quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O "POLITICAMENTE CORRECTO" NA MÚSICA

O recorte ao lado é do último número do semanário Expresso, mas a notícia que faz título está numa infinidade de jornais. Parece que é verdade: uma das canções mais "icónicas" dos irreverentes Queen foi omitida na reedição dos seus Greatest Hits, que ficará disponível numa certa plataforma online.

Argumenta-se que a canção intitulada Fat Bottomed Girls é imprópria para crianças pois pode provocar body shaming. Nesta reedição consta também o aviso de que as crianças podem ficar expostas a temas sensíveis como violência e drogas. 

O fundador da banda, Brien May, tem explicado que eram os loucos anos setenta; que, nessa época, quatro rapazes juntos, a inventar música, estavam longe das barreiras morais do presente; que a arte é, por natureza, transgressiva... Se fosse hoje, acrescenta, a canção talvez não tivesse saído, mas saiu. E escondê-la é nada menos que o "politicamente correcto" a funcionar... 

Aqui fica a ligação para que o leitor melhor possa fazer o seu próprio juízo.


3 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

O que está aqui em causa não é a música, nem podia ser, dado o seu carácter “insignificante” e, quanto a isso, inócuo e anódino. Nenhuma música significa o que quer que seja, enquanto não lhe for referenciado um significado, ou um sentido, como acontecia e acontece na utilização de sinais sonoros, nos diversos toques de corneta ou clarim, ou campainha, ou morse, entre outros.
O que parece estar em causa nesta “exclusão” da canção dos Queen é mais a letra e, sobretudo, estar ela “embalada”, ou “embrulhada” numa espécie de açúcar que muita gente adora, em especial as crianças. Tem que haver muito cuidado com aquilo que se dá às crianças, seja na catequese, seja na escola, seja, mais especificamente, nos audiovisuais. Por exemplo, não se deve dar droga, nem álcool, nem tabaco, nem nenhuma espécie de veneno. E isto não é de agora.
Mas não há como evitar, nem me parece que fosse vantajoso, que as crianças saibam que essas coisas existem, como existe toda a espécie de crime, de violência, de maldade e desgraça. As crianças têm a ganhar, em termos de desenvolvimento, de adaptação ao mundo e de compreensão do mesmo se, por exemplo, lhes ocultarem que há muitas pessoas com responsabilidades políticas que apoiam a guerra da Rússia contra a Ucrânia? Terão a ganhar, ou a perder, alguma coisa se, em frente à escola virem o degradante e horrível espectáculo dos tóxicodependentes e das prostitutas? Vamos tapar os olhos e os ouvidos às crianças? Vamos criar uma variante de humanos cegos e surdo-mudos, para que a segurança e felicidade esteja mais garantida? Vamos eliminar as palavras que não nos interessam, como gordo, mau, feio, lingrinhas, branco, preto, amarelo, vermelho, etc., como forma de eliminar a realidade? Vamos acabar com os adjectivos, a começar pelas escolas classificadoras? E quem vai aceitar e obedecer a isso?
Não basta estabelecer limites ao uso ofensivo concreto? Mesmo quando a ofensa resulta de uma alusão elogiosa, como em certos piropos? Haverá alguma forma de “educar” para o “politicamente correcto” quando sabemos que isso se vai tornar numa forma subtil de ser ainda mais incorrecto?

Anónimo disse...

Roubei-te um beijo
Não querias dar
Estou muito triste
Mas por ti não vou chorar

Não vou chorar
Não vou sofrer
Estou muito triste
Mas por ti não vou morrer

Estou de abalada
Vou para as terras de Espanha
Tu não me queres
Aqui mais ninguém me apanha

Ninguém me apanha
Já cá não está quem sofria
Meu lindo amor
Tu hás de chorar um dia

As tristes lamurias do rouxinol
Em seminhalma
Do nascer ao pôr do sol
Ao por do sol
à luz da lua
Não há no mundo
Cara mais linda do que a tua

Estou de abalada
Vou para as terras de Espanha
Tu não me queres
Aqui mais ninguém me apanha

Ninguém me apanha
Já cá não está quem sofria
Meu lindo amor
Tu hás de chorar um dia

Robei-te um beijo
Foi por paixão
Vê la não digas
A ninguém que eu sou ladrão

Que eu sou ladrão
Apaixonado
Meu lindo amor
Quero viver ao teu lado

Estou de abalada
Vou para as terras de Espanha
Tu não me queres
Aqui mais ninguém me apanha

Ninguém me apanha
Já cá não está quem sofria
Meu lindo amor
Tu hás de chorar um dia

Letra: Armando Torrão - Serpa, Alentejo

Anónimo disse...

Onde se lê "Em seminhalma" deve ler-se "Enchem minha alma".

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Otília Pires Martins, teve a amabilidade de me enviar notícia da publicação, a título póstumo, do último livro de Eugénio Lisboa , Manual Pr...