sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A DINASTIA DOS REFORMADOS DA POLÍTICA

“A justiça não consiste em ser neutro entre o certo e o errado, 
mas em descobrir o certo e sustentá-lo, 
onde quer que ele se encontre, contra o errado”
(Theodore Roosevelt, antigo presidente dos Estados Unidos, 1858-1919).

Acabo de ler um artigo do “Correio da Manhã” (17/11/2016) que se deixasse passar em claro daria aso a  eu ser tido por tendencioso por criticar umas coisas e desculpar outras. 

Bem sei que há crimes que prescrevem e outros que estão à espera de uma ansiada prescrição numa espécie de, citando Fernando Pessoa, “cadáveres adiados” mantidos em cuidados de saúde intensivos com bons advogados à mesinha de cabeceira. Segundo o artigo supracitado, 
“há políticos a quem foi atribuída a subvenção vitalícia com menos de 40 anos (repito, 40 anos!), sendo possível, por esse cálculo, apurar desse benefício 75 políticos com idade igual ou inferior a 50 anos”. Refere ainda essa notícia que a “análise permite concluir que esse grupo de 75 políticos representa 22,5 % no universo total de 3.222 de beneficiários da subvenção mental vitalícia”. 
Tendo a maioria desses beneficiários requerido essa pensão quando já tinha mais de 51 anos de idade. Para evitar ser acusado de navegar em águas turvas de maledicência (do género ouvi dizer que tinham dito!) tive o cuidado de consultar o polígrafo da SIC que deu a notícia como provada preto no branco. 

Por outro lado, não querendo passar por crítico selectivo que se atira como gato esfaimado a inocentes ratos em determinadas situações e, em outras, afaga com ternura os ratos prevaricadores, transcrevo apenas, uns tantos exemplos , colhidos a eito, por serem tantos que se tornava impossível num texto desta natureza a listagem completa de requerentes desta mordomia - mas tendo o cuidado de eles pertencerem aos diversos espectros políticos - acumulável com outras pensões ou rendimento até 2005, ano em que foram extintas, mas sem efeitos retroactivos (aliás, a retroactividade das leis é um pau de dois bicos utilizado conforme as conveniências ocasionais do legislador).

Destarte, exemplifico com os nomes de Bagão Félix (CDS), Fernando Nogueira (PSD), José Sócrates (PS) e Jerónimo de Sousa (PCP). De entre eles Zita Seabra, digna de destaque, como personagem de proscénio de operariado em tempos do PCP, anos depois rendida ao charme da burguesia por num habilidoso golpe de rins se filiar no PSD. Ia a escrever “engajar” , mas emendei a tempo por ser uma palavra de tempos gloriosos de pretensiosos eruditos revolucionários que a traduziram do francês “engagé”, e copiada, anos depois pelos frelimistas.

Algumas destas personagens viveram a política, segundo apregoam aos sete ventos, e mais ventos houvesse, como uma doação ao mundo dos pobres e remediados, mas deitando, simultaneamente, o rabo de olho para o crescimento da sua conta bancária  que bem os recompensou de uma vida de sacrifício em prol da “ res publica”, embora, em boa verdade, fosse uma forma de enriquecimento dos seu largos e sem fundo bolsos de fatos de corte impecável ou "tailleurs" de custo inacessível à quase totalidade da população portuguesa.

E assim decorre a política portuguesa no final desta primeira vintena de anos do século XXI. Nada como estar “à la page” que eu nesta coisas de francesismos não gosto de os deixar em mãos alheias. Desunho-me pelo “dernier cri”!

4 comentários:

Bmonteiro disse...

Parlamento, Circo & Vícios
«Os deputados sabem que podem contar comigo para defender a imagem a que temos direito, que é uma imagem de dignidade. E é uma dignidade acrescida pelo sentido de entrega que é superior ao do cidadão comum, à das pessoas que estão habituadas às suas vidinhas»
Madame Assunção Esteves, reformada, pensionista e prestamista
no Circo S. Bento

Carlos Ricardo Soares disse...

Imensas realidades e afirmações, ou declarações, são ou correspondem a factos que dependem de mera verificação, não exigindo, nem dependendo de qualquer tipo de juízo (de verdade lógica, estético, ético, mecânico-causal, moral, jurídico, científico, religioso...), sendo essa verificação até algo redundante, em casos como os da "praxis" política, a que o texto alude, de tão ostensiva que é.
O teorema de Pitágoras, comparativamente, embora só dependa de verificação e não propriamente de raciocínio, é muito mais difícil de provar.
Mas o que estou a fazer já é filosofia, já é pensamento lógico-dedutivo, produção de conhecimento, não propriamente sobre a realidade mas sobre o conhecimento dessa realidade.

Rui Baptista disse...

Obrigado pelo seu comentário que teve a virtude de me obrigar a pensar num tempo em que o ter se superioriza ao ser.

Rui Baptista disse...

Por vezes, "vidinhas" de grande sacrifício para pôr à mesa o simples pão do dia-a-dia.

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