quinta-feira, 13 de março de 2025

A AMEAÇA DO 2024 YR4


Meu artigo no ultimo As Artes entre as Letras (entretanto a probabilidade de colisão a zero!):

O 2024 YR4 é o nome do asteroide que foi descoberto no dia 27 de dezembro de 2024 por um telescópio no Chile, que faz parte de uma rede global de detecção desse tipo de corpos celestes chamada Asteroide Terrestrial-impact Last Alert System (Sistema de Alerta Final de Asteroides dirigidos para a Terra) – ATLAS, um acrónimo curioso pois Atlas era um titã da mitologia grega que tinha sido condenado por Zeus a segurar o céu. O corpo celeste, que descreve uma órbita bastante elíptica em torno da Terra, fez a aproximação mais próxima à Terra precisamente no dia de Natal, dois dias antes da descoberta: passou à prudente distância de 828 000 quilómetros, que corresponde a cerca de duas vezes a distância à Lua. Como o período orbital do asteroide é de cerca de quatro anos, voltará a estar próximo da Terra em 17 de Dezembro de 2028 e, novamente, em 22 de Dezembro de 2032. 

Problema: simulações computacionais baseadas nos dados da posição e velocidade registados até agora deram uma probabilidade de 2,2 por cento de colidir com a Terra (houve uma correcção em alta depois de um primeiro valor) em 1932. Não sendo nula, é uma probabilidade pequena. Mas houve quem ficasse apreensivo… O asteroide continua a ser seguido por um conjunto de telescópios, com o objectivo de obter dados mais precisos sobre as suas posição e velocidade de modo a fazer melhor os cálculos, sempre com base na mecânica de Newton. 

O 2024 YR4 é um corpo aparentemente rochoso, com um tamanho pequeno, mas que não se conhece exactamente. Estima-se, a partir da luz do Sol que reflecte, que tenha entre um diâmetro entre os 40 e os 100 metros. Convém aproveitar agora a possibilidade da sua observação, pois, a partir de Abril próximo, deixará de ser visto, excepto pelos melhores telescópios (como o Telescópio Espacial James Webb, que usa luz infravermelha), só voltando a ficar ao alcance dos nossos instrumentos baseados na Terra em Junho de 2028. Esses instrumentos podem tê-lo registado em imagens fotográficas automáticas antes de Dezembro do ano passado, pelo que os astrónomos estão agora a consultar os seus arquivos digitais para saber se há mais dados que permitam conhecer melhor a trajectória. A massa do 2024 YR4 também é incerta, mas, se tiver um diâmetro perto do limite inferior, de cerca de 50 metros, considerando a densidade normal dos meteoritos rochosos, deve pesar 200 000 toneladas. 

Em caso de queda na Terra, dá para fazer grandes estragos, não se podendo de momento saber qual será o sítio (o mais certo será, se cair, fazê-lo na água pois há mais água do que terra na superfície do nosso planeta). Sabemos que foi um meteorito, bem maior do que este, que causou a morte dos dinossauros há 66 milhões de anos, deixando uma grande cratera, hoje pouco visível dado o processo de sedimentação, no Golfo do México, que Trump quer renomear para Golfo da América. Essa cratera tem uns 150 quilómetros de diâmetro, o que aponta para um meteorito com um diâmetro entre 10 e 15 quilómetros. 

A maior cratera de impacto em território continental situa-se no deserto do Arizona, nos Estados Unidos – é, adequadamente, chamada Cratera do Meteoro. Tem cerca de 1200 metros de diâmetro e 170 metros de profundidade máxima, tendo sido causada por num meteorito com cerca de 50 metros de diâmetro, portanto semelhante ao que agora foi descoberto. Foi um choque violento, correspondente a dez toneladas de TNT, que fez o meteorito volatizar quase na íntegra (estima-se que o 2024 YR4 possa originar um impacto de oito toneladas de TNT). O evento do Arizona deve ter acontecido há uns 50 mil anos. Mais recentemente, a 30 de Junho de 1908, um misterioso objeto celeste caiu na região da Sibéria, no Imperio Russo, provocando uma explosão que destruiu uma grande área de floresta, mas, como não existe uma cratera, supõe-se que o objecto cósmico (um meteoroide ou fragmento de um cometa) tenha explodido na atmosfera, a uns cinco a dez quilómetros de altitude, devido ao atrito com o ar. O seu diâmetro é menor do que poucas dezenas de metros. No dia 18 de Maio de 1924 um meteorito iluminou de modo espectacular o céu português ao atravessar desde Badajoz até à costa do Minho. Não caiu qualquer fragmento, julgando-se que o bólide se tenha completamente desintegrado a meio do seu percurso na atmosfera.

Actualmente dispomos de tecnologia para desviar asteroides, embora não seja bem como em Armageddon, o filme de 1998 produzido e realizado pelo norte-americano Michael Bay, com os actores dessa mesma nacionalidade Bruce Wilis e Ben Affleck. Uma missão da NASA conseguiu, em 26 de Setembro de 2022, desviar a órbita de um pequeno asteroide, o Dimorphos, em órbita de um outro, o Didymos, que não ameaçavam a Terra. A missão, que pretendia apenas testar a tecnologia, chamou-se Double Asteroide Redirection Test (Teste de Redireccionamento de um Asteroide Duplo) – DART, um acrónimo que significa «dardo». 

Falta saber se, começando agora a preparar a missão, estaríamos a tempo de em 2032 evitar o pior na hipotética queda na Terra do 2024 YR4. E será que se justifica o grande investimento operante um risco tão pequeno? No caso de uma missão de destruição não ser possível, existe sempre a possibilidade de evacuar atempadamente a região da Terra onde o impacto seja previsto. O evento, a acontecer, será a uma escala apenas regional, mas a destruição pode estender-se até 50 quilómetros do centro da colisão, o que é ameaçador para uma cidade. 

Para já existe um aviso não à navegação, mas sim à astronomia, solicitando que seja feito um seguimento do asteroide. Maior precisão dos dados poderá deixar-nos respirar fundo, como, noutros casos, já aconteceu no passado


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