“Encargos com o vencimento base, subsídios de férias e de Natal, correspondentes
ao índice 195 do estatuto remuneratório da Carreira de Investigação Científica”.
Objetivo, a contratação de 1.000 doutorados entre 2006 e 2009. No programa
Investigador FCT em 2012 aumenta-se para 3 escalões remuneratórios. O n.º
1 do art.º 11º do Decreto-lei 28/2013 era claro na equiparação a
Investigador Auxiliar, Investigador Principal e Investigador Coordenador.
Objetivo: a contratação dos mesmos 1.000 doutorados, mas entre 2012 e
2016. O toque dos editais em inglês (como o de 2012) dá-nos a ideia do tempo e
dos tiques que fazem história. À distância conseguimos perceber melhor.
Olhando com o mesmo distanciamento, a proposta atual do MCTES significa uma
degradação dos termos. De forma intencional, ou não, este é o programa de
flexibilização do emprego científico, que foi envolvido em algo que se saberia
que recolhia consenso (a conversão do subemprego das bolsas para contratos de
trabalho). É natural que nas várias reuniões públicas se note desânimo e
contestação. Não era o que as pessoas esperavam deste governo. A flexibilização
é um mecanismo que surgiu como vontade de agradar a alguns dirigentes de algumas
instituições, aumentando a volatilidade do emprego científico e subjugando a
autonomia dos demais. A distância entre estes e os demais acentua-se.
As implicações deste diploma são múltiplas. Para o SNESup, ele tem de ser
efetivamente negociado. Ativamos por isso o mecanismo de negociação suplementar,
o que significa urgência em 15 dias.
É preciso pensar e responder ao que queremos que seja o emprego científico.
Da nossa parte utilizaremos todos os meios ao nosso alcance, de forma
incansável, para que se concretize uma solução efetiva de dignificação.
No número de reuniões e na forma da resposta do MCTES podemos verificar
qual a abertura ao diálogo da parte da sua atual equipa e qual o esforço que
efetivamente estão dispostos a desenvolver. Nós garantimos apenas o de sempre:
incansáveis na defesa dos colegas e na efetiva dignificação do emprego
científico.
1 comentário:
Em que medida a situação vai melhorar com estes "contratos" de trabalho a subsituir os pós-docs? Vejamos as opções após doutoramento:
1)situação actual:
pós-doc (bolsa 3+3) + programa Investigador (contrato 5)
2) Situação futura: contrato (?)
A mim parece-me que, sob o manto do "vamos acabar com a precaridade científica", se prepara uma liquidação dos pós-docs em troca de nada. Espero estar enganado
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