“Não temos a ginástica como ela se faz em França; não temos o serviço militar obrigatório que é o que torna o alemão sólido… Não temos nada capaz de dar a um rapaz um bocado de fibra, temos só a tourada… tiram a tourada, e não ficam senão badamecos derreados da espinha, a melarem-se pelo Chiado. Não têm maneiras e têm caspa” (Eça de Queiroz).
O “post” aqui recentemente publicado da autoria do crítico literário Eugénio Lisboa, “O
calembur de Artur Curvelo (A propósito de críticos com vista curta)", em 31 de Março do ano
em curso, que muito apreciei pela sua ironia cáustica, trouxe-me à lembrança
coca-bichinhos que levam anos a procurar
um erro de escritores que fazem parte do nosso espólio literário de
extensa prosa.
E com isso, julgo
eu, para se babarem de orgulho, por terem encontrado um deslize autoral, quais
Arquimedes, seminus saindo da banheira,
para anunciarem “, “urbi et orbi”:
“Eureka”! De modo idêntico, vegetam
os néscios da nossa pseudocultura, vestidos de fato e gravata, parar anunciarem,
limpando os beiços em guardanapo de linho. babados de orgulho literário, algo
só visível aos seus olhos de águia de Sherlock Holmes em dia de nevoeiro
londrino.
E porque a um acontecimento vivenciado por outros se
associa sempre a vida por nós vivida,
porque “recordar é viver uma segunda vez”,
dizer que eu amplio de “motu próprio”:
Quando as recordações são muito prazerosas
batem-nos elas à porta para serem recordadas tantas vezes quanto as
necessárias.
Quem arte e engenho para isso tem e tem arcaboiço neuronal pouco envelhecido deve guardar
essas memórias em livro, feitura a que me não atrevo só capazes de neurónios que
pouco envelhecem devendo guardar as suas memórias em livro com receio de jazerem
para sempre em prateleiras empoeiradas
de livrarias e, principalmente por temer ainda mais, que as minhas
memórias fossem havidas como a continuação de “As memórias de um burro” da Condessa
de Segúr que fizeram a delícia das raparigas da minha juventude perdida na bruma de muitos decénios de anos.
Por esse facto, sem evocar recordações em livro, resta-me escrever este pequeno apanhado de linhas escritas sobre um figura das margens do índico que permanecem na memória de um guloso de iguarias doces, em herança de minha falecida Mãe que conhecia, de cor e salteado, os doces tradicionais e a história dos monumentos das cidades que visitávamos na nossa deambulação por terras lusitanas. Para dar um simples, mas elucidativo exemplo, quando íamos a um restaurante, no fim pedíamos um doce e uma fruta. Certo e sabido, chegado o empregado de mesa, com a maior naturalidade do mundo, punha o doce à frente da minha progenitora e a fruta à minha frente. Logo eu, lesto que nem uma lebre, fazia a troca da fruta pelo doce!
Repetindo, guloso que fui e que continuo a ser por coisas adocicadas qual chávena de café em que as colheres nela enterradas ficam de pé, quais guardas hirtos da guarda de honra ao palácio real londrino da Rainha, embora sabendo o mal da minha gula em termos de colesterol e aumento de massa adiposa, perdoava o mal que faziam pelo bem que sabiam.
Isto a propósito, da minha assídua frequência na Pastelaria Princesa de Lourenço Marques, “ex-libris” desse meu pecado frequentada, outro tanto, por uma figura de homem grande, não confundir com grande homem, professor do Liceu António Enes, do que me lembro da língua pátria, que para dar nas vistas, não fosse alguém de nele não reparar, entrava solene e de rompante portas adentro da referida pastelaria com um vozeirão de muitos decibéis, capazes de ferir tímpanos mais sensíveis, gritava alto e bom som, como quem anuncia a sua chegada com salvas de canhão, "estar um lindo dia”! A modos de quem tinha consultado, de fio a pavio, o boletim meteorológico (nesse tempo havido como “mentireológico” por se enganar constantemente. Mas bastava trocar-lhe as voltas quando era anunciado estar um belo dia havia que munirmo-nos de gabardine e guarda-chuva!
Deus nos livre de pessoas deste tipo de Kultura que abundam
para atrofiar a cultura de pessoas em
que, segundo eles, os músculos estão na razão inversa da cultura. Era eu nessa
época, revisitando Eça, meu companheiro de mesinha de cabeceira, possuidor de um físico de verdadeiro hércules
que pagava juros altos cobrados” por badamecos, derreados de espinha , a melarem-se pelo Chiado” cidade, onde vivi
vários anos enquanto estudante do INEF.
E se, como pontificou Charles Dichens, ser o homem um animal de hábitos, eu sou esse animal de hábitos na minha prática da exercitação física em que segundo Ernest Kestschme, “o homem pensa com o corpo todo”. E se tanto não bastar, para evitar ser acusado de estrangeirismo estribo-me na “ramalhar figura”, citando-o de forma lapidar: “A ginástica não é uma questão de circo nem de barraca de feira, é uma alta e grave questão de educação nacional.”
"Se procuro em minhas recordações as que me deixaram um sabor duradouro, se faço balanço das horas que valeram a pena viver, sempre me encontro com aquelas que não valeram a pena", na opinião de Antoine de Saint-Exupéry.
1 comentário:
Os post(ai)s de Rui Baptista são (quase) sempre deliciosos.
Como estamos em época de doces, atrevo-me ao comentário para lhe dizer que, em CHAVES, há a Pastelaria Princesa, outrora «construída» por quem esteve em Moçambique (daí, "Princesa") onde o sr. guloso pode com-provar que os "PASTÉIS de CHAVES", embora salgadinhos, são um regalo. Uma doce Páscoa para Rui Baptista.
Luís Henrique Fernandes
Enviar um comentário