sábado, 17 de agosto de 2019

Que educação pretendemos?

Na continuação de texto anterior do Professor Manuel Alte da Veiga (aqui), reproduzo abaixo um outro de grande interesse:
Como quase tudo na vida, o processo educativo é um equilíbrio das forças. Para que seja mais do que um pobre equilíbrio, é necessário procurar a visão global dessas forças. 
O pedagogo e filósofo Dewey desenvolveu com muito interesse o conceito de «grupo perfeito»: um grupo formado livremente e em que as pessoas se exercitam a partilhar as suas posições, num espírito de aceitação pelas diferentes perspectivas mesmo se contraditórias. Por outro lado, permite reflectir no que pode haver de verdade ou de erro nas afirmações ou meras opiniões. Consegue-se assim atingir um nível superior de conhecimento, uma visão longe da mesquinhez; e gera-se o consenso necessário, porque bem fundamentado, para se elaborar um plano de acção realista e eficaz. 
Não desenvolvendo esta capacidade, ficamos isolados e ignorantes, com muito menos capacidade para «sobreviver» num mundo em que os «ditadores» parecem cada vez mais omnipresentes, não aceitando o pensamento dos outros e provocando autênticas «lavagens ao cérebro». É característica do grupo perfeito não aniquilar a fonte de criatividade e organização, que é o sujeito. 
Esta tomada de consciência global é imprescindível para a formação pluridimensional quer dos professores, quer dos alunos, quer ainda de todos os grupos sociais que pretendem desenvolver a dignidade de cada pessoa. 
Consequentemente, é essencial não se guiar por princípios deterministas ou utilitaristas, facilmente manipulados por interesses políticos, económicos, religiosos e outros. Colar-se a estes princípios é alienar o projecto individual de cada pessoa, sendo também atentatórios da liberdade de todos os intervenientes no processo educativo ou outro. 
Cabe a cada qual construir um futuro, uma intervenção na sociedade, de modo a que os talentos pessoais se combinem com as necessidades e vantagens da sociedade. Mais uma vez se pode ver como a especialização só respeita a dignidade humana e sua capacidade de progresso se tem consciência da vastidão e alcance do leque de saberes.

4 comentários:

Anónimo disse...

Antero de Quental, com as causas da decadência dos povos peninsulares, pôs o dedo na ferida aberta, ainda longe de cicatrizar, que é a Educação em Portugal. O pensamento único imposto pela contra-reforma de Roma a todos os países católicos, teve nefastas consequências que ainda hoje se repercutem no nosso sistema de ensino. O mamarrracho do Convento de Mafra é a expressão arquitetónica do poder absoluto de D. João V, e da Igreja Católica, por oposição ao desenvolvimento económico e científico dos países protestantes da época. O espírito guerreiro dos nobres, orientado pelo fanatismo dos jesuítas, era quanto bastava para derrotar no campo de batalha os exércitos dos países onde não eram proibidas novas formas de pensar. Realmente, com toda essa fé, ainda ganhamos algumas batalhas, mas acabamos por perder a guerra.
No mundo de hoje, não é à espadeirada que vamos começar por resolver os problemas do nosso desenvolvimento. O tempo dos santos guerreiros, defensores do império de aquém e além-mar, acabou. Temos de voltar ao trabalho, no sentido mais amplo do termo, incluindo portanto o pensamento livre. O horrível facilitismo, que corrompe a escola em Portugal, tem de ser expurgado e substituído pelo trabalho e disciplina que estão na base da riqueza das nações. Esta macacada, que tem como corolário a atribuição de grau de Mestre ao líder da claque dos Super Dragões, já desceu ao inferno!

Anónimo disse...

Com a ideologia educacional vigente, no futuro teremos adultos à semelhança do meu querido aluno Pedro. Nada dado ao trabalho escolar, passava as aulas a "descobrir" erros ortográficos no que estava registado no quadro.

Anónimo disse...

Coitado!
Se já no ensino por objetivos, os supervisores educativos aconselhavam os educadores de infância e os professores dos ensinos básico e secundário a fazerem vista grossa aos erros ortográficos dos alunos mais desfavorecidos, agora, com toda a flexibilidade da escola inclusiva, e a trapalhada dos recentes acordos ortográficos, é preciso ser muito picuinhas para "descobrir" erros onde já só há relativismo educacional facilitista!

Anónimo disse...

Há relativismo educacional facilitista se os professores permitirem. Infelizmente, muitos acalentam a acefalia vigente para não desagradarem ao poder.
É QUE NAS ESCOLAS PORTUGUESAS VOLTÁMOS AO 24 DE ABRIL DE 1974.

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