terça-feira, 30 de setembro de 2014

DOIS DESPORTISTAS COM UMA AMIZADE TEMPERADA NOS CAMPOS DE FUTEBOL: MANUEL FERNANDES E JOSÉ MOURINHO


“Em todas as decadências o primeiro sintoma é a depravação do sentimento de amizade” 
(Pierre-Joseph Proudhon, 1809-1863).

Ainda sou do tempo (não, não vou falar do anúncio televisivo da simpática velhinha que dizia custar no seu tempo um pacote de arroz 2 escudos e cinquenta centavos!) em que o desporto não era uma indústria gigantesca trituradora dos seus heróis com pés de barro, a exemplo, de Hollywood com as suas estrelas, o seu apogeu e a sua queda. 

Vou referir-me a uma actividade física de princípios da década de 60 que me mereceu a seguinte análise: 

“Porém, por vezes, algo de destrutivo surge pretendendo por força do gáudio menosprezar uma força avassaladora que nem credos políticos ou religiosos, diferenças rácicas, ou, sequer, desníveis sociais, culturais ou económicos dos seus praticantes conseguem travar e que e muito contribui para o princípio cristão da fraternidade humana: o DESPORTO. 

Desporto, magia que tem merecido a atenção de cientistas, é tema de literatos e artistas e, outrossim, de pretenso escárnio de medíocres que vêem no corpo a obra tentadora do demónio. Os primeiros nele descortinam um fenómeno educativo, os segundos, e se nele nos detemos é porque, infelizmente, pertencem, ainda nos dias de hoje, ao número daqueles que nada mais encontram nele que o simples pontapear de uma bola!"(“A Tribuna, Lourenço Marques, 29/10/1962). 

Foi, portanto, com muito agrado e alguma emoção que li hoje o antigo treinador Manuel Fernandes prestar um depoimento sobre José Mourinho, licenciado em Educação Física e Desporto e doutor honoris causa, pela Universidade Técnica de Lisboa (e nessa cerimónia, com humildade grata dizer que sem a faculdade não seria o treinador que é hoje). 

 Começa Manuel Fernandes por desfazer más-línguas que espalharam maldosamente, urbi et orbi, que José Mourinho (já formado pelo ISEF) no início da sua notabilíssima carreira tinha sido contratado pelo Sporting para ser simples tradutor do treinador inglês Bobby Robson. Dou a palavra a Manuel Fernandes - que, segundo ele próprio, desenvolveu uma amizade com José Mourinho que dura há décadas”- com a transcrição de um texto publicado hoje no SAPO DESPORTO: 

 "Conheci o José Mourinho quando estava no Vitória de Setúbal, e o Zé era o treinador dos juniores. Durante a semana tínhamos sempre um jogo com as reservas, e eu via os jogos dele e logo vi que ele era diferente, tinha muita qualidade. Reparei logo num forte espírito de liderança e chamei-o para trabalhar comigo. Ninguém trabalhava com 26 anos no futebol profissional naquela altura", começou por dizer Manuel Fernandes ao "SAPO Desporto". 

"Ele nunca foi para o Sporting para tradutor da equipa técnica. Isso é mentira. O Bobby Robson reconheceu-lhe imediatamente o mérito e a capacidade e por isso levou-o para o FC Porto, e depois para o Barcelona. No Sporting estávamos a construir uma equipa fortíssima, em 1993/1994 tivemos provavelmente a melhor equipa dos últimos anos até hoje. Quando o Robson trouxe o Valckx então ficámos com uma defesa fortíssima", recordou Manuel Fernandes. 

Por seu turno, nessa mesma notícia, no seu regresso a Alvalade para orientar o Chelsea, José Mourinho não esquece as raízes da sua longa caminhada no futebol profissional, a relação de amizade, e a "dívida" para com Manuel Fernandes, o homem que o apresentou a Bobby Robson no início da década de noventa. 

"Começo pela minha relação com o Manuel Fernandes porque é uma relação sempre de dívida. Sou eu que lhe devo a ele e ele nada me deve a mim. Foi ele que acreditou em mim e que me deu a mão e a única coisa que de facto que eu lhe dou em troca é uma amizade e um respeito enorme sendo verdadeiramente um amigo, apesar de à distância, e que me tem sempre acompanhado na minha carreira", disse José Mourinho. 

 Regresso a Manuel Fernandes. Questionado sobre as palavras de José Mourinho, acerca da sua importância no início da sua carreira como treinador, o antigo internacional do Sporting, recordou com saudade os tempos em que o actual treinador do Chelsea, hoje adversário do Sporting, convivia à mesa com antigas glórias do clube leonino e disputavam "peladinhas" depois de longas conversas sobre futebol: 

 "Foi muito bonito ouvir isso, continuamos a falar e somos amigos, apesar de já não nos vermos há algum tempo. Nós gostávamos de conviver e conviver à mesa é onde temos mais tempo para conversar. Às vezes ainda jogávamos à bola. Naquele tempo ele ainda conseguia jogar. Ele era um jogador de marcação, era terrível a marcar. Era muito forte a entrar à bola. Pressionava muito o homem da bola", recordou Manuel Fernandes ao SAPO Desporto”. 

Esta noite, José Mourinho volta a Alvalade para defrontar o Sporting enquanto técnico de um clube inglês depois de ter começado a sua carreira no clube leonino com um treinador inglês, o eterno Bobby Robson. O jogo está agendado para as 19h45, e Alvalade volta a vestir-se de gala para a Liga dos Campeões com um adversário muito especial”. 

É deste Desporto, representado por desportistas de eleição com uma fraternidade criada nos campos do futebol, que José Mourinho e Manuel Fernandes se vão reencontrar num abraço fraterno numa altura que o Chelsea joga com o Sporting e, não como tantas vezes, em que duas equipas jogam uma contra a outra numa reminiscência medieva de torneios ou justas em que se jogava a própria vida. Aliás, Pierre Coubertin, criador dos Modernos Jogos Olímpicos, deu a seguinte definição de Desporto: “Desporto é um culto voluntário e habitual de exercício muscular intenso suscitado pelo desejo de progresso e não hesitando ir até ao risco” (Francisco Lázaro, atleta da 1.ª equipa olímpica portuguesa, desfaleceu durante a Prova da Maratona, vindo a morrer horas depois) 

Boa sorte para ambos no jogo de hoje à noite, no Estádio de José Alvalade, para a Liga dos Campeões. Manuel Fernandes, em indesmentível amor à camisola dos “leões”, que representou como jogador/treinador e continua a servir como comentador desportivo. José Mourinho, com o coração dos tempos do Sporting e agora com a razão do seu serviço ao Chelsea. Como escreveu Blaise Pascal: “O coração tem razões que a razão desconhece!”

CARLOS MOEDAS APROVADO

Vi em parte a audição e julgo que Carlos Moedas será aprovado pelo Parlamento Europeu como Comissário para a Investigação, Ciência e Inovação (um nome algo estranho, não sei por que é que se acrescenta Ciência a Investigação). A sua fluência linguística em quatro línguas da União Europeia ajudou-o. Assim como a apresentação do seu percurso de vida e o seu declarado entusiasmo pela ideia de Europa. Um dos pontos fortes do seu discurso foi, de facto, a sua adesão ao projecto europeu.

O comissário designado tinha pontos fracos e tentou habilidosamente, como fazem os políticos, contorná-los. Em primeiro lugar a sua relação íntima com a troika: ficámos a saber que afinal havia algumas quezílias, decerto quezílias domésticas. Depois o actual desinvestimento da ciência em Portugal, do que ele é, afinal, co-responsável. Ao responder ao deputado João Ferreira que não interessava que pagássemos mais para a ciência na Europa do que recebemos dela, estava a dizer que o dinheiro não era tudo, que havia outros lucros imateriais, o que é verdade, mas esvazia alguns argumentos ocos do governo a que pertenceu (alguns governantes criticaram a falta de capacidade da ciência portuguesa. Achei interessante um financeiro vir dizer que o dinheiro não era tudo. Pois... Assim como achei interessante a defesa que fez das ciências sociais e humanidades quando a Europa as está a cortar e Portugal ainda mais.

Ninguém esperava de Moedas grandes rasgos. Ele deu a ideia de um funcionário europeu empenhado, que vai tentar criar uma imagem de dedicação e competência. Um aluno marrão, portanto. Não sabe muito de ciência e inovação, mas estou convencido que quer  aprender para tornar o sector mais relevante (para mostrar que tinha lido alguma coisa sobre ciência  até citou o Nobel da Física Andre Geim, co-descobridor do grafeno). A actual situação portuguesa na ciência é para ele uma "pedra no sapato":  saberá Moedas que o maior colaborador português do Nobel do grafeno, Nuno Peres, foi chumbado pela FCT?

Carlos Moedas tem por um lado a seu favor e por outro lado contra si a circunstância de o programa Horizonte 2020 já estar formatado. Dificilmente poderá ir além desse quadro, como ele próprio reconheceu nas respostas por escrito. Não há lugar para coisas novas, nem a burocracia de Bruxelas se presta a golpes de rins. Basicamente o que Moedas quer é aplicá-lo tecnicamente nos prazos acordados. "Implementing, implementing, implementing", afirmou ele. Quer aquilo que chama "resultados" desse programa.  Mas só  resultados  não chegam. O que ele devia querer era "bons resultados", isto é, a prova na prática de que a ciência e a inovação são o caminho para o desenvolvimento europeu. Moedas, que nestas funções terá de ser mais um político do que um técnico, não pode esquecer que, na política de ciência como na política em geral, há sempre uma margem de manobra. Pode-se ir mais por um lado ou mais por outro. Há escolhas a fazer. Há problemas para resolver e, para usar uma expressão inglesa, the devil is in the details. E Moedas vai ter de mexer nos pormenores, que é como quem diz poderá ter de dar a mão ao diabo. E nisso de dar a mão ao diabo ele já tem alguma experiência.

FOTÓNICA POR TODO O LADO

E

Em preparação para o Ano Internacional da Luz - 2015, que privilegia as tecnologias da luz que tornam mais fácil a nossa vida: 

 "Photonics technologies are amazing, fascinating, and you find them everywhere: in communication, entertainment, medical, manufacturing, automotive, energy, lighting, agriculture, photovoltaic, security, art, ... ´

Photonics is a key enabling technology with a very bright future. Whether you are looking for a new career, a student that needs to make a choice for your studies, if you are a financial investor or a politician that influences policies, think PHOTONICS !

 DO YOU KNOW WHY 21 OCTOBER IS DAY OF PHOTONICS? 

 On 21 October 1983, the General Conference of Weights And Measures adopted the value of 299,792.458 km/s for the speed of light. At the occasion of the anniversary, over 100 activities will be organized in more than 30 countries in the world and encompass all kinds of demonstrations and discussions on the impact of photonics on our day-to-day life. Be part of it!"

SOBRE OS ADMINISTRADORES DE CIÊNCIA

O Prof. Jorge Calado, no seu recente livro "Limites da Ciência" (Fundação Francisco Manuel dos Santos), escreve assim sobre os administradores de Ciência:

"Julgo que foi C. P. Snow quem primeiro notou que a criação de ciência e a administração da ciência requerem qualidades humanas muito diferentes, quase opostas. Enquanto o/a cientista tem de se dedicar a um problema, profunda e obsessivamente, durante um longo prazo (meses e anos), o/a administrador/a de ciência tem de decidir sobre muitas e variadas coisas (embora ligadas por múltiplas conexões) e fazê-lo no curto prazo (semanas ou dias). O primeiro é um ouriço, enquanto o segundo é uma raposa (para usar a terminologia de Isaiah Berlin). De facto, o ouriço sabe uma coisa importante; a raposa, porém, sabe muitas coisas. Parte dos problemas é haver cientistas (ou pessoas com as qualidades inatas dos cientistas) a administrar ciência ou, pior, administradores de ciência a (tentar) fazer ciência. Em Portugal, a tradição, duplamente errada, é enxotar os cientistas incompetentes para a administração da ciência."

O MINISTÉRIO QUE NÃO ACERTA UMA FÓRMULA


Passou uma semana sobre o erro confesso do ministro Nuno Crato a respeito de uma fórmula e não há meio de aparecer a justa emenda do erro. A Sociedade Portuguesa de Matemática, pela voz autorizada de Jorge Buescu, bem tenta explicar como é, mas o Ministério não atina.

Leio o Público e pasmo. Em vez de rectificar o erro rapidamente o Ministério da Educação e Ciência (MEC) continua a falar, a falar, procrastinando. Repare-se nos mimos de linguagem deste Ministério:

- “Tal como previsto na lei, a avaliação curricular e a graduação profissional terão cada uma um peso de 50 por cento na ordenação dos candidatos. Será feita uma harmonização das duas escalas, ambas com valores entre zero e vinte, numa regra de proporcionalidade”.

- Considerar só a graduação profissional corresponderia “a um incumprimento da lei por parte do MEC, além de desvirtuar a especificidade das escolas integradas em territórios educativos de intervenção prioritária e das com contrato de autonomia”.

Harmonização de escalas? Parece música. E que dizer da expressão "das com contrato"? Este MEC é absolutamente incapaz. Nem sabe matemática, nem sabe português. E, pior que tudo, revela-se incapaz de aprender.

ACÇÃO NO PARLAMENTO RELATIVA À AVALIAÇÃO DA FCT

Informação recebida do grupo parlamentar do PCP sobre a avaliação da FCT/ESF;

Vimos informar da rejeição do Projeto de Resolução 1099/XII/2 : Recomenda ao Governo a anulação dos efeitos do processo de avaliação  das unidades de I&D realizado pela FCT, com os votos do PSD e CDS no  passado dia 26 de setembro.

Informação relativa à discussão, na Comissão de  Educação, Ciência e Cultura, do PJR N.º 1099/XII - RECOMENDA AO  GOVERNO A ANULAÇÃO DOS EFEITOS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DAS UNIDADES  DE I&D REALIZADO PELA FCT [1].

Esta proposta visava:

 1- Anular o processo de avaliação em curso, bem como o contrato com a ESF;

 2- Assegurar um novo processo de avaliação que garanta níveis de  financiamento público pelo menos equivalentes aos do período anterior  e que não tenha qualquer tipo de _numerus clausus_ pré-definidos;

 3- Assumir como objetivo do novo processo de avaliação e  financiamento, a manutenção e aperfeiçoamento da capacidade instalada  e o reforço das unidades de investigação existentes e não a sua
redução, fusão ou extinção;

 4- Assegurar uma estratégia integrada de valorização do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (STCN) através do desenvolvimento da capacidade científica instalada e sua  estabilidade, e da valorização dos trabalhadores destas áreas, desde  logo através da salvaguarda dos seus postos de trabalho, vínculos e direitos e do combate às situações da precariedade que atualmente  existem.

Da parte do PCP, continuaremos a acompanhar a situação destas unidades  e a apresentar propostas alternativas ao desmantelamento do SCTN, com  a profunda convicção que está é simultaneamente uma luta por um futuro  de progresso para o país.

[1]  http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=38623

LISTA DAS NOVAS CONFERÊNCIAS DO CASINO


SESSÃO  | 25 DE OUTUBRO

CASINO ESTORIL
O HIPER-HUMANO E AS SOCIEDADES DO FUTURO
16h00

Coordenador: Annabela Rita

Viriato Soromenho Marques
José Augusto Bragança de Miranda

SESSÃO | 29 DE NOVEMBRO

CASINO ESTORIL
CIÊNCIA, CULTURA E EDUCAÇÃO
16h00
Coordenador: José Tolentino Mendonça*

Guilherme d’Oliveira Martins
Mendo Castro Henriques
SESSÃO | 31 de Janeiro

CASINO ESTORIL
UNIDADE DAS CIÊNCIAS
16h00
Coordenador: José Eduardo Franco
Boaventura de Sousa Santos
António Nóvoa



SESSÃO | 28 de Fevereiro

CASINO ESTORIL
VALORES E PÓS-IDENTIDADES
16h00
Coordenador: João Relvão Caetano
Carlos Fiolhais
Moisés de Lemos Martins
SESSÃO | 28 de Março

CASINO ESTORIL
EDUCAÇÃO PARA A MORTE
16h00
Coordenador: Isabel Nery
Pe. Vasco Pinto Magalhães
Miguel Real
SESSÃO | 25 de Abril

CASINO ESTORIL
O GOVERNO DAS PESSOAS
16h00
Coordenador: Henrique Manuel Pereira
Paulo Ferreira da Cunha
Paulo Borges
SESSÃO | 30 de Maio

CASINO ESTORIL
NÓS PORTUGUESES
16h00
Coordenador: Amadeu Prado de Lacerda
Luís Salgado de Matos
Luís Filipe Barreto
SESSÃO | 27 de Junho

CASINO ESTORIL
O BELO COMO FUTURO
16h00
Coordenador: António José Borges
António Pedro Vasconcelos
Maria Manuel Baptista

*Nome sujeito a confirmação


O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO, UMA PEDRADA NA LÍNGUA PORTUGUESA

Texto recebido de Galopim de Carvalho, que devia ter saído no dia 27 de Setembro (as nossas desculpas ao autor e aos leitores): 


 Vasco Graça Moura (1942-2014)

Faz hoje, dia 27 de Setembro, seis meses que faleceu Vasco Graça Moura, um dos mais destacados intelectuais deste tão mal aproveitado rectângulo, palco da gula de uns tantos poderosos que, em termos de cultura e como diz o povo, não lhe chegavam aos calcanhares.

Referenciado como uma das vozes mais críticas do Novo Acordo Ortográfico, dizia, e com razão, que este apenas "serve interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo".

Ao justificar a minha determinação, tal como este ilustre cultor da nossa bela língua, de continuar a escrever segundo a ortografia agora oficialmente rejeitada, estou do lado dos muitos portugueses que contestam o dito acordo e que, como eles, me recuso a segui-lo. Ao evocar Graça Moura e a sua luta contra esta pedrada atirada à língua que tão bem escrevia, ocorreu-me trazer a estas minhas páginas elementos de um pequeno texto que circulou na net e, provavelmente, ainda circula. Meia dúzia de linhas, cuja autoria desconheço, evidenciam algumas das situações anedóticas e até ridículas do tão falado acordo que, em minha modesta opinião, revela a menoridade de quem aqui o aceitou adaptar a exigências externas e a opaca subserviência de quem o colocou em letra de lei.

Se, como alguém escreveu, a origem de muitas das palavras agora beliscadas na sua ortografia, «está, e bem, na Velha Europa, porque é que temos de nos submeter ao modo de escrever dos nossos irmãos do outro lado do Oceano?»…«Esta submissão - continua o mesmo texto - é um atentado à cultura portuguesa, incompreensivelmente perpetrado por intelectuais portugueses e, infelizmente, homologado por quem teve poder para tal».…«Quanto a mim, - diz, ainda, o autor do mesmo texto - à semelhança de muitos dos meus concidadãos, estou-me nas tintas para o acordo e vou continuar a escrever no português de Portugal».

 E esta mesma contestação não pára de se manifestar por respeitados utilizadores da língua portuguesa escrita, sendo frequentes as declarações de rejeição do dito acordo.

Comentando estas opiniões com um compadre a viver no Alentejo profundo, ele foi lesto no expressar do seu sentir. Homem erudito, mas marcado por uma rusticidade que nunca o abandonou, exímio conhecedor da língua portuguesa, disse, usando da simplicidade e da frontalidade, que caracteriza os meus conterrâneos.

 - Olha, compadre, no que respeita a esse maldito acordo, deixa-me dizer que me fartei de argumentar contra um tal dislate, usando os conhecimentos que acumulei ao longo de uma vida de estudo e tive do meu lado alguns dos mais ilustres conhecedores e utilizadores da nossa língua. Foi tudo em vão. Foi chover no molhado. Daqui em diante, quanto a este assunto, digo a quem me quiser ouvir que, obrigando-me a usar palavras de boa educação, me estou borrifando para o dito acordo, para os intelectuais que o conceberam e formalizaram e para os políticos que o aprovaram.

 Galopim de Carvalho

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

NOVAS CONFERÊNCIAS DO CASINO

Comunicado recebido dos organizadores:


Num momento de grande necessidade e urgência para o país, um grupo de cidadãos decidiu reeditar para o século XXI a experiência das Conferências do Casino do século XIX, então lideradas por Antero de Quental e participadas por figuras como Eça de Queirós e Adolfo Coelho, entre outros.

Assim, terá lugar no dia no próximo dia 2 de outubro, em Coimbra, no Espaço RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, no Departamento de Física da Universidade de Coimbra, pelas 18:30h, a sessão inaugural das Novas Conferências do Casino, subordinada ao tema Do Manifesto às Novas Conferências do Casino: Vamos repensar Portugal, reunindo oradores como Carlos Fiolhais, Dionísio Vila Maior, Eduardo Lourenço, Raul Miguel Rosado Fernandes e Ruy Vieira Nery.

As Novas Conferências do Casino são uma iniciativa promovida na sequência da apresentação pública do Manifesto Contra a Crise: Compromisso com a Ciência, a Cultura e as Artes em Portugal, no passado dia 29 de janeiro na Fundação Calouste Gulbenkian, que foi subscrito por numerosas personalidades, entre os quais os escritores Lídia Jorge, Miguel Real e Teolinda Gersão e o músico Pedro Abrunhosa. O Manifesto foi promovido pelo Movimento Letras Com Vida (CLEPUL – Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).

Encontram-se programadas oito sessões das Novas Conferências do Casino, sempre no último sábado de cada mês, às 16h, no Casino do Estoril, a partir do dia 25 de outubro de 2014, estando a última agendada para 27 de junho de 2015. As sessões pretendem contribuir para a criação de um espaço de debate cívico à volta de algumas das questões mais prementes da atualidade no que respeita à cultura, ciência e inovação em Portugal, acreditando que só o investimento continuado na qualificação das pessoas e a mobilização urgente de pessoas qualificadas poderão garantir o futuro desenvolvimento do país.

Nesse sentido, as sessões contam reunir algumas vozes representativas das mais diversas áreas da ciência e cultura portuguesas, como António Nóvoa, António Pedro Vasconcelos, Boaventura de Sousa Santos, Carlos Fiolhais, Guilherme d’Oliveira Martins, Luís Filipe Barreto, Viriato Soromenho-Marques, entre outros. Do debate de cada sessão ficará o registo de sugestões e propostas de ideias suscetíveis de serem concretizadas institucionalmente nas diferentes áreas da vida nacional, que serão transmitidas às instâncias competentes.


Mais informações em:
E através dos contactos 217 920 044/961 645 191 e letrasconvida@gmail.com.



NOVAS CONFERÊNCIAS DO CASINO - CARTAZ GERAL


(clicar para ver melhor)

NOVAS CONFERÊNCIAS DO CASINO - LANÇAMENTO A 2 DE OUTUBRO EM COIMBRA

SESSÃO INAUGURAL | 2 OUTUBRO, 18h30


Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho | Coimbra


Coordenação:  Annabela Rita | António José Borges | Dionísio Vila Maior | Isabel Nery | João Relvão Caetano| José Eduardo Franco | Miguel Real

Eduardo Lourenço*
Ruy Vieira Nery
Raul Miguel Rosado Fernandes
Carlos Fiolhais 

* A confirmar

NOITE DOS INVESTIGADORES EM AVEIRO

Na sexta feira passada foi a Noite dos Investigadores em Portugal e na Europa. O programa Sociedade Civil da RTP2 esteve na Fábrica Ciência Viva. Ver aqui:

http://www.rtp.pt/play/p1490/e166851/sociedade-civil-2014


PORTA ESTREITA

"Porta Estreita" é o título de um documentário da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre as entradas em cursos de Medicina, que estreou no sábado na SIC Notícias. Aqui está um resumo.

A "AVALIAÇÃO" DA FCT NAS CIÊNCIAS EXACTAS E NAS ENGENHARIAS



Na sequência de análise anterior global dou agora informação sectorial sobre a falta de senso da avaliação das unidades de investigação da FCT. Escolhi apenas, de momento, duas "grande áreas", abrangidas por dois painéis: Ciências Exactas e Engenharias.


Os dois gráficos mostram no eixo horizontal o impacto da produção científica (medido pelo FWC, Field Weighted Citations) e no eixo vertical o número de publicações científicas.
Clicar para ver melhor.

 Um ponto vermelho no primeiro quadrante significa que um centro grande com muito impacto foi chumbado, levando a uma trágica destruição na área científica em questão.

Note-se que  este gráfico não analisa a justiça do processo avaliativo (para isso deveríamos ver artigos por investigador), mas sim o impacto negativo da avaliação em cada área de investigação específica, e nas universidades a que os centros pertencem.

A linhas horizontal em cada gráfico corresponde ao valor médio de publicações dos centros analisados nesse painel:  separa centros grandes de pequenos.

 Por outro lado, a linha vertical em cada gráfico corresponde a FWC=1, i.e., assinala a média internacional nas áreas de investigação em causa. Retirar o financiamento a centros com FWC>1 implica o fecho destas unidades que realizam investigação de grande impacto quando comparada com a média internacional da área em que trabalham. Não se compreende como é possível decretar o não financiamento de tantas unidades de investigação nestas circunstâncias através de uma avaliação feita à distância, por não especialistas que desconhecem a investigação realizada em Portugala partir de um textos, e sem a realização de visitas aos centros. Ainda mais gravoso é quando os centros reprovados apresentam um output científico muito elevado. Nestes casos a investigação do país e das universidades a que estes pertencem, fica seriamente afetada.

 Pontos vermelhos (centros chumbados) no primeiro quadrante da área de ciências exactas: CFisUC (UC), CF-UP-UM (Porto/Minho), QOPNA (UA).

Pontos vermelhos (centros chumbados) no primeiro quadrante da área de engenharias: IT (UL), CMUC (UC), TEMA (UA).

Perante isto, é um desplante o chair do painel de ciências exactas, ao fazer uma visita de inspecção a centros que não são da sua área de especialidade (as visitas, por manifesta falta de gente, estão a ser feitas recorrendo a não especialistas!), ter felicitado esses centros por terem passado à segunda fase. Depois de, contra toda a lógica, eliminar sumariamente alguns,  acha que é de bom tom felicitar outros que, por enquanto, sobrevivem...

MICHAEL PORTILLO NOS COMBOIOS ESPANHOIS

Enquanto não chega a apresentação de Michael Portillo dos comboios em Portugal ei-lo no programa da BBC apresentando uma viagem de comboio em Espanha, entre Madrid e Gibraltar. Portillo é um político conservador filho de um espanhol, republicano exilado, que casou com uma escocesa.

"MEU DITO, MEU ESCRITO": O LIVRO DA MARIA DE SOUSA APRESENTADO NO IPATIMUP


SESSÃO DE LANÇAMENTO - CONVITE
Apresentação do livro
Meu Dito Meu Escrito - De Ciência e Cientistas, com um monólogo da caneta de Maria de Sousa | IPATIMUP | Porto 

Tema em discussão - «Futuros e Desafios na Ciência: Ouvir os novos com ouvidos cansados. Ou um encontro de velhos e novos sangues para a continuidade da estrutura de um país científico» | IPATIMUP | Porto

Depois de um período em que muito se fez pela Ciência, em que as instituições e os investigadores portugueses cresceram e ousaram bater-se com os melhores, a Ciência em Portugal vive hoje dias de enorme fragilidade financeira, indefinição e de políticas descontinuadas.

Na sessão de apresentação do livro da Professora Maria de Sousa, Meu Dito Meu Escrito - De Ciência e Cientistas, com um monólogo da caneta, que terá lugar no Auditório do Ipatimup (Rua Dr. Roberto Frias, s/n, Porto) no dia 30 de Setembro, a autora e o director do Instituto, Professor Sobrinho Simões, acompanhados pelos responsáveis por outras instituições de ensino e investigação, propõem que ouçamos investigadores entre os 30 e os 40 anos falarem sobre o futuro da investigação científica em Portugal e sobre o que esperam vir a ser as suas vidas como investigadores nos próximos 20 anos.

O êxito das universidades norte-americanas no ranking mundial e a notável contribuição da filantropia, a deficiente investigação nas empresas portuguesas e a fragilidade do mecenato são temas que estarão em debate.

Destacamos também a participação do ex-reitor da Universidade do Porto, Professor Marques dos Santos, para falar da sua experiência de gerir interesses e ambições de centros de investigação dentro e fora das Faculdades; de Nuno Azevedo, para discutir o problema da filantropia nos dias de hoje (uma modificação do paradigma tradicional da caridade nas sociedades cristãs) e de Luís Portela, pela sua experiência na investigação biomédica e aplicação clínica na indústria farmacêutica.

A autora lança o desafio: «A questão que todos devemos colocar é se o país, como país, hoje, vai ter a coragem de se bater pelos mais novos, pelos que podem assegurar que Portugal vai verdadeiramente fazer-se respeitar pela Ciência e que entrará no grupo das Nações mais cultas».

Programa da Sessão:

30 de Setembro de 2014 – Auditório do Ipatimup

«Futuros e Desafios na Ciência: Ouvir os novos com ouvidos cansados. Ou um encontro de velhos e novos sangues para a continuidade da estrutura de um país científico»

14:15-14:45 - Introdução: Sebastião Feyo Azevedo, Maria de Sousa e Manuel Sobrinho Simões
14:45-16:15 - Futuros: Intervenções de Albino Maia (F. Champalimaud), Carla Oliveira (Ipatimup), Luisa Pereira (Ipatimup), João Relvas (IBMC), Bruno Silva Santos (IMM) e Miguel Soares (IGC)
16:15-16:30 - Outros futuros possíveis: Artur Santos Silva
Café
17:00 - Continuação: Maria de Sousa e Luís Portela
17:00-17:15 - J. C. Marques dos Santos: Centros de investigação intra versus extra-muros das Faculdades
17:15-17:30 - Nuno Azevedo: Caridade - Um paradigma em mudança
17:30-17:45 - Luís Portela: O que se poderá (deverá?) fazer
17:45-19:00 - Discussão geral com a participação dos «Futuros» e de Directores de Instituições Universitárias e de I&D

ENTRADA LIVRE

AS PLANTAS TRANSGÉNICAS JÁ CHEGARAM À NOSSA MESA?


Quarta-feira, 1 de Outubro, pelas 18h00, no espaço Rómulo de Carvalho Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra.

As plantas geneticamente modificadas, vulgarmente conhecidas por plantas transgénicas, são um assunto actual e polémico. Juntamente com a energia nuclear, e a clonagem de animais são, talvez, o assunto científico mais discutido pelo cidadão comum, mesmo por aqueles que não percebem nada do assunto.

Obtidas pela primeira vez no início dos anos 80, as plantas transgénicas são cada vez em maior número e as suas características são cada vez mais diversificadas. No último ano (2013), a cultura destas plantas, em termos globais, atingiu perto de 200 milhões de hectares, sendo os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina, os principais produtores. Na Europa, existem alguns países onde a cultura de plantas transgénicas é realizada, entre os quais  Portugal. No entanto, devido a uma legislação absurda e irrealista, a cultura de variedades transgénicas em território europeu, quando comparada com a produção global, pode considerar-se residual.

Apesar de a cultura e comercialização de plantas transgénicas ser já considerável, não se registou até hoje nenhum problema de saúde pública ou ambiental com estas plantas, o que mostra como os receios que elas provocam são infundados. No entanto, continuamos a assistir à propagação de mitos relativamente a estas culturas, alimentados por alguma imprensa e organizações ecologistas mais preocupadas na divulgação de pseudociência do que no esclarecimento dos cidadãos.


O objectivo desta palestra é mostrar como são obtidas as plantas geneticamente modificadas, o que as caracteriza e fazer a sua comparação com variedades não transgénicas. 

Jorge Canhoto é professor do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Esta palestra insere-se no ciclo "A Ciência no Dia-a-Dia" organizado por António Piedade.

PREVISÕES VERIFICADAS

Em post aqui inserido - Previsões - previ a vitória do "Não" no referendo na Escócia e a vitória bastante clara de António Costa nas primárias do PS. Acertei nos dois casos. Quanto ao terceiro - a eleição no Brasil - e porque não posso acertar tudo, parece-me hoje que me enganei quando falei da possibilidade de vitória por uma unha negra de Marina: Dilma deve ganhar.

QUEM É O RESPONSÁVEL MAIOR PELA "AVALIAÇÃO" DA CIÊNCIA EM PORTUGAL?


Nesta altura ninguém tem dúvidas sobre as irregularidades graves da "avaliação" da ciência em Portugal feita pela European Science Foundation - ESF às ordens da Fundação para a Ciência e Tecnologia - FCT. Quem é o responsável maior?

Pois, como tenho dito, não penso que seja o Presidente da FCT nem a Secretária de Estado da Ciência e Tecnologia. O responsável maior é obviamente o ministro Nuno Crato que, alertado em tempo para o desastre que estava à vista, persistiu em não corrigir nada, dizendo que aprovava plenamente o que tinha sido feito e o que se continuava a fazer. Tal como a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, é a responsável maior pelo colapso do sistema informático que origina a paralisia do funcionamento dos tribunais (e não o chefe dos serviços técnicos ou algum Secretário de Estado da Justiça), assim também o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato é o responsável maior pelo descalabro do sistema de ciência e tecnologia português com o corte anunciado para metade dos centros (e não o chefe dos serviços técnicos ou a Secretária de Estado mais ligada ao sector). 

Agora que  já há uma denúncia (não anónima)  ao Ministério Público que aponta o dedo a numerosas irregularidades (outras serão denunciadas a seu tempo), o ministro que se cuide. Além de ter dado cobertura às irregularidades técnicas, ele é o responsável político. Ainda poderá, se estiver interessado em exercer plena e correctamente as suas funções, reconhecer os erros e corrigir a trajectória. A componente política pode ser mais grave do que a técnica. Tudo indica que esta "avaliação", sob a capa de um processo técnico, não passa de um processo político, assenta numa ideologia, realizado por um pequeno grupo, com o ministro à frente, que, desprezando o diálogo com os cientistas, se está aproveitar da sua  temporária ocupação do poder. 

SEGUNDA EDIÇÃO DE "BIBLIOTECA JOANINA"


Esgotada  a primeira edição de "Biblioteca Joanina" (de Paulo Mendes e Carlos Fiolhais) a Imprensa da Universidade de Coimbra já tem à venda a segunda edição, revista. A sgunda edição distingue-se por ter uma cinta com a indicação de "segunda edição"..

SEGUNDA EDIÇÃO DE "A HISTÓRIA DA CIÊNCIA EM PORTUGAL"


Quasee esgotada a primeira edição, a Arranha Céus está a ultimar a segunda edição da minha "História da Ciência" em Portugal. É uma edição revista: todas as gralhas encontradas foram corrigidas. A edição é feita "in memoriam" de Dóris Graça Dias, falecida em Agosto e que foi revisora da obra.


THE JOANINA LIBRARY AND THE ARRIVAL OF THE TRAIN IN COIMBRA


Some months ago I took part in a BBC documentary hosted by Michael Portillo about trains in Europe ("Great Continental Railway Journeys"). The film about Coimbra included an interview in the Joanina libary. Although it has not yet been aired but I leave here some of the answers I gave to BBC during the preparation:

Q- When was the Joanina library built – why  was it built, by who, what was its significance was?

CF- King’s John Library was built by the University, with royal permission, at the beginning of the 18th century – It was finished in 1728, just one year after the death of Isaac Newton (1727). Is is a temple devoted to Wisdom, celebrating the spirit of Enlightnment. The gold coming from Brazil was used not only to make an artistic masterpiece but also to fill up the shelves with books containing knowledge about the world. The decoration with Chinese elements refers to the enormous Portuguese empire, whose construction was a first wave of globalization. The volumes, some of them sent by Portuguese fellows of the Royal Society, contain not only the word of God but also the words the scientists could write about Nature. 

Q- Tell us a bit about King João...

 CF- The library should be the mirror of the King, whose portrait dominates the library.  The Library should exhibit the power of the King. John the 5th was contemporary of Louis XV and he tried in his way to be like Louis XIV, the King Sun living in the rich palace of Versailles. This was the time of George I and II in England. He was a cultivated man, a man who like to read, who appreciated astronomical observations and scientific experimentation. He was also very fond of art, he hired some of the best artist of his time, like the Italian music Domenico Scarlatti. 

 Q-  What were the connections with the Royal Society of London? 

 CF- It is a kind of paradox but at the time of Enlightnment the Inquisition was still strong in Portugal. Jews were being persecuted. There was also some political persecution made by the Marquis of Pombal, the prime-minister which took absolute power after the big Lisbon earthquake of 1755, the Jesuits, who were ruling the University. Therefore some Portuguese intellectuals, including professors, priests and noblemen, were forced to emigrate. Some lived in London becoming members of the Royal Society and were sending books, instruments and ideas to the country. 

Q- How this thirst for progress led in the 19th century to the building of the railways? How people thought that railways in themselves would bring progress? 

CF- The first half of the 19th century was a time of decline. Napoleon invaded Portugal (Wellington was here helping the Portuguese) and the royal family went to Brazil. There was a political change. In 1822 the first Constitution was approved and there was a civil war between liberals and absolutists. Brazil got independent also in 1822 changing the Portuguese economy. Only in the second time of the 19th century there was some peace and money to make material improvements. There was the time of railways and the telegraph. The first train appeared in Portugal in 1856 in Lisbon. Eight years later it arrived to Coimbra (1864) and some 32 years later (1877) to Oporto. In fact the first railway company has British capital, having been established in London. Its sucess was limited since it went bankrupt in a few years. A line was also connecting Lisbon and Paris, through Coimbra, the famous “Sudexpress”, which started in 1877.

Q-  How the railways were enormously important to bringing books and ideas to Coimbra?

CF-  Through this line lots of books came to the library, containing new ideas, novels of the Realism, the science of Darwin, the positive philosophy of Comte. Eça De Queiroz wrote: 

 “Coimbra lived then a great activity, or rather a great mental turmoil. By the railways, which had opened the Peninsula torrents of new things, ideas, systems, aesthetic, shapes, feelings, humanitarian interests… , broke every day, down from France and Germany (through France). Each morning brought a new revelation, as it were a new sun. Michelet arrived, and Hegel, and Vico, and Proudhon; and Hugo prophet and judge of kings; and Balzac, with his perverse and languid world; and Goethe, as vast as the Universe; and Poe, and Heine, and I believe already Darwin and many others.” 

The train also played a role in the modernization of the country, allowing quick travels to the interior and bringing goods tio regions which were isolated. The train as one iof the great symbols of progress. 6. How the educated liberal classes wanted change, but didn’t have the means to effect it. How that, together with the bankruptcies of 1890 and 1892 had a destabilizing effect on the country). A group of intellectuals in Coimbra thought they could modernize the country but they did not – among them the writer Eça de Queiroz – but they had later to confess that they failed. At the end of the 19th century the country was in bankrupcy and soon the monarchy would give place to a Republican regime. 

Q- Is it true that there are bats in the library? What is their importance to the library?

CF - There are indeed some bats in the library and they are friends of the books since they eat the worms which destroy books. We try to keep the ecosystem with the bats and, in fact, the books are in good shape!

A linha que separa a ciência da pseudociência


Extracto do livro "Pseudociência" de David Marçal, que está quase, quase a sair como ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos e que foi falado na Noite dos Investigadores no Rómulo em Coimbra:

 "Em 2002 na vila de S. Bartolomeu de Messines, concelho de Silves, no Algarve, algumas mulheres saíram para a rua e desnudaram-se da cintura para cima. Tinham sido contactadas por alguém que afirmava ser médica e que oferecia exames de mamografia por satélite. À hora combinada, “a que passava o satélite”, as mulheres saíam para locais descampados e seguiam as instruções ditadas por telefone. Primeiro uma mama, depois a outra. Às vezes era preciso repetir, porque o satélite não apanhava bem. Nalguns casos em três ou quatro locais, na esperança de melhorar a captação do satélite. A voz no telefone fazia pedidos bizarros e orientava dinâmicas de grupo que envolviam vários pares de mamas em simultâneo. À noite, a falsa médica telefonava novamente às pacientes para transmitir os resultados: tinha-as observado a tarde inteira com binóculos e afirmava ter tido vários orgasmos. Este embuste, tão simples e absurdo que se pode considerar caricato, apresenta pelo menos duas características habituais da pseudociência: o uso de linguagem científica (a suposta tecnologia inovadora) e uma figura de autoridade (a alegada médica). 

Há várias definições de pseudociência. Neste ensaio vou começar por socorrer-me de uma definição prática: pseudociência é qualquer tipo de informação ou actividade que se diz baseada em factos científicos, mas que não resulta da aplicação válida de métodos científicos. Claro que, para entendermos esta definição, teremos que saber o que é a aplicação válida de métodos científicos. Mas esse problema incontornável é a grande questão subjacente a este tema. 

O físico norte-americano Richard Feynman comparou a pseudociência ao “culto da carga”, um conjunto de rituais praticados por alguns povos das ilhas do Pacífico no final da Segunda Guerra Mundial. Nesses rituais, alguns indígenas imitavam os procedimentos dos militares norte-americanos nas bases aéreas, de modo a receberem, também eles, a “carga” transportada pelos aviões. Construíam pistas de aviação rudimentares e cabanas para o “controlador aéreo”, um homem com dois bocados de madeira na cabeça a imitar auscultadores e dois paus de bambu a imitar antenas. Feynman, no seu livro “Está a brincar Sr. Feynman” (Gradiva, 1988,) sugere que há uma analogia entre o “culto da carga” e a pseudociência: 

“Seguem todos os preceitos e formas aparentes da investigação científica, mas falta-lhe qualquer coisa essencial porque os aviões não aterram.” 

Na tentativa de imitar a ciência, a pseudociência copia a linguagem e os padrões estéticos normalmente associados à ciência. A razão pela qual os aviões não aterram, ou seja, o que falta à pseudociência apesar de toda a imitação que faz da ciência, são as provas. A ciência, ao contrário da pseudociência, assenta em provas e não em figuras de autoridade. 

Na origem desta confusão entre ciência e pseudociência está o desconhecimento das características da ciência e do método científico. Se soubermos bem o que é a ciência, mais dificilmente nos deixaremos enredar pelos delírios dos falsos controladores aéreos com dois paus de bambu a imitar antenas na cabeça. 

O desconhecimento das características da ciência resulta por vezes numa visão mitificada. Nessa visão, a ciência é erradamente vista como sendo capaz de fornecer solução para todos os problemas, infalível e imperscrutável. De algum modo é a ciência como uma espécie de religião, em que o conhecimento científico é apresentado como uma crença, validada por figuras de autoridade. Essa visão da ciência é o terreno fértil para semear ideias falsamente científicas." 

 David Marçal

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...