sábado, 1 de agosto de 2020

AS PROMESSAS MENTIROSAS DOS POLÍTICOS

“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”
(Mário Quintana, 1906-1994).

Não fora saber eu que os  políticos, mentem com quantos dentes tem na dentição, ou ainda que mesmo nas placas dentárias, teria ficado encantado com esperança renovada pela declaração de António Costa, em proximidades de eleição para  a Assembleia da República, que irá acabar e enterrar em tumba bem funda  o flagelo da corrupção.
Mas deste encantamento acordei sobressaltado dando comigo a pensar em promessas antigas de uma legislação em que por adiamento para as calendas gregas possam transcrever crimes de colarinho branco permitindo, assim, que  políticos espertalhões e sem escrúpulos enriqueçam  à custa do cidadão de fracas posses tendo, como tal, como destino a triste sina de servirem de repasto a hienas que infestam a política portuguesa com a sua esperteza saloia sancionada por advogados pagos a peso de ouro.
Meses atrás, a  ministra da Saúde, triste personagem apanhada no turbilhão do corona vírus, sentiu-se obrigada a “confessar não ter agido atempadamente”, numa crise que assola e assusta de morte a população portuguesa perante um fraco governo formado por laços familiares, ou por “boys” e “girls” oportunistas quais abutres insaciáveis que vivem na esperança  da podridão da política para se saciarem  de carne pútrida.  
É esta uma geração actual de putos partidários que se sentam na Casa da Democracia acusando-se mutuamente de não terem sido eles mas outros personagens de outras bancadas responsáveis pelo estado actual que não permite  que muitos portugueses possam aspirar a uma vida digna, ou com a simples garantia  de terem sobre a mesa o simples  pão de cada dia para mitigarem a fome dos filhos e de si próprios.
No tempo do Estado Novo, com respaldo no  aforismo centenário dizia-se que quem não tem padrinhos morre mouro, dito  a que corresponde hoje estoutro: quem não tem vergonha e tem bons advogados safa-se sempre.
E assim se vai perdendo a fé na Democracia porque, segundo Aldous Huxley, “nos estados autocraticamente organizados o espólio do governo é compartilhado entre poucos sendo que nos estados democráticos há muitos mais pretendentes que só podem ser satisfeitos com uma quantidade muito maior de espólio que seria necessário para satisfazer os poucos aristocratas, tendo demonstrado a experiência que o governo democrático é geralmente muito mais dispendioso do que o governo por poucos”. E este facto muito se agrava, portanto, com o actual governo com um numeroso número de governantes, gulosos de chorudas tenças que batem recordes de um país que se debate com carências de toda a ordem.
Pese embora esta indiscutível realidade, mas mesmo assim sem querer, de forma alguma, generalizar, para não ferir, com infundadas suspeitas, a honra de simples e escassos cidadãos que, porventura,  possam militar desinteressadamente na política, transcrevo o meu artigo de opinião: “Portugal e a corrupção” (“Público”, 26/09/2005) . Escrevi então:

“Era um vez um pequeno país, onde a terra acaba e o mar começa” (Camões), obrigado, pelo interesse e cobiça da União Soviética, da China Popular e dos próprios Estados Unidos, então sob a presidência de J. F. Kennedy, para que Angola e Moçambique deixassem de ser territórios sob administração portuguesa. Apesar de grande produtor de café, S. Tomé e Príncipe era mantido à margem da ganância dessas grandes potências por elas ainda não terem conhecimento da descoberta de poços de “ouro negro” naquelas paradisíacas paragens de roças vicejantes.

A conivência com esta campanha morava nos diversos areópagos internacionais que, sob o manto hipócrita de nobres intenções humanitárias, atiçaram sobre Portugal as mandíbulas do opróbrio de ser uma nação colonial quando os verdadeiros motivos das grandes potências mundiais tinham por finalidade o pior dos colonialismos: o neocolonialismo!

Estavam lançadas, assim, em terreno fértil as sementes contra a Guerra do Ultramar que implicava uma hemorragia do erário público em três frentes de combate: Angola Moçambique e Guiné Todavia, nos derradeiros anos que antecederam o 25 de Abril, “nunca outro período da nossa história assistiu a um tão rápido desenvolvimento económico e a uma tão grande aproximação da nossa economia às mais desenvolvidas” (Luciano Amaral, Atlântico, ano I, n.º 6, Set. 2005, p. 9)”.

Em época recente, e julgo que perdura nos dias de hoje, assistiu-se, apesar da torrente caudalosa dos fundos comunitários (até quando?), a este triste panorama: o salário mínimo nacional é inferior ao da Grécia; os ordenados em Espanha são maiores e o custo de vida menor; os automóveis são 15% mais caros do que a média europeia; a bolsa dos portugueses é onerada com impostos mais elevados que os da grande maioria dos países europeus; e, por último, alguns países do Leste Europeu começam a aproximar-se – ou mesmo a superiorizarem-se – ao desenvolvimento  de Portugal.

Numa inditosa Pátria com umas tantas personagens com responsabilidades social, política e económica que, em momentos de grave crise nacional, se preocupam com questões de “lana caprina” ocupando os seus tempos, com intrigas de soalheiro e desavenças de comadres,  foi sacudida a opinião pública, pelo menos aquela mais atenta e responsável, pelo artigo de Daniel Kaufmann que relata, na edição de Setembro de 2005, na revista “Finance & Development”, editada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), quePortugal podia estar ao nível da Finlândia se melhorasse a sua posição no ranking do controlo da corrupção”.

De tudo isto colhe-se que se trata de uma questão de tempo e paciência nas mãos de políticos que ocupam o poder,  ou têm a esperança de a ele regressarem  em novas eleições mesmo que a reboque de uma nova/velha “geringonça”. Esta uma questão colhida do passado, um passado  que, segundo Mário Quintana, ”não reconhece o seu lugar por estar sempre presente”.

E de promessa prometida e nunca cumprida, Portugal  corre o risco, em desolação pessoana, de se tornar “num cadáver que procria”. Pior do que isso, que gera verdadeiros, na linguagem dos jovens, “calhaus com olhos” que se atropelam nas escadarias de acesso ao poder. É um verdadeiro  ver se te avias!

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