“Cada cavadela cada
minhoca” (provérbio).
No
fim de cada ano é uso as casas comerciais fecharem as portas para fazerem o
balanço do ano que finda.
Por
os assuntos relacionados com o sector da saúde assumirem o deve e haver dos
balanços comerciais, resolvi, por falta de dados actualizados reproduzir parte
de um artigo por mim escrito neste blogue em 27 de Outubro de 2018, intitulado
“A Comunicação Social em Democracia”. Isto porque “ a história, como defendeu Paul Ricoeur, é uma mediação entre o passado e o presente num círculo hermenêutico.” Assim,
passo a citar o “Expresso” (10/07/2015): “A
ADSE financiava o Orçamento do Estado por os funcionários públicos estarem a
pagar mais 228 milões do que seria necessário’”.
Corriam
então os ventos de feição para a ADSE que viraram repentinamente para um
verdadeiro vendaval por as receitas não cobrirem as despesas como noticiava
três anos depois o “Público”
(10/05/72018): “A ADSE gastou mais 40
euros por beneficiário em 2017. As despesas com os cuidados de saúde dispararam
e ameaçam as contas do sistema’. Ou seja, passou-se do estado de graça a
estado de desgraça! E isto é de tal maneira escandaloso por os beneficiários da
ADSE terem passado a descontar quantias mensais cada vez maiores.
Em
face disto, ao tentar solucionar o problema de despesas excessivas o Governo Socialista acionou o Decreto-Lei n.º 118/83, de 25 de Fevereiro, em banho-maria anos a fio,
passando a excluir de cônjuges
beneficiários idosos até então usufruindo dessa condição por passarem a
usufruir de míseras reformas que mal chegam para tratar um dente cariado enquanto
certos indivíduos abençoados por se “sentarem de cócoras em São Bento” (Eça) só não usam dentes de ouro por ser sinal de
novo-riquismo que convém esconder para se julgar que beneficiaram de berço rendilhado
de nascença.
Quanto
à moralidade da retroatividade desta legislação cito o que postulou Augusto
Santos Silva, figura de proa do Partido Socialista e da sua governação: “A não retroatividade das leis é o que
distingue a civilização da barbárie”. Assumida, hoje, e por esta mesma
personagem, essa barbárie por quem a
condenou ontem só pode ser encontrado fundamento no facto “da política não ser moral ocupando-se sempre
do que é oportuno”, como sentenciou Henry Thoreau.
Aqui
chegado seria conveniente que os
corifeus da ADSE informassem os cidadãos nacionais sobre o verdadeiro impacto
desta medida de migalhas sobre o erário público para ver se a respectiva malvadez foi
recompensada suficientemente a ponto de dar lucros substanciais à ADSE ou se
tratou de uma medida de contenção de
despesas em poupar no farelo para gastar na farinha com a inscrição anunciada de
novos beneficiários a viverem em união de facto. A minha crítica, nem por
sombras pretende assumir carácter moralista, cifra-se, tão só e apenas, em
expulsar antigos familiares em uniões de direito para as atribuir a uniões de
facto!
Só
em desculpa esfarrapada pode alegar o Governo estar preocupado com a decadência
do Serviço Nacional de Saúde menina dos olhos do seu falecido criador, António Arnaut. Como
nos adverte a voz do povo, não se pode servir dois senhores ao mesmo tempo e
muito menos a três senhores simultaneamente. A saúde dos portugueses no SNS tem
uma mão cheia de nada e outra vazia de tudo obrigando esta conquista de 25 de
Abril a sobreviver numa travessia
circense de andar em cima do arame não pagando atempadamente a hospitais, a
farmácias e a entidades convencionadas encontradas em cada escaninho de rua com construção de
hospitais privados ao lado de hospitais estatais nos grandes centros urbanos. E,
outrossim, em contractos com parcerias publico – privadas. Haja em vista a
parceria, tida como exemplar, com o Hospital de Braga denunciada pelo Grupo
Mello por ser havida como insustentável.
E
cada vez que o Governo finge pretender emendar situações destas com a sua mão canhestra é bem
pior a emenda que o soneto, contentando-se o Governo em sentar-se à mesa de
cabeceira do SNS pondo-lhe na testa pachos
de água fria na testa ou dando-lhe um comprimido de farinha para baixar a febre
a um moribundo necessitado de extrema-unção, gastando por outro lado, fortunas
na construção de seis novos hospitais com o custo fabuloso de mais 100 milhões
de euros anunciado, em vésperas de eleições o que já estava anunciado
anteriormente saindo-lhe o tiro pela culatra por fingir querer acabar com elefantes brancos
com simples carabinas de matar pardais sem cuidar em manter, num
mínimo decente, as actuais instalações hospitalares provendo-as de quadros
médico, de enfermagem e de funcionários administrativos
em quantidade e qualidade suficientes.
Aliás,
a solução nem sequer é nova e muito menos inédita. No sector da Educação em
Coimbra, em tempos socráticos, com uma população escolar em curva descendente foi construída uma escola com requintes de
países nórdicos com instalação de aquecimento nas salas de aula, desligadas por
faltar dinheiro para as manter em funcionamento.
Reporto-me à Escola do “Vale
das Flores” enquanto o secular Liceu D. João III, rebaptizado de Escola
Secundária de José Falcão, em cujas carteiras seculares se sentou tanta gente
ilustre e lustrada das margens do Mondego, chove dentro do Ginásio, há corredores
com azulejos partidos ou descolados, com os alunos a passam frio de rachar numa
planificação dispare e disparatada, com escolas luxuosas e outras a funcionar
em pré-fabricados situação que deixa muitas dúvidas sobre os fundamentos de seriedade que sustentam construções faraónicas num país com roupa interior esfarrapada
e vestido por fora de smoking e sapatos pretos de polimento em festejos de fim-de-ano.
Prouvera eu,
nesta transição de ano, não ter pensamentos pessimistas, ainda que
devidamente fundamentados pelo “status quo” actual. Aliás um meu saudoso amigo,
falecido há anos, dizia-me ser preferível um pessimista que se engana a ser um
optimista que se engana. Comungo dessa opinião numa governação do Partido
Socialista optimista até dizer basta!
2 comentários:
Por o "Chega" se apresentar como uma nova lufada de ar renovado no panorama político nacional bafiento, perante o mutismo do Governo, da ADSE, dos partidos políticos do CDS, ao PSD, ao PCP etc., e outras entidades quejandas, no que tange à retirada de "benefícios" a familiares de associados da ADSE por beneficiarem, uns tantos, de reformas de miséria para as quais descontarem vários anos, gostaria de ter informação sobre o que pensa o "Chega", sobre este assunto tabu que se associa a outros tabus de que a vida nacional é pródiga e que deixam o cidadão em suspenso ou a fazerem vaticínios furados.
Na última linha do meu comentário acima onde escrevi: "fazerem", corrijo para fazer.
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