Em 1966, realizou-se, em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho, a Conferência Intergovernamental Especial sobre a Condição dos Professores, convocada pela UNESCO, organismo da Organização das Nações Unidas. Daí saiu uma Recomendação na qual se estabelecem padrões mundiais para a profissão docente (ver aqui).
Em concreto, nesse documento, que vale muito a pena ler ou reler, organizam-se, entre outros os seguintes aspectos:- direitos e deveres dos professores, destacando-se a alusão à sua autonomia e responsabilidade educativa;
- padrões desejáveis para a sua formação inicial e continua, bem como para o seu recrutamento;
- circunstâncias de trabalho favoráveis ao ensino e à aprendizagem;
- possibilidades de participar nas decisões educativas através de consultas e negociações com as autoridades políticas.
A Recomendação, ainda que sem carácter vinculativo, é tida como um marco fundamental no delineamento da "condição docente" e na afirmação do "estatuto do professor".
Ainda assim, é um marco que se distancia da realidade: passadas quase seis décadas, mesmo na Europa, onde nos situamos, a situação do ensino afigura-se de sentido contrário. Vemos a desinteletualização declarada dos professores, a menorização da sua capacidade deliberativa, a negação da sua autonomia, a sua formação débil, desadequada e apropriada por interesses vários, as circunstâncias de trabalho que lhe negam a liberdade de ensinar, tornando-o um funcionário, a falácia que é a sua chamada a participar no debate educativo...
Eventualmente por estas e outras razões, nomeadamente a falta de professores a nível mundial, o Secretário-Geral das ONU, António Guterres, entendeu promover a “Cimeira para a Transformação da Educação” que se realizou em finais de 2022. Dela saiu a resolução de criar o que foi designado por Painel de Alto Nível sobre a Profissão Docente, o qual reuniu um conjunto de especialistas que, com base na auscultação de professores, apurou recomendações para os Estados-Membros,
Passados dois anos, em 2024, o Painel apresentou essas recomendações para as quais António Guterres pediu a maior atenção a governos, mas também a agentes educativos directamente ligados ao ensino, no sentido de se encontrarem caminhos capazes de contribuírem para a dignificação da profissão docente e se construir uma "educação de qualidade para todos.
1 comentário:
"direitos e deveres dos professores, destacando-se a alusão à sua autonomia e responsabilidade educativa".
Aquilo a que se assiste "in loco" nas escolas EB 1, 2, 3 + S + JI, cujas siglas pós modernas só fazem sentido no país atrasado, para ser eufemístico, que é Portugal, tem mais a ver com um cenário de manicómio do que com lugares de ensino e aprendizagem como eram as escolas de há cinquenta anos.
Atualmente, os professores do ensino secundário são uns paus-mandados nas mãos do governo, sem autonomia científica nem pedagógica no exercício da sua função primordial que deveria ser ensinar. Para abreviar razões, limito-me a esclarecer muita gente que, não estando dentro do convento, não sabe que no sistema de ensino a que chegámos são mais importantes, mas muito mais importantes, os critérios de avaliação dos alunos, cujo estudo e debate obriga à realização de várias reuniões plenárias de professores, ao longo do ano letivo, do que os conhecimentos escolares propriamente ditos, como a matemática, o português, ou a geometria descritiva, que se ensinam aos alunos! Aliás, neste sistema, quanto menos se ensinar, melhor, desde que "critérios de avaliação" abstrusos garantam a passagem de todos, principalmente dos que mais precisarem, que são sempre os mais pobrezinhos!
Para mim, isto é uma loucura!
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