Miguel Castanho (na foto), investigador de renome e ex vice-presidente da FCT, faz aqui uma reflexão sobre a comunicação de ciência em Portugal e o papel que tem sido desempenhado pelo Ciência Viva, na sua opinião excessivamente centralizador e desfasado das realidades actuais. Ora aqui está uma discussão que é preciso fazer não só na comunidade de comunicação de ciência mas também no debate público, do qual pode e deve emergir uma melhoria das políticas públicas nesta área:
http://visao.sapo.pt/opiniao/2018-09-26-Comunicar-Ciencia-a-mudanca-dos-tempos-e-das-vontades
"Em contraste com a atividade fértil e em crescendo dos gabinetes de comunicação académicos em faculdades e institutos de investigação, a Associação Ciência Viva foi perdendo gás com o tempo, não foi renovando lideranças e não tem cumprido a promessa para que foi criada, pautando a atuação estatal em comunicação de ciência pela estagnação e pelo anacronismo. A Rede de Centros Ciência Viva está desestruturada e não tem consistência. Ao contrário do que o nome sugere, não tem a verdadeira orgânica de uma rede; é um conjunto de instituições díspares, dispersas e mal ligadas. A maioria dos Centros Ciência Viva depende de apertados orçamentos locais, sobretudo camarários. O subsídio concedido pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) à Associação Ciência Viva pouca capilaridade tem desde Lisboa até outras zonas do país. E assim se esgota o apoio nacional: em vez de um sistema competitivo e meritocrático de distribuição de recursos, temos uma política de subsídios praticamente monopolizada numa instituição central. Este sistema, pouco escrutinado e de natureza clientelar, é um claro entrave ao desenvolvimento do setor. Portugal, com os seus cientistas e os seus profissionais de comunicação, está maduro para que universidades, centros e institutos de investigação, órgãos de comunicação social, agentes culturais e artísticos, museus, centros Ciência Viva e outras organizações de divulgação de ciência e quem mais demonstre capacidade e mérito, se possam associar e concorrer a financiamento para propor e executar projetos inovadores e de qualidade para comunicar ciência e divulgar a cultura científica. Falta apenas quem tenha coragem para transformar subsídios statu quo em financiamentos acessíveis por concursos transparentes e ao alcance de todos os investigadores e comunicadores."
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