domingo, 21 de janeiro de 2024

O NEGÓCIO GLOBAL DA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA

O jornal Público tem feito um bom e continuado trabalho de investigação do negócio das "publicações científicas", que cresce e floresce, ainda que com a reprovação e denúncia de muitos, mas com a condescendência e cedência de cada vez mais. 

Do que me é dado ver, são, na verdade, poucos (muito poucos) os investigadores que se mantêm inflexíveis quanto aos critérios (efectivamente) científicos e éticos (sim, éticos) de divulgação daquilo que (realmente) apuram com o seu estudo (aturado e honesto) e, por acréscimo, do destino a dar ao que (responsavelmente) escrevem. Isto significa que, mesmo havendo pessoas e grupos dissonantes, que publicam em acesso livre (de pagamento, tanto para os autores como para os leitores) a verdade é que são (ainda) uma minoria.

A pressão para publicar-não-importa-bem-o-quê é bem real, sendo que aquilo que tende a prevalecer para efeitos de contratação, de progressão na carreira, de reconhecimento académico, de visibilidade social é a "quantidade" das publicações. Dir-me-ão que a "qualidade" também conta, mas como é possível apurar a "qualidade" numa imensa (imensa) quantidade apresentada por cada candidato?

Acresce que a imposição de publicar é acompanhada de uma outra: publicar em certas revistas e editoras, as que triunfam (sobre outras) no mundo super-competitivo das publicações. E muitas destas fazem-se pagar bem e cada vez melhor. É o negócio global da publicação científica. Negócio em que se imiscuiu a publicação predadora.

Ilustração: José Alves (jornal Público)
Voltando ao mencionado jornal, na sua edição de hoje, José Alves "apanhou" primorosamente o "espírito" do negócio na ilustração ao lado e o jornalista Tiago Ramalho explica em dois artigos – "Pagar ciência em Portugal cada vez mais refém de revistas predadoras" e "Os cientistas são forçados a publicar cada vez mais" – a situação no nosso país:

"A ciência em Portugal está cada vez mais dependente de editoras científicas que cobram taxas de publicação dos artigos científicos – aumentando o custo de fazer e divulgar ciência. Só em 2022, um em cada quatro artigos científicos portugueses publicados em cinco das maiores editoras científicas pagou estas taxas. Além disso, o peso das revistas da editora MDPI na investigação portuguesa também preocupa – afinal, esta é uma editora considerada predadora (mas já lá vamos). Mais: estima-se que terão sido gastos entre 5,1 milhões e 8,5 milhões de euros nestas taxas só em 2022.

Nota: Sobre o assunto, escrevemos, nomeadamente, aqui e aqui

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