NASA/Apollo 8/W. Anders |
Na consoada do Natal de 1968, o astronauta William Anders da missão Apollo 8 à Lua da NASA, tirou uma das mais icónicas fotografias de sempre: O Nascer da Terra (tradução livre do inglês “Earth Rise”). Nela vemos a Terra parcialmente na sombra e, em primeiro plano, a superfície da Lua.
Esta imagem mudou em muito a forma de como vemos a Terra. Forçou-nos a vê-la como apenas mais um corpo celeste que faz parte de algo maior: o nosso Universo. Do espaço, a Terra não é delimitada pelas fronteiras artificialmente definidas pelo Homem. Vemos mares e oceanos ,uma massa de terra com diferentes cores, dependendo da sua cobertura (ou não) de vegetação e uma atmosfera dinâmica e em constante mutação. Um planeta único, frágil, complexo e maravilhoso. O Planeta Terra é único planeta dos mais de 2000 que conhecemos que alberga vida.
Quando olhamos para esta imagem é-nos impossível ficar indiferente. A nossa identidade como cidadãos deste planeta transcende fronteiras geográficas ou políticas; somos uma única comunidade; a Humanidade é só uma, a que partilha o planeta terra. Quase meio século depois deste Nascer da Terra, a Humanidade ainda está longe desta visão de cidadania global. Na passada semana o nosso planeta foi de novo delimitado, estilhaçado e rasgado.
Nas salas de aulas do ensino básico de toda o Mundo continuamos a ensinar com um globo terrestre geopolítico, no qual os alunos desde muito cedo aprendem que o mundo está dividido em fronteiras imaginárias entre eles e nós, os de lá e dos de cá. Desde 2006 que o projecto que coordeno, “Universe Awareness”, tem vindo a equipar salas de aulas com globos terrestres que representam realisticamente o nosso Planeta, tal como o vemos do espaço. Em mais de 10 000 salas de aulas espalhadas por 60 países, as crianças começam a conhecer a Terra como um planeta, a perceber a sua composição real e a assim fomentar noções básicas de cidadania global.
Esta semana os ministros Europeus da Administração Interna e Justiça preparam-se para redefinir fronteiras num acto de resposta rápida aos actos terroristas a semana passada. No entanto, seria de esperar uma resposta a longo prazo dos ministros da Educação. Em conjunto deviam tomar medidas urgentes e eficazes para de uma forma clara introduzirem no sistema educativo um conceito transversal e essencial às novas gerações: A Cidadania Global.
O astrónomo americano, Carl Sagan resumiu o valor desta visão da Terra de uma forma simples e inspiradora: “Não há melhor demonstração da injustificável presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o "pálido ponto azul", o único lar que conhecemos até hoje.”
Pedro Russo
Astrónomo, Universidade de Leiden, Países Baixos
2 comentários:
Obrigada ao DRN e ao autor por esta partilha.
Concordo que a Educação deveria desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento da cidadania, mas isso implica repensar seriamente a educação sem constrangimentos de natureza política, religiosa, cultural....
Regina Gouveia
Senhora Professora Regina Gouveia, li o seu livro "Se eu não fosse professora de Física - Algumas reflexões sobre práticas lectivas". Quero-lhe dizer que para mim é um excelente livro, pareceu-me, muitas vezes, estar a ler a pedagogia de Sebastião e Silva. O livro é o resultado da sua experiência no ensino; tem a alma de quem faz aquilo que mais gosta (ensinar), manifestada pela procura constante, dos melhores métodos para poder ensinar/aprender. Sobre o ensino, deixo duas citações que me parecem da maior importância.
Cumprimentos cordiais,
“Nesta perspectiva [CTS – Ciência- Tecnologia- Sociedade] assume particular importância a contextualização. Se os conceitos forem apresentados de uma forma descontextualizada, dificilmente se tornarão significativos para o aluno.
É habitual, a este propósito, ouvir os professores referirem que usam sempre exemplos reais nas suas aulas. Mas será que o fazem da melhor maneira? Yager e McCormack, citados por Yager (1992), pp.5, considerando cinco domínios de importância para o ensino das Ciência (figura 3), referem que, numa perspectiva CTS, dever-se-á começar pelo domínio das aplicações/conexões, para chegar ao domínio dos conceitos, contrariamente à pratica mais corrente em que se parte do domínio dos conceitos para chegar ao das aplicações/conexões.” [Regina Gouveia, - Se eu não fosse professora de Física, pp.33]
“Muito raramente se deve definir um conceito sem ter partido de exemplos concretos e, tanto quanto possível, sugestivos. Se a preparação psicológica tiver sido bem conduzida, será muitas vezes o aluno quem acabará por definir espontaneamente o conceito, com ou sem ajuda do professor. Em qualquer caso, este deverá encaminhar o aluno para o rigor de linguagem, que equivale a dizer, de pensamento. Para isso, será de grande auxilio a introdução à lógica matemática, feita logo no inicio.” [Sebastião e Silva, Guias para a utilização dos compêndios]
Enviar um comentário