Meu artigo de opinião publicado, hoje, no "Jornal As Beiras":
“Continuamente sinto que fui outro, que senti
outro, que pensei outro.E aquilo a que
assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu”.
Fernando Pessoa
Começo por me reportar a uma belíssima poesia, intitulada, “A ABRIR…”, da autoria de Colares Pinto, que a escreveu para o “Livro de Curso (INEF/1955)”, obedecendo aos cânones de sonetos saídos da pena de Camões, Bocage, Antero.
Transcrevo esses versos de uma saudade agridoce que marcam indelevelmente o percurso académico dos estudantes do estuário do Tejo (Cruz Quebrada) e que encontram lapidar exemplo, nas margens do Mondego, com a belíssima “Balada da Despedida”, de Fernando Machado Soares recentemente falecido:
“Retratos de corpos e de almas…
Alegria
a chorar, tristeza a rir…
Esp’ranças,
ilusões, derrotas, palmas
…sorrir!...
……………………………………………………………………………..
Olhos que vêem no infinito imenso
E
na ladeira o ouro, a mirra, o incenso
Da
vida insana a íngreme subida
E os espinhos da c’roa dessa vida…
Olhos que vêem, corações que sentem
Por
outros corações, por outros olhos…
E
na estrada só há sinais que mentem,
Curvas
que traem, nevoeiros, abrolhos…
Dadores da mais rica herança
Ao
fulvo cabelito, à loira trança
A
deixarão da doida novidade.
Por
esses mares além e continentes
Faróis
da vida ficarão luzentes,
A
mostrar o caminho à humanidade!"...
“A
ABRIR…” é um verdadeiro hino ao exercício de um magistério norteado pela missão cometida aos professores de
Educação Física em nome de uma Educação Integral, desde o ensino das
primeiras letras à Universidade, num
tempo em que o futebol profissional substituiu o pão e circo do Império Romano para fazer esquecer as dificuldade de um “povo que lava no rio”, apelidado pelos opositores do Estado Novo,
como “ópio do povo”, ópio de que a “quarentona democracia portuguesa” dele se apoderou
avidamente com as mãos ambas, para
euforia momentânea das populações mais carenciadas
tentando transmitir aos governados uma falsa sensação de bem-estar de que tudo
vai bem na “ocidental praia lusitana”, libertando
os governantes do opróbrio da “grande e
gorda porca da política a amamentar uma data de bacorinhos”, em caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro.
Escrevo
este texto em recordação de uma escola de ensino superior prestigiada com um “2.º Prémio dos
Laboratórios Pfizer” (1963), resultante da sua parceria com a Sociedade de
Ciências Médicas de Lisboa, nem sempre valorizada por uma pretensiosa intelectualidade que a leva a não alinhar com
Sílvio Lima, professor catedrático de Filosofia
e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, quando, em inícios da década de 40 do século passado, de forma magistral, doutrinou: “O Desporto é uma questão grave
(grave que quer dizer etimologicamente pesada) que só parece leve aos de cabeça
leve como o sabugo ou o algodão”.Para não ser acusado de oportunismo face à situação actual vivida por um dos maiores e mais eclécticos clubes portugueses, o Sporting Clube de Portugal, desde já faço prova de uma crítica que fiz há mais de meio século dos então caminhos ínvios trilhados pelo Desporto Português. Nela escrevi, sei-o hoje, premonitoriamente: “Para um merecimento perfeito do fenómeno desportivo há que acreditar no valor moral dos praticantes, dos técnicos, da imprensa e dos dirigentes, enfim de todos que o servem para se evitar o risco em se atingir a decadência desportiva romana sem se ter conhecido o apogeu de uma educação integral helénica” (Jornal “Diário” de Lourenço Marques, 19/07/1961).
A decadência desportiva romana chegou ao país mais ocidental da velha Europa viajando por auto-estradas, a educação integral helénica perdeu-se em vielas do caminho!
4 comentários:
O articulista Rui B. com o seu "estilo" inconfundível de "prosa" abre, como é seu costume, a silly season.
A citação de Fernando Pessoa revela que sofre de uma perturbação psi-quê de despersonalização e que portanto o próximo texto será para se queixar da adse no acompanhamento da saúde mental.
Pois, e Portugal nunca antes na História conheceu tantos e tão espantosos desportistas de elite como agora. E nunca antes teve tantos campeões mundiais ou europeus a actuarem numa mesma era desportiva. Nunca ganhámos tantas medalhas, nunca tivemos tantos desportistas federados a praticar desporto de competição.
É um período de autêntico fulgor, com campeões em modalidades tão diversas como Judo, Motociclismo, Ténis, Futebol, Canoagem, Triatlo, Ténis de Mesa, Ginástica, Ciclismo, Futsal, Natação...
Deveria tratar a necessidade constante que tem de insultar, criticar e minimizar. Reforma total.
Pelo tom cordato com que foi escrito o seu comentário, "argumentando com seriedade e não como quem manda bocas", o mais breve possível explanarei os motivos pelos quais estou de acordo consigo embora o meu texto possa ter deixado dúvidas a esse respeito.
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