Em "tempos sombrios" - expressão de Bertold Brecht, retomada por Hannah Arendt - como são os que estamos a viver, como bem recordou o Professor Galopim de Carvalho em texto anterior, precisamos de palavras que não se limitem a explicar para compreender. Estas são importantes mas requerem a companhia de outras que as abanem, que digam o que a alma humana sussurra. Eugénio Lisboa conhecia-as bem e com elas fez sonetos como este que aqui se recupera.
Um filho da puta de sangue quente
e um filho da puta de sangue frio
distinguem-se instantaneamente:
este tem só tesão de calafrio!
O calor do sentir nada lhe diz:
destruir catedrais sem nada fremir,
por nada ver à frente do nariz,
nada, mas nada lhe faz pressentir.
O filho da puta absoluto simples
destrói cidades e vidas e arte
e cria tragédias dignas de Sófocles.
Invoquemos um raio que o descarte
e o entregue a um feio urubu,
que dele faça infame menu!
Eugénio Lisboa
1 comentário:
Realmente, é difícil sobreviver no meio de tanto “filho da puta”.
Enviar um comentário