Novo texto de Eugénio Lisboa:
Frei Bento Domingues é uma figura rara: misto improvável de bonomia, grande cultura, inteligência acutilante, límpida intrepidez e aliciante conversa, mesmo para quem não bebe nas mesmas fontes de religião e fé. Porque não preciso para nada de acreditar que Jesus Cristo ressuscitou ao terceiro dia, para me alimentar da conversa culta e de alcance universal, que Frei Bento Domingues nos serve, aos domingos, no Público. A sua conversa é rica e sedutora e tem o encanto adicional daquele “franc parler” que Stendhal tanto prezava, mas não é exibicionista: a sua coragem é limpa e não afrontosa, o seu saber roça quase sempre a sua asa pela sabedoria do mais alto quilate.
Frei Bento Domingues é um católico cuja serventia vai muito para além de uma clientela católica. É um católico que nunca se deixou ficar refém de nenhum poder, nem mesmo do poder da Igreja que professa. Espírito luminoso, de uma bondade alegre e destemida, ele não teme o exame nem os resultados deste.
Dizia G. K. Chesterton que quem acende uma luz é o primeiro a beneficiar dela. Ao longo da sua vida de discreto mas grande estudioso, Frei Bento Domingues tem acendido muitas luzes.
Há já muitos anos, tive o privilégio de estar com ele, por mais de uma vez, em mesas redondas: o cristão e o ateu. Demo-nos muito bem. Fiquei a tê-lo como amigo, mesmo que nunca mais nos tivéssemos visto. Há amigos assim: considero Montaigne meu amigo e nunca nos vimos e nem sequer vivemos no mesmo século.
A luz que a candeia deste frade emite dá para todos, não apenas para os residentes de uma paróquia de reduzida dimensão. É a luz universal dos sábios e dos bons.
Eugénio Lisboa
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