quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
BOA CONTINUAÇÃO DO ANO DA LUZ!
Em Portugal, como noutros países, o Ano Internacional da Luz vai ser estendido por mais um semestre. Boas Festas e Boa Continuação do Ano da Luz!
Na imagem: Fenómeno da iridescência numa bola de sabão gigante na Plaza Mayor de Madrid
(foto minha). Sobre a iridescência ver "QED" de Richard Feynman, agora em edição revista na colecção Ciência Aberta da Gradiva.
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
Para quando um verdadeiro sabre de luz?
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
À beira de 2016, a propósito de Savater e da Babilónia, a «guerra do eduquês»
A Helena
Damião deixou-nos aqui
um texto de Fernando Savater que vai para os 20 anos, e que é um texto sem
idade. Só conhecia o filósofo de nome (andamos por onde andamos…). Fui seduzido
pela tirada: o elogio do contágio. A capacidade de transmutação de culturas
como impulso de civilização. Como ensino, dei por mim a matutar no problema do
costume: como é que se transmite isso?
De verdade, a
questão é bicuda, porque isso da civilização não está arrumado num corpo
teórico testado, com especialistas e uma estrutura pedagógica praticável; como
várias categorias deste e doutros géneros, não é ensinável na escola (como a
integridade moral não o é, ou a metacognição prática). Dantes, a França
divulgava-se com um curso de «Langue et de Civilisation Françaises». Agora, que
perderam essa guerra, viajam para todo o lado com a Inglaterra na algibeira e
na língua.
Na nossa Escola
anda tudo entretido e contente com expressões e atitudes politicamente
corretas. Campeia a aproximação inócua a tudo e mais alguma coisa que não seja
disciplina regulada por um programa. A aproximação a valores civilizacionais
correntes faz-se por intermédio dum chavão que dá pelo nome de «educação para a
cidadania». Se um projeto educativo de agrupamento a menciona, então, todos
dormem descansados. Ninguém faz a menor ideia do que isso seja, ou de como se
inocula, mas só o pairar no projeto é bastante, e dorme-se o soninho dos
justos. Se o tribalismo vem, a cada minuto, à superfície—paciência: assobia-se,
olha-se para os céus, aspira-se o ar («cheira a maresia, vem aí chuva…»), e
passa-se adiante.
Estas confusões
no ensino são um dos pontos fortes do lote de práticas «progressistas» a que os
detratores chamam «eduquês». Os resultados andam por aí, bem à vista.
A guerra contra
o «eduquês», tal como correu nos últimos anos, aparenta ter sido perdida (dizia-mo,
ainda há um par de meses, o Carlos Fiolhais); de facto, foi perdida porque quem
está no ensino já não tem referências cruzadas: não conhece o antes e o depois;
igualmente foi perdida porque se pensou que o problema essencial do ensino era este:
o «facilitismo» (repare-se na abundância de aspas que estas digestões suscitam;
já isso—é significativo!). Ora, não só já o não era nos tempos de Sócrates como,
depois, veio o governo Passos Coelho divulgar que ainda havia mais um mundo de
problemas: o «eduquês», sendo magno, afinal nem era o maior. Passos Coelho, o
educador, era muito maior que o «eduquês», tal como o exercício de Nuno Crato
demonstrou: Crato não reformou, como prometia, os fundamentos do ensino, tendo estragado
bastante na Ciência; não fez caminhada: fez arabescos, patinagem artística. Estragou
um par de patins, escalavrou tabelas. Passos Coelho orientou, e aprovou; os
problemas engordaram e multiplicaram-se: é um grande mestre de patinagem.
Voltando a
Savater: como se ensina a ponderar estas questões em concorrência com os mitos
«tribais»? Como se ensina a mudar de opinião com fundamento?
A Ciência faz
isso diariamente; não será assim tão complicado… E aquilo que os cientistas são
dá-nos uma pista: são conhecedores de assuntos. O conhecimento dá-lhes a
vantagem crítica de que precisam relativamente ao desconhecimento. O resto é
uma questão de feitio (há cientistas com mau e bom feitio).
A afirmação
anterior sobre o conhecimento e o desconhecimento não é um jogo de palavras estéril:
serve para sublinhar a gritante necessidade de conhecimento, para início de
conversa. O ensino tem de ser exercido como prioridade nacional em qualquer
país que esteja cansado de patinar com os Coelhos. O ensino adequado nunca é
caro: aquilo que é necessário, tem de ser feito. Savater, num outro sítio, faz a
distinção entre despesa e investimento. Há quem ainda não tenha entendido…
A inclusão da «educação
para a cidadania» nos projetos educativos é muito defendida para, logo depois, no
dia-a-dia, servir de pretexto para falar de equivalência de civilizações; e
para, da mesma maneira, mergulharmos nas várias pequenas cobardias que
constituem o «politicamente correto». Por exemplo: qual é a vantagem de promover,
nas sociedades ocidentais, o respeito pelas variantes de traje feminino
islâmico, em nome da tolerância? Ignora-se a segregação feminina de muitas
culturas islâmicas (de que os trajes são apenas uma manifestação conspícua), em
nome do respeito pelos outros: de facto, esses «outros» não respeitam as
mulheres e nós achamos que isso é um traço de atraso, de barbárie. Salazar
achava que as meninas só necessitavam da 3.ª classe. Que pensamos hoje disso? Que
desejaria fazer da cientista Maria de Sousa a escola de Salazar? E da nossa
anfitriã Helena Damião? Há benefício, no entanto, em entender que gente com
instrução—e que já percebeu como funciona a cidadania—pode interpor-se, dentro
do mundo democrático, entre práticas culturais antigas e mulheres modernas,
recusando o exercício dessas coisas ancestrais em terrenos de dentro da
decência moderna. Isto não é educação para a cidadania e treino civilizacional?
Claro que há que explicar e tentar persuadir, a par da recusa: sempre é melhor
do que disparar, que é o que se segue à correção política mais vulgarizada. Os
americanos conhecem esta última sequência, embora ainda não tenham extraído as
ilações dos sucessivos logros. (Têm uma indústria muito ativa, bem sei…)
Li há um mês
um livro de Irving Fikel intitulado «A arca antes de Noé: descodificando a
história do dilúvio» («The Ark
Before Noah: decoding the story of the flood»). O autor é filólogo e
assiriologista, especialista em escrita cuneiforme e curador do Museu
Britânico. O livro explora, ao longo de quase 500 páginas, o conteúdo duma
tabuleta de argila com 4000 anos que contém, entre outras coisas, instruções
para a construção da arca. E fala de «uma ponte mágica para um mundo que morreu
há muito tempo, habitado por reconhecíveis companheiros humanos» («a magic bridge to a long-dead world
populated by recognisable fellow humans»). Somos os mesmíssimos. É desta
identidade que fala Salvater, da que transcende culturas.
A Vulgata da educação para a cidadania que
por aí corre põe a tónica na aceitação acrítica do outro, na tolerância
pachorrenta de qualquer cultura. Ora a educação para a cidadania de que deve
falar-se é a do debate, da argumentação, da persuasão—com conhecimento. É o
exato contrário da aceitação na ignorância. A aceitação nem sequer é comunicável,
e muito menos pacífica: ignorar mas ter de aceitar só suscita revolta, e basta
ver uma claque de futebol em plena ação para entender isto. Conhecem-se como
gangue, combatem outros gangues (e tudo aquilo que não são eles: pode ser um
comerciante numa bomba da gasolina), ignoram por completo o resto e, duma
maneira geral, nem estão interessados em conhecer.
Frequentaram a
escola, claro. Com resultados variáveis, mas alguma educação para a cidadania.
Só faltou o conhecimento, a precisão e a contingência do raciocínio científico,
o golpe de asa do debate filosófico. No entanto, se partem uma cabeça, são
malta para se interrogar, no ecoponto, acerca do contentor adequado para os
cacos.
Eu resumo: a
educação para a cidadania só tem pleno sentido entre gente que tem como
ocupação permanente saber. É na boa divulgação da prática científica, tanto
quanto do voo filosófico, que ela deve assentar (o que não é novidade nenhuma,
mas tende a perder-se na barafunda e na poeira do trânsito diário do debate
corrente).
Se o estado
português quer cumprir o seu dever, tem de promover uma coisa na escola
pública: a qualidade generalizada do ensino. Para isso, deverá gastar, nem mais
nem menos, o que for necessário. Se num plano de legislatura não couber (não
cabe), que seja num plano a 12, a 16, a 20 anos.
O que é que
envolve?: um curriculum nacional
sério, tanto geral como tecnológico; escolas de turno único; professores
cuidadosamente formados por um sistema de seleção de uma elite; pessoal
auxiliar de perfil adequado e em número suficiente; instalações equipadas com
sensatez; dimensões decentes («small is beautiful»); gratuidade total até ao
fim da formação superior (manuais e material,
transportes, refeições escolares, cobertura médica e
medicamentosa—dentes inclusive—, atividades de complemento educativo do curriculum); política de atenção aos
mais lentos e aos mais rápidos que acabe, de vez, com a retenção (ou, não sei
se melhor ou pior, com passagens administrativas feitas em reuniões de conselho
de turma) e também apoie miúdos excecionais; regras de flexibilidade na
construção dos curricula e dos
diplomas de ciclo; regionalismo e verdadeira autonomia das escolas, tendo em fundo
as linhas gerais dum plano nacional orientador. E tudo—mas tudo—em simultâneo,
senão, não funciona.
Foi isto que o
combate ao «eduquês» perdeu de vista, concentrando-se em medidas restritivas
moralizadoras: aulas e programas «exigentes», exames a condizer, guerra ao
«facilitismo», o processo montado à «anti-cultura». Foi importante abordar
estas questões, e pôr algum travão a tanta parvoíce que grassa; o próprio
ex-ministro Nuno Crato alinhavou peças avulsas; mas é uma perspetiva, em si mesma,
parcial. Aquilo que há a fazer é muito mais profundo e abrangente, e consiste numa
mirada civilizacional—e não administrativa, ou policial—sobre o ensino. Algo
que, a ser feito, deixa pouca oportunidade a que aconteçam grandes facilidades,
porque se toma o conhecimento como uma meta estrutural de grande vulto.
É o
conhecimento que forja o debate, a discussão, o confronto de opiniões, o embate
de diferenças, a fundamentação de posições correspondentes a outros tantos pontos
de vista—a propósito do que ocorrer ou for considerado pertinente, por
professores, pela comunidade educativa, por alunos, nas aulas, em clubes, em
palestras, informalmente ou formalmente—em eventos criados para o efeito. Tudo,
menos o (já) invariável «politicamente correto», bacoco, ignorante, tão
sinistro como os tabus que, regularmente, preenchem—e entopem—a nossa vida, tão
eficaz a gerar cobardias como uma opressão dos espíritos.
Sucessivos
ministros (mesmo os que partem com uma agenda carregada de inteligentes intenções)
têm baqueado no exercício. É o ministério, diz-se. Não é: é o ponto de vista. O
ministério, como «think tank», é duma inépcia gritante, de facto; mas ele nunca
foi planeado como «think tank». Não é suposto que o ministério pense: é de
esperar que execute, com eficiência, a política do ministro. Quem pensa são as
pessoas; o primeiro ministro da educação que se aplique a fazê-lo bem, e a agir
em consequência, pode fazer muitíssimo. E o primeiro governo que entender isto,
entendeu algo de grande importância. A propósito: gostaria que fosse desta; a
frase «não há dinheiro» é, simplesmente, falaciosa. Há, e sempre houve. Há para
a banca… O que não há, é interesse!
A massificação
do ensino foi boa; acabou. O ramerrão não está a trazer-nos nada de jeito de
forma que, agora, já não restam desculpas. Temos de fazer tudo aquilo que listei,
e que falta.
Para os
fundamentalistas da contagem de tostões: «aquilo» de que falo também é feito em
nome da economia. (Quem achar que não… talvez deva ir estudar.) É «aquilo» que
produzirá conhecimento; que será tudo menos «eduquês»; que gerará, sem falhas
de maior, cidadãos informados, não havendo a necessidade de inventar disciplinas
escolares nebulosas: gente tão capaz de ter e manter boas ideias, como de ser
seduzido por melhores ideias.
Tudo para cozinhar,
em Portugal, o melhor da velha Europa: civilização, em suma.
Elucidou
Torga, no Diário, com data de 9 de maio de 1974:
«Disse-lhe:
—Todas as civilizações se equivalem, realmente. Mas há só uma que
entende isso. A civilização a que pertence o homem que o pensou.»
António
Mouzinho
Luz e Sombra em 2015: Meu Depoimento ao Jornal de Negócios
O Negócios pediu a dez personalidades para escrever sobre as lições que 2015 nos deixou. Veja o que diz o professor Carlos Fiolhais:
O ano de 2015, como aliás todos os anos, teve luz e teve
sombra. Teve muita luz pois foi, por decisão da UNESCO, o Ano Internacional da
Luz. Em todo o mundo multiplicaram-se os eventos que, entre outros aniversários
luminosos, celebraram os cem anos de uma obra maior do espírito humano: a
teoria da relatividade geral de Einstein, que descreve o cosmos desde o o Big Bang aos buracos negros. Passados
cem anos a luz de Einstein continua viva.
Mas o ano foi também ensombrado. Por ironia da história foi
em Paris, a “cidade luz”, que alberga a
sede da UNESCO onde foi inaugurado o Ano da Luz, que se escreveu uma das
páginas mais negras da nossa história recente: foram ceifadas 130 vidas
inocentes, lembrando-nos que o ser humano, eivado do fundamentalismo, se é
capaz do melhor é-o também do pior. A União Europeia vive tempos difíceis, ao
ter de enfrentar a questão do terrorismo
e outras, com ela relacionadas, como a dos refugiados. Tudo isto num clima de
crise económica.
Em Portugal o acontecimento
do ano foi a entrada em funções do novo governo, resultado para muitos surpreendente das
eleições de Outubro. A solução governativa liderada por António Costa veio
relançar a política no nosso país após um período em que ela esteve adormecida.
Mudanças nalguns sectores eram necessárias e estão a ser feitas. Destaco uma: foi posto fim a um período de algum apagamento
da ciência entre nós. Se há uma marca do
desenvolvimento em Portugal após 1974 ela foi o Big Bang da ciência, com o crescimento do número de doutorados e de
instituições científicas que os acolhem. Agora, após quatro anos escuros, a ciência
será de novo relançada, esperando-se que ela possa contribuir para o nosso crescimento cultural,
social e económico.
domingo, 27 de dezembro de 2015
Precisa-se de juventude nas salas de professores
Artigo de João Paiva (Professor de Química da Universidade
do Porto) saído no Público de 24/Dezembro/2015. Concordo com a mensagem principal nele contida:
1. O recém empossado ministro da Educação é uma pessoa jovem. Trabalhando com formação de professores, tenho verificado, cada vez mais, um deserto de professores jovens. Neste momento em todas as universidades portuguesas não se estarão a formar mais de meia dúzia de estudantes como futuros professores de ciências físico-químicas. Noutras áreas é quase a mesma coisa. Um conjunto significativo de docentes com cerca de 60 anos aposentou-se recentemente, tendo o grosso dos profissionais entre os 45 e os 55 anos. Entrar numa sala de professores de qualquer escola básica e secundária, principalmente nas grandes cidades, suscita-nos preocupação: faltam jovens!
2. A expectativa do decréscimo demográfico no nosso país agudiza este problema. A contabilidade dos alunos por turma com base nos nascimentos dramatizam a situação. O Estado deveria cumprir o seu papel de superar os imperativos dos dados da demografia e as balizas do mercado de trabalho. É em nome do futuro do país e da indiscutível relação entre a educação e o desenvolvimento que o Estado deve antecipar e prevenir uma situação que, deixada ao sabor da actual natalidade e da pressão laboral, conduzirá a salas de professores desertas. Quem está na formação de professores já compreendeu o óbvio: como aconteceu na Inglaterra e noutros países, que tiveram antes de nós um excesso de docentes e agora os importam, faltarão professores no sistema dentro de alguns anos.
3. Mas não é só a falta de professores no futuro que me preocupa. Entretanto verifica-se um hiato geracional e os professores mais antigos não podem transmitir a sua experiência aos jovens professores. Perdem todos. Os professores mais jovens, porque não contactam e não herdam dos seus pares mais velhos a sabedoria profissional. A fruta amadurece melhor junto de outra fruta. Os professores mais velhos, por seu lado, não veem rejuvenescidas as suas práticas letivas e não letivas com novas metodologias e novos entusiasmos. E os alunos, que, com o vazio de uma geração mais próxima da sua, perdem oportunidades de diálogos mais próximos e atualizados.
4. Alinho algumas ideias que podem ajudar a minimizar os danos do envelhecimento do corpo docente. Concentro-me nos ensinos básico e secundário e deixo de fora o ensino superior, que é palco do mesmo problema mas cujo caminho passa pela urgente contratação de mais jovens para as nossas universidades e politécnicos.
a) Incentivar decisivamente o trabalho
parcial. Por cada professor com mais de 50 anos que trabalhe a meio tempo ou de
outra forma parcial, pode libertar-se quase um horário para um outro professor.
Uma das possibilidades objetivas será ampliar a alternativa penalizante da Lei
nº 7/2009 de 12 de fevereiro e aproximá-la do permitido pela Lei n.º 84/2015 de
7 de agosto, independentemente da existência de filhos ou netos menores. Dessa
forma não se compromete a contagem total do tempo de serviço.
b) Garantir, isto é, não fechar e até sobrefinanciar, se necessário, um número mínimo de cursos de mestrado de formação de professores, nas diversas áreas e zonas do país, com um planeamento eficaz, independentemente da pressão atual de empregabilidade.
c) Afetação voluntária dos docentes mais
velhos a funções de gestão e coordenação, com libertação de horários para
jovens professores. À semelhança do que acontece em vários países
desenvolvidos, a estes professores mais antigos poderiam ser dadas missões de coordenação
de projetos, participação em comissões de inovação, formação docente,
acompanhamento de casos difíceis e complexos na escola, etc.
d) No caso das ciências exatas, a
ampliação da componente laboratorial e a redignificação do 12.º ano, que tem
sido esquecido (a Física e a Química não são obrigatórias para quem vai seguir
Ciências ou Engenharia), poderiam conduzir, também, à necessidade de mais horários,
onde mais professores jovens, recém formados e com particular robustez,
ajudariam.
e) Incentivar projetos de natureza
camarária, estatal ou outra para atividades pedagógicas complementares, onde
estejam envolvidos jovens professores.
f) Promover de alguma forma, dentro dos
limites legais, que sejam favorecidos professores mais jovens em concursos
docentes.
5. Se nada for feito, haverá também um desvio colateral nefasto que nos pode custar muito caro: atuais alunos do ensino e secundário e superior, com vocação e gosto pela profissão de professor, poderão ser desencorajados a seguir a via educacional, com medo do vazio de mercado. Este desperdício vocacional pode deixar sem rumo a escola de amanhã. Arriscamo-nos a ter no futuro, quando a necessidade for premente, gente medíocre que se abeira da profissão docente, sem qualquer gosto e inclinação. Tal aconteceu no final do século XX em Portugal, quando foi preciso ter muitos professores para haver ensino para todos.
João Paiva
Ciência e Liberdade
Meu artigo no volume sobre a Liberdade, que documenta o Encontro sob o mesmo título organizado em Lisboa em 2014 pela Fundação Francisco Manuel dos Santos:
A ciência,
por se basear na existência de uma comunidade, precisa de liberdade como de pão
para a boca. Sem a possibilidade de livre expressão do pensamento e de livre
circulação de ideias, que, por sua vez, exige livre circulação de pessoas e
bens, a ciência não pode florescer. Esta condição começou logo a despontar na
época da Revolução Científica, quando o italiano Galileu Galilei foi réu no
Tribunal do Santo Ofício por afirmar, contra a autoridade da palavra bíblica,
que é a Terra a mover-se e não o Sol. Verdadeira ou não, a expressão “e pur si muove!” significa simplesmente
que as concepções científicas não podem ser reprimidas. De uma forma ou de
outra acabam por se impor.
No século
das Luzes assistiu-se ao triunfo da razão. A fonte de onde brotava a ciência deveria também inspirar a organização
da sociedade humana. Por isso, talvez não tenha um acaso que os pais da grande nação americana tivessem uma
forte relação com a ciência. O norte-americano Thomas Jefferson, que no dia da
independência do seu país não deixou de fazer as suas regulares observações
meteorológicas, revelou: “A ciência é a minha paixão, a política o meu dever”. O escritor, também norte-americano, Timothy
Ferris, no seu livro Ciência e Liberdade.
Democracia, Razão e Leis da Natureza (edição portuguesa de 2013 como n.º
200 da colecção Ciência Aberta da Gradiva), enfatiza as relações entre a democracia
e a ciência. Segundo ele, a ciência só pode desenvolver-se em regimes
democráticos porque:
1) A ciência
é “inerentemente antiautoritária” tal
como a democracia (ao contrário do que por vezes se julga, em ciência não existem
autoridades, mas sim especialistas, pois apenas à realidade se reconhece
autoridade para escolher entre hipóteses rivais).
2) A ciência
e a democracia auto-corrigem-se (segundo o filósofo austríaco Karl Popper,
também a democracia contém em si a possibilidade de emendar erros, sendo estes obviamente
diferentes dos erros científicos).
3) A ciência
tem “de se valer de todos recursos
intelectuais à sua disposição”, o que
significa que beneficia do facto de que em democracia, todos, pelo menos em
princípio, têm acesso aos benefícios da educação.
4) A ciência
é poderosa (já Francis Bacon, um filósofo contemporâneo de Galileu, dizia que “knowledge is power”) e a democracia
permite que esse poder seja partilhado pelo maior número possível de cidadãos.
5) Por
último, a ciência é uma actividade social, isto é, não depende de um só
indivíduo ou de poucos indivíduos, sendo o diálogo entre os membros da
comunidade científica apenas possível se não forem erguidas barreiras entre
eles. Por outro lado, também não podem ser erguidas barreiras entre ciência e
sociedade, entre os criadores de ciência e os seus beneficiários.
Esta relação
simbiótica entre ciência e liberdade é corroborada, segundo Ferris, pelo facto
de que as primeiras democracias surgiram nos “Estados em que a ciência e a tecnologia
estavam mais avançadas – Inglaterra, Estados Unidos e Países Baixos e (mais
irregularmente) França, Itália e Alemanha”.
A democracia
verificou que a ciência lhe servia e, do mesmo modo, a ciência verificou que a
democracia lhe servia, pelo que as duas se tornaram inseparáveis. Na expressão
daquele autor “de um modo geral, a ciência prosperou em sociedades livres e
deu-se mal com governos despóticos”.
Os exemplos
da ciência alemã nos tempos de Hitler
(que, na medicina, conduziu a hediondas experiências com seres humanos em
campos de concentração) e da ciência de
Lysenko na era de Estaline (que contrariava a biologia mais avançada da
época) devem chegar para validar a tese
da aversão entre a ciência e os regimes totalitários. Ainda hoje, observamos o maior
progresso científico e tecnológico, com consequências extraordinárias no
desenvolvimento económico e social, nos países onde a democracia – e, portanto,
a liberdade – está mais enraizada, enquanto vemos o menor progresso nos países
onde existe défice democrático.
Como estamos
, em Portugal, quanto à relação entre ciência e liberdade?
De facto, a
ciência, pese embora alguns bons exemplos pontuais, só ganhou quantidade e
qualidade no nosso país após a Revolução de 25 de Abril de 1974. De então para
cá, graças à integração de Portugal na União Europeia, a ciência cresceu de um
modo sem precedentes, reforçando disciplinas mais tradicionais, como as ciências
exactas e naturais, e inaugurando disciplinas menos implantadas ou mesmo
inexistentes, como algumas ciências sociais e humanas.
Modernamente,
as ciências sociais e humanas, que por vezes se alimentam dos métodos das
ciências exactas e naturais, são consideradas um meio auxiliar precioso para o
funcionamento da democracia. Elas permitem, por exemplo, procurar respostas a
questões sobre a organização da sociedade, incluindo domínios como a economia,
a justiça, a educação, etc.
Tal como a
democracia, a ciência é uma procura incessante.
POSFÁCIO A “EPISÓDIOS DA VIDA DE UM PÓLIO”
Meu posfácio ao livro com o título acima da autoria de Ilídio Barbosa Pereira (edição de autor, com prefácio do médico José Apolónio), vítima de poliomelite (uma doença debelada por uma vacina que agora faz 50 anos em Portugal; na imagem vacina oral anti-polio).
Conheço o Ilídio há muitos anos, em primeiro lugar por o ter
encontrado no campus universitário principal de Coimbra, não sei se ainda no
Arquivo da Universidade, paredes meias com o Departamento de Física onde eu
trabalho há décadas, ou já depois no Serviço de Publicações e Documentação da
Universidade, onde ele entrou em 1992, e em segundo lugar, circunstância bem mais
importante, por ter convivido com ele na Associação de Pais da Escola EB2/3 Dr.ª Maria Alice Gouveia em Coimbra, onde o meu
filho frequentou o segundo e terceiro ciclos da escolaridade básica. Com
efeito, o meu filho Luís, nascido em 1993, é da mesma idade de um dos filhos do
Ilídio, o Duarte, e os dois não só foram colegas
naquela escola como ficaram amigos. De facto, a relação é mais íntima: quando o
Luís, já numa idade escolar, pediu para ser baptizado, escolheu para padrinho
de baptismo precisamente o Ilídio. Fui eu que transmiti o convite e lembro-me
bem que, do outro lado, do fio telefónico, não houve a mínima hesitação. Pois
foi com gosto recíproco e fortalecido nos nossos encontros que ficámos
compadres. A casa do Ilídio era contígua à escola da EB2/3
Dr.ª Maria Alice Gouveia e acontecia muita vezes, na primeira década
deste século, que o Luís ficava em casa do padrinho para almoçar, sendo tratado
como um dos seus quatro filhos.
Entre as actividades da Associação de Pais ficaram-me na
memória as festas do fim do ano lectivo, nas quais os infantes aproveitavam os
primeiros calores do estio para se refrescarem na praia fluvial do rio Mondego,
no Zorro, para depois o encontro acabar, em convívio das várias famílias, à
volta do jantar composto de iguarias trazidas e partilhadas por todos. A Lua
estava alta sobre as águas do rio e os nossos espíritos estavam também alto por
os nossos petizes terem completado com êxito mais um ano escolar.
O Ilídio é portador de deficiência, que vem, como tão bem
conta neste livrinho, de uma infecção de poliomielite
que apanhou na infância, pouco antes dos dois anos, quando começava andar. Só
soube da história completa após a saborosa leitura desta obra. É uma história
exemplar, não só pela coragem e determinação do próprio, como pela ajuda por
parte de uma família numerosamente fraterna (o Ilídio tem uma dúzia de irmãos)
e de amigos. Este livro é um agradecimento muito sentido do autor à família e
aos amigos, tendo como pretexto os 50 anos do Plano Nacional de Vacinação, que permitiu erradicar o flagelo da poliomielite entre nós. Mas este posfácio não pode
deixar de ser um agradecimento ao Ilídio por ele ser quem é, por sempre me ter
honrado com a sua amizade e por ele ter mantido, embora o Luís esteja neste
momento e estudar Engenharia em Lisboa enquanto o Duarte
está a estudar Arquitectura em Paris, um contacto assíduo com o afilhado. Os
filhos cresceram e a nossa amizade foi crescendo com eles. Depreende-se do
livro, mas, se for preciso um testemunho de alguém que conhece o autor, só
posso dizer que o Ilídio venceu – aliás, vence todos os dias – a deficiência de
infância. Vindo jovem da aldeia de Lagares, Penafiel, fez o seu curso de
História na Universidade de Coimbra, com pós-graduação em Ciências Documentais,
ao mesmo tempo que trabalhava na Biblioteca Municipal de Coimbra. Depois
tornou-se técnico superior da Universidade, onde está há 29 anos, no Arquivo, no Serviço
de Documentação e Publicações e, mais recentemente, no Centro de
Serviços Comuns da Administração - SGA. Tudo isto com dificuldades notórias de
locomoção que nunca o esmoreceram, pois vejo-o sempre bem disposto. O Ilídio,
graças em primeiro lugar a ele e depois à sua família, mas também à sociedade
que fomos formando e em que felizmente hoje vivemos, é um belo exemplo de
inclusão. Ser diferente não significa que ele não se considere e que não seja
considerado igual. Estou certo que, para o meu filho, que também teve como
madrinha uma extraordinária mãe de um rapaz deficiente (não relacionada
familiarmente com o padrinho), o convívio com o padrinho tem sido uma lição de
vida.
Da leitura deste livro (onde além da capacidade do
historiador ressaltam os conhecimentos de artes gráficas do autor), não pode
deixar de resultar a rejeição do “preconceito do coitadinho”, tão arreigado na
nossa antiga sociedade rural, mas hoje, tal como a poliomielite,
erradicado no nosso país. Custou mais terminar com o preconceito do que com a
doença, porque contra o preconceito não há vacina. E é, por isso, que o
preconceito ainda hoje por vezes assoma. É nossa
obrigação preveni-lo através da educação
inclusiva.
Por falar de vacina, não posso deixar, como praticante da
divulgação da ciência, de aproveitar o espaço que o Ilídio generosamente me
concede na sua obra, por repetir aqui o que afirmo amiúde nas minhas palestras de
divulgação da ciência: o incremento da longevidade, que pressupõe a eliminação
de causas de morte prematura como certas epidemias graves, é um dos grandes
triunfos da ciência moderna. Na segunda metade do século XX, assistimos todos
ao fim, em quase todo o globo, de doenças que costumavam ser fatais. Eu sou
praticamente da idade do Ilídio (não chego a ser um ano mais velho) e podia,
portanto, ter sido infectado, em tenra idade, pelo vírus da pólio. Mas os
nossos filhos, o Luís e o Duarte, já não, porque
engoliram as gotas “mágicas” da vacina anti-pólio.
Os médicos virologistas Hilary Koprowski, de origem polaca, mas naturalizado
estado-unidense, Jonas Salk, norte-americano, e Albert Sabin, de origem russa,
mas também norte-americano, cujos primeiros ensaios vacínicos foram realizados
respectivamente em 1950, em 1952 e em 1957, permitiram que a campanha alargada
de vacinação anti-pólio tivesse começado em Portugal em 1965, depois de alguma
experiência no início da década de 60. É curioso que o judeu Koprowski tenha
passado por Portugal ao fugir da França ocupada pelos nazis, viajando para o
Brasil antes de se fixar nos Estados Unidos. Por sua vez, Sabin, que também era
judeu, emigrou para o Novo Mundo entre as duas guerras, tendo estado várias
vezes no Brasil, o que lhe valeu o ensejo de casar com uma brasileira, a senhora
Heloísa de Abranches.
Para reconhecer o grande triunfo sobre a doença que foi a
vacinação, basta mencionar que a epidemia de 1952 foi horrível (58.000 casos,
que resultaram em 1445 mortes e 21.269 paralisias permanentes), sendo o medo da
poliomielite apenas comparável ao da bomba
atómica, o espectro que pairava sobre o mundo no pós-guerra. As consequências primeiro
do dessa grande epidemia e depois da prevenção através da vacina (a cura
continua a ser um enorme desafio para a medicina) foram enormes, tanto no campo
das ciências médicas, como na sociedade em geral: o progresso
da medicina intensiva teve muito a ver com o combate à pólio, a fisioterapia
desenvolveu-se associada ao tratamento dos pólios, a filantropia floresceu com
a necessidade de assegurar a vacinação maciça e os direitos dos deficientes
foram-se afirmando socialmente, com a criação de associações e a inclusão bem
sucedida.
Jonas Salk recusou patentear
a sua vacina, perguntando: “Acaso se pode patentear o Sol?”. E a vacina passou
a ser, como o sol, para todos. Hoje em dias, graças à vacina anti-pólio, só
existe poliomielite na Nigéria, no Afeganistão e
no Paquistão, embora, devido às péssimas condições sanitárias em cenários de
guerra, estejam a aparecer casos na Síria e no Iraque. A vacina anti-poliomielite representou o início de outras vacinas,
que os cientistas foram descobrindo e disponibilizando. A recente campanha
anti-vacinas que surgiu nalguns países desenvolvidos, designadamente ao
associar de maneira fraudulenta a vacina tríplice
(sarampo, rubéola e papeira) a casos de autismo, é um movimento anti-científico
que tem de ser denunciado e combatido por todos os meios.
O livro do Ilídio é um depoimento, muito autêntico, de um
tempo em que a humanidade passou de uma fase que certas doenças eram temidas fatalidades
para um tempo em que elas não passam de impossibilidades, se conseguirmos que o
conhecimento prevaleça sobre a ignorância. O seu escrito pode parecer apenas um
depoimento pessoal. Mas é bem mais do que isso: é um documento histórico que
importa divulgar e preservar, para que aprendamos com a experiência. Neste caso
não apenas a experiência que a medicina proporciona, mas também a experiência
das ligações humanas. Muito obrigado, Ilídio!
Coimbra, 15 de Novembro de 2015
O ANO DA LUZ CONTINUA
Minha crónica no último número de "As Artes entre as Letras" (baseado num post aqui saído; na imagem a instalação de luz no Porto, perto da estação de S. Bento):
A luz de dia vem-nos do Sol e de noite vem-nos dos outros astros. Salientem-se, portanto, as várias actividades de astronomia realizadas no Verão (na Reserva de Escuridão do Alqueva, onde esteve uma exposição de fotografioa astronómica na aldeia da Luz, e a Astrofesta em Castro Verde, que congregou astrónomos amadores de todo o país), O Ano chamou-se da Luz e das Tecnologias da Luz. Na Feira Nacional do Património realizada em Coimbra uma empresa de luz, Kubo, fez uma fantástica apresentação de luz no Mosteiro de Santa Clara a Velha, em Coimbra, que acresceu ao show histórico que tinha realizado antes nas fachadas do Paço das Escolas da Universidade de Coimbra, a que assistiram mais de 50.000 pessoas, no quadro dos 725 anos da Universidade de Coimbra, e ao festival de luz Lumina em Cascais, que realizou em Setembro. Também houve outros espectáculos de luz feitos por outras empresas, por exemplo em Aveiro e em Lisboa. No Porto abriu uma instalação luminosa perto da estação de S. Bento. As Câmaras Municipais estão a organizar ou a apoiar várias actividades luminosas, como o evento De várias empresas industriais associadas à luz (Lighting Lab), patrocinado pela Câmara de Águeda. O mesmo se passou com associações e ordens profissionais: a Ordem dos Engenheiros realizou um encontro na sua sede em Lisboa e outro no Funchal (na “Casa da Luz”), além de ter editado um número especial da sua revista “Ingenium”, devotado ao tema da luz.
No Porto abriu a 18 de Dezembro no Museu Nacional Soares dos Reis uma exposição que mostra instrumentos científicos do acervo do Museu da Ciência da Universidade do Porto. Em Lisboa têm estado duas exposições luminosas, muito perto uma da outra: A luz de Lisboa num torreão do Terreiro do Paço, e Na luz/ Dentro do Vidro na Galeria Millennium, na Rua Augusta. Em Óbidos, no âmbito do Festival literário, esteve uma exposição de cartoons internacionais sobre a luz, organizado pelo Museu da Imprensa do Porto. Em Coimbra esteve no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra a exposição Visões. O interior do olho humano, da responsabilidade do Centro Cirúrgico de Coimbra, para além da sua mostra permanente Segredos da Luz e da Matéria.
Têm acontecido numerosas conferências sobre luz, designadamente na Faculdade de Ciências e no Instituto Superior Técnico, sobre vários aspectos da ciência e tecnologia da Luz, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto sobre luz e museus, e na Universidade do Minho, em Braga, sobre luz e comunicação, na Universidade de Coimbra sobre interdisciplinaridade e sobre sustentabilidade, no Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva de Lisboa, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa (Light, from the Earth to the Stars), com a presença do físico espanhol do CERN Álvaro de Rujula, e no Instituto Português de Qualidade, no Monte da Caparica, sobre metrologia. Logo na rentrée tiveram lugar vários eventos internacionais incluindo conferencias científicas na Figueira da Foz e em Faro respectivamente sobre espectroscopia e sobre técnicas avançadas de lasers. A 10 de Novembro a Comissão Nacional da UNESCO realizou no Pavilhão do Conhecimento uma conferência sobre o AIL2015 e sobre o Ano Internacional dos Solos, que é simultâneo do Ano da Luz. Mas merece especial relevo a conferência sobre luz, focado no Telescópio Espacial James Webb, que foi proferida no Porto pelo cientista da NASA e Nobel da Física John Mather, no quadro do Festival do Pensamento organizado pelo saudoso Paulo Cunha e Silva.
Realizaram-se outras sessões sobre luz por todo o país: na Biblioteca de Viana do Castelo (Mundos de Luz), na Faculdade de Nutrição e Ciências da Alimentação da Universidade do Porto (Dia da Faculdade) e na Academia Portuguesa de Medicina e na Faculdade de Medicina, em Coimbra (também Dia da Faculdade). No Rómulo- Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, a Noite Europeia dos Investigadores em finais de Novembro foi sobre a luz. Muito intensas têm sido as actividades no Ano da Luz da Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, no Monte da Caparica, dirigida por José Moura. Destaque para uma Noite da Luz, que mobilizou muita gente do campus.
Saíram na Gradiva os livros Uma Biografia da Luz, do físico José Tito Mendonça (lançado no Pavilhão do Conhecimento pelo Reitor da Universidade de Lisboa), QED, do físico Richard Feynman (nova edição com novo prefácio), Cosmicomix (banda desenhada sobre o Big Bang) e Histórias da Física em Portugal no século XX. Saiu no Centro Atlântico um belo livro sobre fotografias astronómicas da autoria de Miguel Claro (Dark Sky – Alqueva). Foi também editado um catálogo sobre os cartoons exibidos em Óbidos. A Tinta da China editou um livro sobre a biblioteca de José Pacheco Pereira contendo fotografias pin-hole.
Nos jornais o Público dedicou o seu número de aniversário aos cem anos da teoria da relatividade geral de Einstein e está a publicar, na sua revista dominical, uma série sobre aspectos científicos e artísticos da luz. Outros jornais, como o Sol, publicaram reportagens sobre o AIL2015. A imprensa regional tem estado muito atenta ao AIL2015, através do programa "Ciência na Imprensa Regional". A RTP passou um spot sobre o ano da luz. E foram transmitidos programas sobre a luz na RTP2, em particular Sociedade Civil. A Gazeta de Matemática publicou um número especial sobre o AIL2015. A Gazeta de Física, órgão da Sociedade Portuguesa de Física vai editar em 2016 um número sobre o mesmo tema.
Houve concursos de fotografia e cinema, designadamente o concurso Luz em Flash, organizado pela Comissão Nacional do AIL2015 e o concurso organizado pela Ordem dos Engenheiros. Houve também um muito interessante concurso de joalharia sobre o tema da luz. Finalmente, os CTT realizaram uma emissão comemorativa dos dois anos.
NOBEL PARA OS NEUTRINOS
Adivinhar quem vai ser laureado com o
Prémio Nobel da Física é muito mais difícil do que adivinhar o resultado das
eleições, processo para o qual há sondagens. O processo é conduzido no meio do
maior segredo, sendo inquirida a comunidade dos físicos é escutada, com cartas
dirigidas pela Academia de Estocolmo a investigadores de todo o mundo. Depois a
Academia decide, só havendo acesso às actas décadas volvidas.
No entanto, há quem não se canse de tentar adivinhar quem serão os laureados. A revista Physics World do Institute of Physics inglês, faz esse exercício todos os anos. Falhou mais uma vez: previu a entrega do prémio a Deborah Jin, uma americana a trabalhar em condensados de fermiões (seria apenas o terceiro Prémio Nobel da Física dado a uma mulher, após a francesa Madame Curie e a alemã Maria Mayer), ou ao francês Alain Aspect, ao austríaco Anton Zeilinger e ao americano John Clauser por trabalhos relativos à teoria quântica, ou ao israelita Yakir Aharonov e ao britânico Michael Berry, por trabalhos também de física quântica, ou ainda aos líderes mundiais da caça aos exoplanetas, um dos domínios de maior actualidade da astrofísica. Mas, honra lhe seja, tinha previsto em 2013 um prémio para os pesquisadores de neutrinos. Com o Nobel dado aos descobridores da massa dos neutrinos, o ramo da física mais nobelizado até hoje - a Física Nuclear e de Partículas – destaca-se ainda mais em relação aos outros ramos. Neste momento tem 36 prémios e 70 laureados. Os neutrinos já tinham servido para justificar os Prémios Nobel de 2002, 1995 e 1998, incluídos nesse lote.
Não interessa tanto o ano da atribuição, desde que haja prémio, pelo que todos os nomes atrás referidos são bons candidatos ao Nobel do próximo ano. Em geral, não há grande discussão sobre a legitimidade dos premiados da Física. Por que razão o prémio deste ano está bem atribuído? Sabemos que a matéria normal é feita de electrões (de carga negativa) e quarks (de carga positiva ou negativa) e neutrinos (sem carga). Os neutrinos são os mais enigmáticas destas partículas. Até ao início do presente século pensava-se que não tinham massa. Após as experiências nos dois grandes detectores subterrâneos, no Japão e no Canadá, capitaneados pelos dois Nobel de 2015 Takaaki Kajita e Arthur McDonald, concluiu-se que afinal têm massa. Muito pequena mas têm. O puzzle que Kajita e McDonald resolveram foi o do défice de neutrinos vindos do Sol relativamente às previsões teóricas. Parecia que dois terços dos neutrinos produzidos no Sol não chegavam à Terra. A solução consistiu em admitir uma oscilação entre os três tipos de neutrinos (electrónico, muónico e tauónico), oscilação essa só possível graças à massa dos neutrinos. Não se conhece ainda a escala absoluta da massa dos neutrinos, mas as referidas experiências deram diferenças entre os quadrados dessas massas. O conhecimento da massa dos neutrinos tem implicações cosmológicas, pois o Universo está cheio de neutrinos (nós estamos constantemente a ser atravessados por um incrível chuveiro deles), pelo que as investigações sobre eles continuam. Além disso, a massa dos neutrinos sugere que o actual modelo padrão da física de partículas não é a última palavra.
Uma questão interessante que o Nobel da Física deste ano coloca é a hipótese de
o prémio passar a ser dado a equipas ou organizações, em vez de ser dado a
indivíduos. De acordo com o testamento de Alfred Nobel, a ideia é premiar até
três indivíduos por descobertas ou invenções notáveis. Tem sido dado nas
últimas duas décadas a dois ou três indivíduos, deixando por vezes outros de
fora. O último Nobel da Física a obter a distinção individual foi o francês
Georges Charpak, pela sua invenção de detectores de partículas no já longínquo
ano de 1992. Esse facto revela que a física é, hoje em dia, um trabalho de
equipa. Estamos bem longe dos anos 20, quando com duas excepções, o prémio foi
dado a um só indivíduo…
HISTÓRIA DE UM LABORATÓRIO DO ESTADO
Minha recensão publicada na última Gazeta de Física (vol. 38, n.º 2):
A energia nuclear tem hoje má fama
em Portugal como noutros sítios. Mas, na sequência da iniciativa Átomos para a Paz de Eisenhower, ela foi
desde os anos 50 até aos anos 80 considerada em Portugal uma opção energética
possível. Foi planeado e construído – de facto, continua hoje activo – um reactor
nuclear em Sacavém. A
decisão de construir a instituição que o enquadrou, o Laboratório de Física e
Engenharia Nucleares (LFEN) foi tomada por Salazar em 1955 com base numa
proposta da Junta de Energia Nuclear criada um ano antes. O início legal do
Laboratório ocorreu em 1959, embora só em 1961 o reactor tenha entrado em funcionamento. O
fim inglório da instituição como organismo estatal ocorreu em 2012, quando Passos
Coelho decidiu extinguir o então chamado Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN),
um dos nove Laboratórios do Estado existentes no nosso país, tendo transferido
as suas funções para o Instituto Superior Técnico.
De 1959 até à 2012, o Laboratório
teve uma vida bastante atribulada. O físico nuclear Jaime da Costa Oliveira, que
nele fez a sua carreira científica e que por isso o conhece bem, apresenta-nos
no livro Memórias para a História de um
Laboratório do Estado[1] um
resumo muito cuidadoso do percurso desse laboratório no seu pouco mais de meio
século de existência. Identificou cinco crises, algumas demoradas: a crise de
1962-63, a
crise de 1973-1978, a
crise de 1992-1994, a
crise de 2000-2005 e a crise de 2009-2011. Isto é, houve um total de quase 16
anos de crise em 53 anos de vida institucional. Entre esses períodos de crise o
autor identificou cinco tempos de mutação: 1968, 1979, 1985, 1995 e 2007. A vida do Laboratório
decorreu, portanto, num sobressalto permanente, entre crises e mutações, agravando-se
no regime democrático com a continuada indefinição de objectivos. De facto, o
secretário de Estado Carlos Pimenta anunciou em 1987 o abandono da opção
nuclear (o desastre de Chernobyl tinha sido em 1986), uma decisão que terá
contribuído para a maioria absoluta de Cavaco Silva nesse mesmo ano. Se a
primeira crise, no início dos anos 60, correspondeu a uma mudança de planos no
aproveitamento do urânio da Urgeiriça e à falta de meios para incrementar a
infra-estrutura de Sacavém (viviam-se, recorde-se, os primeiros anos da guerra
colonial), a crise de 1973 consistiu na despromoção do Laboratório, iniciada
antes do 25 de Abril de 1974 mas agravada com as confusões do PREC (o
presidente da Junta de Energia Nuclear entre 1973 e 1974 foi o general Kaúlza
de Arriaga, vindo de Moçambique, que já
antes tinha desempenhado essas funções). Em 1979 parte do Laboratório foi
integrado no LNETI – Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial
–, para cuja direcção foi nesse ano nomeado Veiga Simão, um físico nuclear. A crise
de 1992 ocorreu após o LNETI ter passado a INETI (Instituto em vez de
Laboratório, mais um passo de uma dança de nomes que abunda nesta história).
Mas a nova orgânica deixou de lado a instalação de Sacavém, denominada
Instituto de Ciências e Engenharia Nucleares
(ICEN) desde 1985. Em 1995 Mariano Gago, à frente do novo Ministério da Ciência
e da Tecnologia, tentou animar o Laboratório de Sacavém, que tinha desde há
pouco o nome de ITN. A partir de 2000 e durante cinco anos ocorreu nova crise
relacionada com o mau relacionamento entre a direcção e investigadores, que
falavam de indefinição quanto ao rumo. Em 2007 o ITN transformou-se em Instituto Público ,
mas, a partir de 2009, com o deflagrar da crise económica na Europa e em Portugal,
os recursos para a ciência ficaram progressivamente mais escassos. Finalmente, em
2011, o governo de Passos Coelho, sem qualquer estudo prévio, matou de “morte
macaca” uma instituição que, apesar das sucessivas indecisões governamentais,
tinha procurado cumprir o objectivo de formar investigadores, criar ciência,
desenvolver técnicas e cuidar, nomeadamente, dos aspectos de segurança nuclear
e protecção contra radiações. E cumpriu-os, com os escassos meios que sempre
teve: uma exibição das suas capacidades
foi a missão do ITN em 2001 no Kosovo e na Bósnia para analisar vestígios de
urânio empobrecido. De facto, conclui Jaime Oliveira, com a transferência das
atribuições do ITN para a Universidade Técnica de Lisboa (hoje, Universidade de
Lisboa) não ficou “salvaguardado,
claramente, o princípio geral de independência e responsabilidade directa do Estado,
em particular no exercício das suas funções regulatórias nos domínios da
segurança nuclear e da protecção contra radiações”. Julgo que tem razão. O
ministro Nuno Crato pouco percebia da “poda”. Podou só por podar. E à
semelhança do que fez com o ITN podou, mais tarde, numerosos centros de
investigação sem uma avaliação séria.
O livro de Jaime Oliveira, na
sequência de outros que escreveu sobre a física e a engenharia nucleares em
Portugal, está muito bem documentado. Merece felicitações pelo trabalho de
recolha de dados, legislação e depoimentos, com base no qual emite um parecer
final. Estamos em presença de uma análise precisa, efectuada com raios gama se
me é permitida uma metáfora de base científica. Este livro conjuntamente com o
sítio www.itn.pt/memoria/ em que ele
colaborou contam a história do nascimento, vida e morte de um Laboratório de
do Estado. Para além da posição do autor, um insider, importam sobremaneira os depoimentos inéditos de 17
personalidades que de uma forma ou de outra supervisionaram a actividade de
Sacavém (na lista incluem-se José Veiga Simão, Luís Mira Amaral, José Mariano Gago,
Pedro Lynce, Pedro de Sampaio Nunes e Ricardo Bayão Horta). Percebe-se que
muitas vezes não houve dinheiro, mas na maior parte das vezes o problema foi
outro e bem mais grave: a falta de pensamento estratégico e a falta de decisão
política atempada. A energia nuclear não conheceu ventos favoráveis em
Portugal, ao contrário de outros países europeus, mas, sendo Portugal um país com
potencial uranífero e com níveis de radioactividade não desprezáveis em partes
largas do seu território, poder-se-ia ter alimentado com mais vigor a nossa
capacidade científico-técnica nesse domínio. A ciência e a engenharia nucleares
estão longe de se resumirem à opção energética e, ao não apostarmos, sem
descontinuidades, na investigação do núcleo atómico, limitámos a nossa
capacidade nacional em áreas que vão da protecção relativamente a radiações até
ao uso das radiações na saúde.
Jaime da Costa Oliveira sabe do
que fala. Licenciado em Ciências Físico-Químicas pela Universidade de Lisboa, doutorou-se em Física Nuclear em Paris
no ano de 1969. Foi durante 25 anos Investigador-Coordenador do ITN e instituições
anteriores, tendo desempenhado funções directivas durante vários anos. Coordenou
o Livro Branco sobre Centrais Nucleares de 1977 e foi um dos fundadores da
Sociedade Portuguesa de Física, que é contemporânea da Revolução de 1974. Publicou
numerosos trabalhos sobre reactores nucleares e política energética e 14
livros, entre os quais A Energia Nuclear
– Bases para uma opção (Sá da Costa, 1977), Energia Nuclear – Mitos e Realidades (O Mirante, 2000, com Eduardo Martinho)
e O Reactor Nuclear Português – Fonte de
Conhecimento (O Mirante, 2005). Com mais este livro deixa um legado valioso
aos historiadores de ciência. Eles, com mais distância, não deixarão de
dissecar uma das instituições mais marcantes da nossa história científica
recente.
[1] Jaime da Costa
Oliveira, Memórias para a História de um Laboratório do Estado, O
Mirante Editora, 2013.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Para Elisa
Vídeo aqui
“Para Elisa”, é uma das peças mais populares de Beethoven. Composta no final da primeira década de 1800, é dedicada não a uma Elisa mas a uma Teresa, com quem o compositor se queria casar, ou a uma Elisabeth, com quem não se sabe se se queria casar ou não...
Pensada para ser tocada em piano, é, como se pode ver no vídeo, magnificamente interpretada por músicos tão pouco convencionais como o compositor o era, com recurso a um instrumento conotado com diversos tipos de música que não a dita clássica. Mostram, afinal, que o mais importante da música é... a música.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
OS MAIS BELOS LIVROS DO ANO
Minha crónica no Público de hoje:
Fim do ano é tempo de balanço. E eu abalanço-me aqui a escolher os livros mais belos do ano. São todos óptimas prendas de Natal de última hora. Como não há bela sem senão, o seu preço é maior do que a média. Pois que a sugestão de livros mais dispendiosos fique como um sinal do desaperto do cinto. Ouço dizer que vem aí a reposição gradual dos salários e da sobretaxa de IRS. Fico, como toda a gente, satisfeito com o anúncio e mais disposto a abrir, nas livrarias, os cordões à bolsa. O certo é que, conforme me lembram os pontuais extractos, o meu banco ainda não sabe desse fim da austeridade. Mas eu quero lá saber se, ao comprar um belo livro para mim ou para oferecer, o saldo fica mais baixo. Investir em belos livros é investir na beleza e a beleza é sempre consoladora. A ordem é a alfabética do apelido dos autores (o título parcialmente em inglês indica que a edição é bilingue).
— Pepe Brix, Os Últimos Heróis. The Last Heroes, Matéria-Prima Edições. Este livro de fotografi as ilustra a odisseia dos pescadores portugueses a bordo do arrastão Joana Francesa, um dos últimos bacalhoeiros nacionais, nos mares frigidíssimos da Terra Nova. Em parte saiu na National Geographic Portugal de Fevereiro passado. Mas a reportagem, alargada e em grande, é outra coisa. Passei a olhar o bacalhau com outros olhos. Patrocínio da Riberalves e apoio do Museu Marítimo de Ílhavo, que exibe um aquário de bacalhaus.
— Hélder Carita e António Homem Cardoso, A Casa Senhorial em Portugal. Modelos, Tipologias, Programas Interiores e Equipamento, Leya. Lançado há dias numa das casas senhoriais mais belas de Portugal, o Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, um historiador de arte e um dos fotógrafos portugueses mais conhecidos mostram, sob a égide da Associação Portuguesa de Casas Antigas, o exterior e o interior de algumas dessas mansões. Os autores já nos tinham dado edições de luxo como Oriente e Ocidente nos Interiores em Portugal (Civilização) e Tratado da Grandeza dos Jardins de Portugal (Círculo de Leitores) e esta é mais uma, para se sobrepor a elas na mesa do café.
— Miguel Claro, Dark Sky. Alqueva. O Destino das Estrelas. A Star Destination, Centro.Atlântico.pt. Neste Ano Internacional da Luz (notícia de última hora: vai, em Portugal, ser estendido até Junho) um livro de um astrofotógrafo português de reputação internacional que documenta a Reserva “Dark Sky” do Alqueva, a primeira reserva mundial certificada como "Destino Turístico Starlight". Imagens avassaladoras que nos vêm de longe vistas do grande lago alentejano!
— Umberto Eco, História das Terras e dos Lugares Lendários, Gradiva. O historiador e escritor italiano, autor de O Nome da Rosa, brinda-nos com mais uma das suas belas obras, que junta erudição e rica iconografia. Quem gostou da História da Beleza ou da História do Feio ou ainda de A Vertigem das Listas (todos eles saídos na Difel) não pode perder este roteiro dos lugares maiores que a pródiga imaginação humana criou.
— Mário Ruivo (coordenação), Do Mar Oceano ao Mar Português. From the Mar Oceano to the Portuguese Sea, Edições CTT e Centro Nacional de Cultura. Um renomado cientista do mar português coordenou, para este cuidado volume dos Correios de Portugal (como é timbre desta instituição), um conjunto de textos ricamente ilustrados sobre a nossa antiga e íntima relação com o mar, que vão da história à gastronomia. Inclui uma colecção de selos.
— Peter Sís, O Piloto e o Principezinho. A vida de Antoine de Saint-Exupéry, Jacareca. Um autor premiado de livros infantis encanta-nos com o extraordinário design de uma biografia do autor de O Principezinho (que, pesem embora os seus 72 anos, permanece actualíssimo, como mostra a sua recente adaptação ao cinema em desenhos animados). Eu já conhecia a Árvore da Vida (Terramar), a biografia de Darwin distinguida como melhor álbum ilustrado do ano pelo The New York Times, mas com o novo livro fiquei rendido ao artista norte-americano nascido na Checoslováquia.
— Vários, O Círculo Delaunay. The Delaunay Circle, Centro de Arte Moderna, Gulbenkian. Ainda no Ano da Luz é publicado o catálogo de uma extraordinária exposição de Sonia e Robert Delaunay, o casal de pintores franceses (ela vinda da Ucrânia) que em Junho de 1915 se estabeleceu em Vila do Conde para fugir aos horrores da guerra que grassava na Europa, tendo convivido com pintores como Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana e José de Almada Negreiros. Lembro que Sonia Delaunay foi alvo de uma exposição recente na Tate Modern em Londres. Para ficar espantado com as suas composições de cor, basta ir à Fundação Gulbenkian à exposição comissariada por Ana Vasconcelos.
Boas leituras e Boas Festas!
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