Se eu soubesse sentir o que sinto,
se o que sinto fosse de se dizer,
se não fosse que, ao dizê-lo, minto,
a vida seria outro viver.
Porque sentimos mais do que sentimos
e muitíssimo mais do que dizemos.
Sentimos só o que consentimos
e do que sentimos pouco sabemos.
O que sinto é uma caverna escura,
onde se esconde o que se não diz:
se senti-lo já é uma loucura,
dizê-lo, só à custa de ardis.
Sentir está sempre além do que sentimos
e, deste, tantas vezes, nós fugimos.
Eugénio Lisboa
quinta-feira, 11 de janeiro de 2024
SENTIR
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