segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mihai Eminescu (1850 – 1889)


Mihai Eminescu, o maior poeta romeno, morreu em 1899. O corpo repousa, sob uma tília, no cemitério de Bellu, como era seu desejo.
Sobre as exéquias, Ion Luca Caragiale, escritor e amigo do poeta, escreveu estas linhas maravilhosas:
Na cabeça mais doente, a mais luminosa inteligência; a mais dorida alma no corpo mais cansado! E se chorei quando amigos e inimigos, admiradores e invejosos, o colocaram debaixo da «tília sagrada», não chorei pela sua morte. Chorei sim pelos trabalhos da vida, por quanto essa irascível natureza tinha sofrido das circunstâncias, dos homens, e de si mesma.
De muito sofreu este Eminescu, até de fome. Sim, mas nunca se curvou: era homem de uma só peça, e não de uma que se topa em qualquer caminho.
Com efeito, a morte da mãe, as desventuras no amor e o insucesso profissional conduziram-no a um hospício de Bucareste onde acabaria por falecer sem saborear a glória. Sándor Petőfi, o poeta nacional da Hungria, já tinha escrito em relação à mesma:
 
A glória? Arco-íris de encanto;
Raio de sol que se quebra em pranto.

 Até à estrela

Até à estrela que nasceu
Tão longa é a caminhada,
Que anos por milhar correu

A luz aqui chegada.


Talvez há muito se extinguiu
Por essa azul lonjura
E o raio apenas reluziu
Aos olhos nesta altura.

A imagem do astro que morreu
No céu lenta aparece:
Era e não se percebeu
Hoje não é e vê-se.

De igual maneira, nosso ardor
Quando nas trevas finda,
A luz do apagado amor
Nos acompanha ainda.

Me Resta Um Só Querer

Me resta um só querer:
No ocaso parado

Que me deixeis morrer
Junto ao mar deitado;
Tranquilo durma eu
Com o bosque por perto,
Sobre o largo aberto
Tenha sereno céu.
Nem pendões vistosos
Queria, nem caixão,
Trançai-me colchão
De ramos viçosos.

E que ninguém após
Se abeire a chorar-me,
O outono só dê voz
Ao murcho folhame.
Seguindo o borbulhar
Sem fim dos ribeiros,
Por sobre os pinheiros
Deslize o luar.
Bata a chocalhada
Em frio anoitecer;
Me cubra a estremecer
A tília sagrada.

E como desde então
Não erro, em nevões
De amor me enterrarão
As recordações.
Do abetal de pez
Luzeiros surgindo
Olharão sorrindo
Para mim outra vez.
A endecha marinha
Virá bramir sua dor
Quando eu terra for
Na solidão minha.

Livro: Revedere
Editora: Evoramons Editores
 

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