Por Eugénio Lisboa
Quem alguma vez tenha lido A Cidade e as Serras, não terá dúvida nenhuma de que Eça preferiria ficar sepultado em Tormes a ser trasladado para o panteão. Também não duvidará de que Eça detestaria a ideia de ir para o Panteão. Bastava conhecer um bocadinho a obra e a maneira de estar no mundo do autor de Os Maias.
Mas, a um senhor que hoje é ministro, ocorreu a ideia macabra de fazer essa trasladação, sem consultar os herdeiros, que são os únicos a poderem, legalmente, dar autorização para uma tal trasladação. E estes, tanto quanto se saiba, não a deram nem a darão.
A Assembleia da República tem o poder de autorizar a operação, mas não tem o poder de a impor.
O que se pretende fazer em Setembro é ilegal, afrontoso e próprio de quem nunca leu a sério uma só linha do grande escritor. E é próprio de quem está mais interessado em pôr-se em bicos de pés do que em servir a memória do nosso maior romancista.
Convida-se o maior número de pessoas e instituições culturais a manifestarem-se contra este sinistro atentado. Bastaria, de resto, colocar-se uma simples lápide no Panteão, deixando os ossos do grande homem em paz, onde ele sempre gostou que ficassem!
Estas iniciativas devem sempre partir de gente culturalmente equipada para as tomar e não de políticos ansiosos por fazerem currículo.
Bons deuses, há limites para o dislate!
EUGÉNIO LISBOA,
que pede a todos os que leiam estas palavras e com elas concordem o favor de as divulgar.
1 comentário:
Chamo-me Matilde de Mello e sou bisneta de Eça de Queiroz. Apenas escolhi "anónimo" porque não sei fazer de outra forma. Com todo o respeito pela sua opinião, agradecia muitíssimo que corrigisse a sua afirmação de que " os herdeiros não deram autorização (para a transladação) nem nunca a darão". Éramos 28 bisnetos, somos actualmente 22. Apenas 6 se manifestaram contra. Pessoalmente não me manifestei, inicialmente, nem contra nem a favor, por considerar que Eça de Queiroz pertence aos seus leitores, não aos seus descendentes (já na 3ª geração!). Acabei por me manifestar quando o assunto foi parar à comunicação social e às redes sociais através de um senhor ex-presidente da junta de Baião e de alguns primos de quem eu gosto muito mas, muito lamentavelmente, decidiram promover uma campanha repleta de contradições no plano das ideias, e de falta de respeito no plano pessoal/familiar. Tenho todo o respeito por TODAS as opiniões, sobre este assunto ou sobre qualquer outro. E este não é um assunto de suficiente importância para arrastar paixões! Mas não posso concordar que uma pessoa respeitável como julgo ser o seu caso, mantenha uma afirmação que não é verdade, como aliás sei que já lhe foi transmitido.
Acrescento apenas que, se alguém tem o direito moral sobre EQ é sem dúvida a Fundação com o seu nome. Com os melhores cumprimentos.
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