Meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras":
“Haverá
cartilha para as nossas opiniões históricas?” (Eça de Queiroz):
Anos atrás, num meu texto tive a ousadia de considerar José Hermano
Saraiva, meu antigo professor de história no ensino liceal, historiador. Logo
caiu sobre mim “o Carmo o e a Trindade”!
Para um libertar de uma nódoa que corria o risco de se espalhar como gordura em fato
acabado de estrear, procurei em fontes fidedignas o significado da palavra
historiador. Assim: 1) “Historiador é aquele que faz pesquisa, que escreve
acerca de história” ( “Grande Enciclopédia Luso-Brasileira”) ; 2) “Que ou
aquele que se especializou em ou que escreve acerca da história” (“Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa”).
Indultado da acusação de ignorante, parti afoito para a consulta de alguns
dados biográficos de José Hermano Saraiva, tendo-me deparado com sete Orações
Académicas, proferidas depois de1976, ou seja sem serem escoradas no seu cargo
de Ministro da Educação do Estado Novo, editadas pela Academia de Ciências de
Lisboa de que é membro.
Das instituições culturais a que pertenceu nomeio os nomes da Academia de
Ciências, da Academia Portuguesa de História (de que é académico de mérito) ,
da Academia da Marinha e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (
Brasil). Desobrigo-me, como tal, por ser muito extenso o seu acervo, de
enumerar as várias obras de que é autor, enumerando, apenas, os três volumes da “História de Portugal” e o
programa televisivo na RTP.
Em 2012, na Assembleia da República foi votado m voto de pesar pela morte
de José Hermano Saraiva tendo votado a favor o PP, PSD, CDS e PS e contra o
PCP, os Verdes e o Bloco de Esquerda. Muito recentemente, no passado dia 2
deste mês, foi José Hermano Saraiva, cumpridos os 100 anos do seu falecimento,
homenageado na Fundação Calouste Gulbenkian.
Segundo notícia dos jornais, no discurso, proferido na ocasião, o Chefe
de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa , enunciou ter ele conquistado “um lugar privilegiado no
coração fiel de milhares ou milhões de portugueses” devido ao afecto e que, por isso, não teve apenas popularidade,
teve e mereceu celebridade”. Marcelo referiu-se, ainda, aqueles que “dele nunca
gostaram”, que nunca compreenderam que “aquele homem era muito mais do que
inteligência, brilho, curiosidade permanente, enciclopedismo raríssimo,
inventiva e poder da palavra”.
No ano de 2005, quando o Professor José Hermano Saraiva foi vilipendiado numa notícia de jornal , solidarizei-me com ele tendo recebido
uma carta sua de agradecimento, escrita com evidente desilusão, aqui e ali
polvilhada de fina ironia, de que
transcrevo um breve excerto: “Recebi a sua carta com o recorte do jornal.
Agradeço-lhe muito as palavras tão amigas que usa a meu respeito. Não sabia do
artigo do Dr. Acácio Barradas mas não me surpreende. Conheço a pessoa e sei que
não fez aquilo por mal. É incapaz de fazer melhor. Fiquei particularmente
enternecido com a recordação dos tempos da minha juventude em que, com tanto
entusiasmo, tentava iniciar os meus jovens amigos na inteligência da História”.
É esta, portanto, uma singelíssima homenagem de um seu antigo aluno de um país em que uns tantos renegados, depois de 25
de Abril, diziam ter aceitado elevados cargos durante o Estado Novo para
minarem as estruturas fascistas (agora que estruturas minam eles?).
Ainda que aceites, como lacaios de novos senhores da política portuguesa actual, devem ter constantemente em mente que “o traidor é sempre odiado”,
como escreveu Miguel de Cervantes.
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