Mihai Eminescu, o maior poeta
romeno, morreu em 1899. O corpo repousa, sob uma tília, no cemitério de Bellu,
como era seu desejo.
Sobre as exéquias, Ion Luca
Caragiale, escritor e amigo do poeta, escreveu estas linhas maravilhosas:
Na cabeça mais doente, a mais luminosa inteligência; a mais dorida alma
no corpo mais cansado! E se chorei quando amigos e inimigos, admiradores e
invejosos, o colocaram debaixo da «tília sagrada», não chorei pela sua morte.
Chorei sim pelos trabalhos da vida, por quanto essa irascível natureza tinha
sofrido das circunstâncias, dos homens, e de si mesma.
De muito sofreu este Eminescu, até de fome. Sim, mas nunca se curvou:
era homem de uma só peça, e não de uma que se topa em qualquer caminho.
Com efeito, a morte da mãe, as
desventuras no amor e o insucesso profissional conduziram-no a um hospício de
Bucareste onde acabaria por falecer sem saborear a glória. Sándor Petőfi, o
poeta nacional da Hungria, já tinha escrito em relação à mesma:
A glória? Arco-íris de encanto;
Raio de sol que se quebra em pranto.
Até à estrela que nasceu
Tão longa é a caminhada,
Que anos por milhar correuA luz aqui chegada.
Talvez há muito se extinguiu
Por essa azul lonjura
E o raio apenas reluziu
Aos olhos nesta altura.
A imagem do astro que morreu
No céu lenta aparece:
Era e não se percebeu
Hoje não é e vê-se.
De igual maneira, nosso ardor
Quando nas trevas finda,
A luz do apagado amor
Nos acompanha ainda.
Me Resta Um
Só Querer
Me resta um
só querer:
No ocaso
parado
Que me
deixeis morrer
Junto ao mar
deitado;
Tranquilo
durma eu
Com o bosque
por perto,
Sobre o
largo aberto
Tenha sereno
céu.
Nem pendões
vistosos
Queria, nem
caixão,
Trançai-me
colchão
De ramos
viçosos.
E que
ninguém após
Se abeire a
chorar-me,
O outono só
dê voz
Ao murcho
folhame.
Seguindo o
borbulhar
Sem fim dos
ribeiros,
Por sobre os
pinheiros
Deslize o
luar.
Bata a
chocalhada
Em frio
anoitecer;
Me cubra a
estremecer
A tília
sagrada.
E como desde
então
Não erro, em
nevões
De amor me
enterrarão
As
recordações.
Do abetal de
pez
Luzeiros
surgindo
Olharão
sorrindo
Para mim
outra vez.
A endecha
marinha
Virá bramir
sua dor
Quando eu
terra for
Na solidão
minha.
Livro: Revedere
Editora: Evoramons Editores
Sem comentários:
Enviar um comentário