Por Eugénio Lisboa
O Professor Galopim de Carvalho, pessoa que muito respeitamos e admiramos, publicou, no De Rerum Natura, uma reflexão sobre a poesia, fundamentada na sua experiência de leitor. Trata-se de um texto despretensioso, de uma exemplar humildade, franqueza e, mesmo candura, de algum modo, solicitando que o esclareçam. Como sério e esforçado cientista, sabe que a melhor estratégia, perante um problema, é questionar. O conhecimento foi produzido à custa de perguntar.
Há os que já sabem tudo e há os que questionam tudo. Os sabichões pertencem à primeira categoria, os cientistas, à segunda. O cientista Niels Bohr gostava de esclarecer que, quando dizia alguma coisa, não estava a afirmar, mas sim a perguntar.
É um facto que a pintura no tempo de Delacroix era muito mais popular, porque acessível, do que é hoje. Como é um facto que a poesia de Victor Hugo era, no seu tempo, muito mais popular do que é hoje a poesia de um T. S. Eliot, de um Ezra Pound ou de um Herberto Hélder. Note-se, de passagem, que a poesia nunca teve muitos leitores, como já foi observado por ensaístas atentos, mas, hoje em dia, corre o risco de ter mais poetas do que leitores.
É um facto que a pintura no tempo de Delacroix era muito mais popular, porque acessível, do que é hoje. Como é um facto que a poesia de Victor Hugo era, no seu tempo, muito mais popular do que é hoje a poesia de um T. S. Eliot, de um Ezra Pound ou de um Herberto Hélder. Note-se, de passagem, que a poesia nunca teve muitos leitores, como já foi observado por ensaístas atentos, mas, hoje em dia, corre o risco de ter mais poetas do que leitores.
Por outras palavras, a arte e a poesia tornaram-se menos acessíveis, mais difíceis de ler, por vezes, quase indecifráveis. Sobre as razões deste decréscimo de popularidade da pintura, do romantismo para cá, o grande pensador espanhol Ortega y Gasset escreveu um livro admirável – A DESUMANIZAÇÃO DA ARTE - que, estou certo, o Professor Galopim de Carvalho achará interessante ler.
Quanto a grande parte da poesia de hoje, a dificuldade que oferece pode ter várias explicações. Por um lado, frequentemente, o discurso poético dispensa nexos lógicos, por outro lado, usa um luxo de metáforas ousadas (e arriscadas), herdadas do surrealismo, nas quais aproxima, à beira do abismo, o aparentemente não aproximável. Caindo, não raro, num subjectivismo tão assanhado, que roça o arbitrário.
Quanto a grande parte da poesia de hoje, a dificuldade que oferece pode ter várias explicações. Por um lado, frequentemente, o discurso poético dispensa nexos lógicos, por outro lado, usa um luxo de metáforas ousadas (e arriscadas), herdadas do surrealismo, nas quais aproxima, à beira do abismo, o aparentemente não aproximável. Caindo, não raro, num subjectivismo tão assanhado, que roça o arbitrário.
De aí a dificuldade que sentiu o Professor Galopim de Carvalho, diante das metáforas ousadas de Eugénio de Andrade e não sentiu diante das de Sophia, mais “legíveis”, mais domesticadas… Sobre este assunto da “dificuldade” que oferece alguma poesia, recomendaria ao Professor Galopim de Carvalho, se mo permite, a leitura do livro – ON DIFFICULTY AND OTHER ESSAYS – do grande ensaísta George Steiner. Talvez ai encontre algumas pistas interessantes, no sentido de esclarecer as suas perplexidades.
Peço-lhe me releve o atrevimento desta minha intervenção, mas faço-o com a mesma boa fé e candura que pôs no seu texto.
Eugénio Lisboa
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